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terça-feira, 1 de maio de 2012

FERIADO SEM VOCE

Tudo sem graça, eu procuro uma razao, uma desculpa, uma finalidade para levantar.  Olho em volta da cidade, que amanhece lentamente e raios de sol iluminam o Rio Sergipe, e vejo da janela de seu quarto.  Minha vontade é mergulhar num daqueles raios que se fundem a água e quem sabe nas profundezas de mim, e do rio-mar sem fim eu encontre respostas para dias como esses.

Novamente me aconchego em suas almofadas e uma a uma lembro do dia e do que fazíamos ao tirar cada uma das fotos. Em todas, era como se fosse feriado para gente. A gente estava feliz e só tinha esse compromisso:ser feliz.

Você tinha cara de feriado. Cara de dia alegre, de dia esperado. Cara de dia comprido, que a gente não quer que acabe, dia que começa na véspera quando dormimos mais tarde e já começamos o descanso ou o ritmo acelerado da diversão. Dia que a gente se aninha na cama, que se espreguiça com mais vontade. Cara de dia que não tem pressa, e embora você tivesse pressa em viver, você não era estabanado em fazer as coisas, você tinha calma, era perito na arte manual, em pequenos movimentos que exigiam concentração e destreza.

Você tem cara de feriado Rafa e gosto de feriado.  Gosto de comer uma comida gostosa na rua, ou de arriscar a predileta em casa, ou da novidade, fazer um novo prato, ou da reunião, é um dia que buscamos a família, os amigos.  

Você tinha cheiro de feriado, daqueles que a gente espera para arrumar a gaveta, organizar as coisa, diminuir as pendencias e no fim da arrumação a gente fica com a sensação de dever cumprido, com uma coisa que fazia bem aos olhos e ao olfato. Cheirava bem, cheirinho que você tinha, e que nestes dias, que não tínhamos pressa, parece que você caprichava mais na quantidade do perfume, do gel, do tempo no banho, de pedir deitando no colo para limpar os ouvidos.

Você torcia pelos feriados. Como esperava cada um deles, mesmo que não tivéssemos nada para fazer, você inventava, descia para a coca-cola com Ítalo, ia lavar o carro, insistia para ir ao Saco, inventava o shopping, a praia, ou qualquer outra coisa que fizesse o dia parecer interminável...como achei que você seria.

Lembro muito de você nos feriados, porque feriado tem gosto de lanche de fim de tarde, dos nossos bolos de ovos com refri (mas tinha que ser de ovos mesmo, bem fofinhos, lá da padaria perto da casa de sua avó ou de onde morávamos), dia de fazer rabanada, dia de você usar a fritadeira e deixar a semana eu enchendo seu saco porque você não guardava, dia de pedir pizza a noite ou de ir pegar um pastel na orla.

Lembro de que mesmo quando não podíamos fazer nada de extraordinário pelo nosso limite financeiro, sempre era especial, tinha sempre uma coisa diferente, nunca ficamos de bobeira o dia inteiro e esperamos a folhinha virar, como quando eu permiti que fossemos roubados um do outro.  Tenho saudades filho de nossos feriados.

Esse ano, provavelmente neste feriado você não estivesse comigo, para comemorar a maioridade de um dos seus melhores amigos, como em outros anos em que você teve a permissão de estar com ele em Boquim, e sei que se divertiu muito, apesar de minhas relutâncias e inquietações, ainda bem que você curtiu isso, fez amigos, foi feliz.

Feriado sem você, nem tem porque então hoje lembro com saudade de nossos feriados e do vazio que minha vida toma quando não o tenho para planejá-los, para dividi-los, mas no meu coração eu finjo que todos os feriados comemoram a sua companhia, meu maior presente.


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