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segunda-feira, 21 de maio de 2012

TENTANDO...

Eu poderia resumir estes ultimos 12 meses de ano das tentativas. Tentei muitas coisas. Algumas voluntaria e a grande maioria e por um bom tempo, de forma obrigatória.  Eu fui obrigada a continuar. Estou tentando continuar...

Tem coisas na vida que desde que eu tive vontade eu tentei e não consegui, tais como: ter um excelente desempenho físico, tentei ser uma atleta em destaque, mas nunca passei do cenário local com um investida rápida em ser interestadual, morri na praia. Tentei ter aptidão para corrida, nunca consegui, nem nos testes de condicionamento físico para acompanhamento médico, entrego os pontos quando o negocio começa a pesar. Tentei também passar em outro concurso melhor que o meu, fico nas pontas e quando sou chamada, alguma característica do novo emprego não é melhor que o atual, então continuei tentando. Tentei também dividir mais minhas apreensões e preocupações com os mais próximos, mas só conseguia ser transparente com Rafa, ele me conhecia quer eu falasse ou não, dele eu não precisava esconder, maquiar, camuflar...eu podia ser eu e pronto.

Tentei também cumprir os planos que ponho na agenda, a grande maioria é sempre adiado. Ultimamente minha aflição vem por coisas menores, mais eu tenho medo de levar o resto da vida tentando. Tentei dormir esses dias todos, sem remédios impossível, e com eles quando o sono vem é de uma qualidade tão ruim que acordo como se não tivesse descansado. Tentei sonhar novamente e ver quais de meus sonhos poderiam se realizar sem a presença de Rafael, não sobrou nenhum. 

Na verdade tenho medo de sonhar novamente...minha mãe me disse uma coisa, no dia do falecimento de Rafa, enquanto que só tínhamos a certeza no coração de que ele tinha partido, mas ainda naquela hora da madrugada, em sol ainda,  não havia confirmação oficial de seu falecimento, e eu queria ir para a BR para ver, para saber, para confirmar o que meu coração dizia, para orar  impondo as mãos suplicando um milagre, mas veio a duvida se devíamos ir ao Hospital, já que um Rafael foi trazido para o hospital ou para o IML, e eu nem pensava em Hospital, mas ela dizia, filha se prepare para o pior porque se for o melhor a gente não se decepciona, do que você ter esperança e ela não se confirmar.  Acho que isso ficou impregnado. Espero não dormir, espero não sonhar, espero não voltar ao normal, espero coisas ruins porque se as boas vierem eu não criei expectativa.   Ou uso a técnica que a Nely, que havia perdido o marido uns 20 dias antes de Rafa partir, que sabiamente disse, viva um dia depois do outro, viva o dia, sem planos, viva e aos poucos Deus te direcionará.

Nas minhas tentativas dei tanta cabeçada, e fui surpreendida algumas vezes esperando o pior, e ele não veio e nestes dias eu via Deus agindo, não que Ele não agisse em outros, mas é tão difícil enxergar qualquer coisa além da dor.  Nas minhas tentativas, fiz receitas que outras mães que perderam filhos também tentaram, e delas vem a maior parte do colo. Porque não nos conhecemos pessoalmente, ou quando isso aconteceu, de forma bem casual, parecia que eramos intimas, porque apesar de não sabermos nada, uma da outra, a dor nos iguala e nos aproxima de tal forma que parecemos íntimas. Neste sentido, chorar com as mensagens de Marcia (maesefilhoseloeterno.blogspot.com), e num abraço silencioso trocar carinho com Neide (mãe de Rafa Bispo) ou ver a quantidade de mães que como eu, deixam mensagens nos orkuts, nos faces dos filhos, como se eles pudessem de fato responder, compartilhar ou curtir, fez-me perceber que todas nós tentamos de alguma forma continuar respirando.

Perdi meu filho único, com uma historia de vida tão linda, ele foi além do Rafa engraçado e amigo, do Rafa festeiro, do Rafa de presepadas e pegadinhas, do Rafa cheiroso, do Rafa carinhoso e educado, ou do Rafa chato quando pegava no pé de alguém, ou do Rafa pé de valsa, ou do Rafa do papo bom, da música boa, do conselheiro que costurava vidas rasgadas.  

Perdi um menino que podia ter perdido o rumo seguindo os passos trôpegos de parte de minha família, mas não perdeu o rumo; que podia dar mais atenção ao ter do que ao ser, mas respeitava o ser em sua essência em detrimento ao ter, aliás o que era dele, se favorecesse ao outro, ele dispunha sem pudor; que podia acreditar nos relacionamentos descartáveis mas construiu uma rede de amizades solida, cujos amigos cuidam de mim até hoje com carinho e atenção.  Era só um menino de 17 anos que via a vida como uma aventura linda.

Perdi um sonhador... Rafa era pequeno e já me dizia, com quantos anos casaria, quantos filhos teria, casa cheia, cachorro, gente correndo, amigos em casa, barulho vida, musica. Perdi um sonhador... que queria ganhar dinheiro sendo ético e profissional no serviço publico, querida ser delegado e tinha um senso de justiça tão aflorado. Perdi um sonhador...que sonhava conquistas pessoais compartilhadas com seus amigos, e fazia das conquistas deles suas próprias conquistas.  Perdi um sonhador...que sempre tinha um olhar otimista sobre qualquer quadro pessimista que eu lhe apresentava.  

Perdi o pequeno e gigantesco homem de minha vida, o   que me ensinou e me deu o amor eterno, incondicional,  e que nem a morte, nem a distancia, nem a saudade poderá separar.

Vivo tentando. Tentando sobreviver a sua ausência, meu amado filho.



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