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segunda-feira, 28 de maio de 2012

UMA NOVA INSPIRAÇÃO

Tenho revirado a gaveta de minha memoria, os armários de minhas lembranças, tentado truques novos e buscado um jeito de olhar para vida e ainda achar que vale a pena, mas cada dia fica mais difícil, mais desafiador e menos interessante. Há anos que as pessoas falam que é o fim dos tempos, quantas teorias apocalípticas foram surgindo e quantos defensores, mas continuamos aqui...respirando esse mundo caótico.

Dizer que a vida é bela e que deve ser desfrutada em plenitude fez parte de um passado meu recente, mas ultimamente me sinto como se tivesse sido arrastada pelos meus dias, ou os dias arrastados por minha vida.


Fico pensando, e aí um ano sem Rafa, vai fazer o que? Esperar mais o que? Levantar para que? Desfrutar como? Sinceramente você acha que vai ter graça de novo?  E eu ou não tenho resposta para nada, ou acho que não vai ter graça mesmo.


É assim, eu me vejo como numa competição, daquelas que você joga de dupla, mas os juízes permitem que a um dado momento da competição você jogue sozinha. Então eu vinha com a minha dupla, e não que a gente tivesse ganhando os jogos, não perdemos muitos, mas nos divertíamos jogando, era prazeroso, era necessário, era desafiador e um não tinha vontade de desistir para não frustrar a vontade do outro.  Muitas vezes eu tive vontade de desistir de uma ou outra coisa que inventava fazer, mas a mensagem que eu queria passar para Rafa era, pense bem antes de começar qualquer coisa, mas depois que começou faça o seu melhor, não deixe as coisas pela metade...eu achava que isso pudesse facilitar suas escolhas e decisões e acima de tudo suas atitudes.


Quantas vezes eu quis desistir de determinada proibição alimentar, ou comer escondido dele, mas não estava junto, se ele não podia, eu também não, cortava aquilo da casa, até ele ter idade de entender os malefícios e força de vontade consciente para não consumir. Lembro que eu não aceitava essa regra, quando meu irmão não podia e por isso, eu também era proibida, achava injusto a comparação, mas reproduzi, era mão e filho, acho que mais fácil do que se fossem dois filhos.   Rafael cresceu sem balas, chocolates, nada de morango ou vermelho, um tempão sem catchup em casa, eu muito tempo sem consumir, nem fazia falta. Outro dia comprei aqui para casa, coloquei no carrinho lembrando dele, como ele amava e foi privado, numa época que ele comia tudo com catchup, arroz, cuscuz, biscoito, era uma loucura.


Voltando para a competição, os jogos foram ficando difíceis e começamos a perder muitas partidas, mesmo assim continuávamos porque um dava força ao outro. Digamos que no período do falecimento de Rafa era a fase de classificação e ali não consegui classificar a dupla para a fase seguinte. Mas havia a possibilidade de continuar no jogo...sozinha. E eu fico me perguntando...valendo o que? Não tenho prazer em jogar, não vale mais nada, só o esforço de se fazer presente durante o jogo, e por mais que faça o melhor, enquanto eu não entender o sentido do jogo, fica cada vez mais difícil me preparar para jogar.


Ultimamente, eu até me obrigo a tentar me arrumar para o jogo, mas tem sido tão difícil enfrentar a quadra, eu fico semanas tentando colocar em pratica um único objetivo, tipo, tirar um extrato, por o carro para lavar, comprar produto de limpeza para casa, marcar dentista, voltar no oftalmo, ver o caroço nas costas no dermatologista, levar o presente de minha chefe, ou, simplesmente, contratar alguém para levar a sala antiga, empilhada há 03 meses na minha cozinha.  Cada dia me proponho a tentar qualquer uma dessas coisas, mas conseguir deixar o corpo na vertical tem sido um suplicio.  


Até para as coisas de Rafa...eu sinto que também levo mais tempo para fazer. Desde o aniversario dele, que não consegui furar a parede, é só um furo para pendurar o violão ao lado da guitarra.  Comprei maquina nova, naquele período e a broca veio com defeito, a autorizada trocou, mas meu ombro estava bem inflamado e não fiz naquela semana...nem tive forças para fazer nas semanas que se seguiram até a presente data.  Escrevo aqui, sempre no final do dia, com um esforço tremendo. Voltei a não conseguir concentrar-me em nenhum programa de tv ou filme completamente...e ultimamente não abro a cortina do quarto, já que vejo amanhecer todos os dias, a avenida encher as pessoas se deslocarem para os trabalhos, as sirenes das escolas tocando, as buzinas, e dão seis, sete, oito horas da manha, e o sono não vem.


Estou cansando do remédio sem efeito, da dor sem descanso, do vazio sem preenchimento e do jogo sem proposito. Um dia acordo e digo...vou viver para honrar a memoria de meu filho...no outro eu me arrasto para o fim do meu mundo e imploro, vasculho, eu me desarrumo, eu me desalinho, em busca de uma nova inspiração.

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