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quarta-feira, 23 de maio de 2012

O QUE APRENDI EM UM ANO

Aprendi em um ano, o ano que Rafa ficou distante de mim - um ano desde o dia em que o Pai o chamou - que a vida pode ter outros significados, mas jamais será ou terá o mesmo que tinha quando ele chegou em minha vida, e nos anos que sucederam sua participação ativa e real nela.


Aprendi, ao longo deste doloroso processo, que religiosidade e religião, ou igreja não salvam ninguém, e que não é porque estamos dentro de qualquer uma dessas redomas, estamos melhor. Não estou dizendo que ter uma religião e participar de uma igreja não é importante, não, só estou afirmando que dizer-se isso ou aquilo e perceber-se como integrante de uma igreja não lhe garante, em absoluto, um lugar no céu. O quinhão no céu não se compra com religiosidade.


Aprendi que o alegrai-vos com os que se alegram é mais fácil que chorar com os que choram. Nunca vi ninguém muito feliz, alegre, rindo e contagiando tendo amigos e parentes dizendo, cara pare de rir, deixe de ficar alegre, já está na hora, aliás já passou da hora, sua alegria está incomodando, e também nunca vi ninguém comparando alegrias, fulano também fez isso e riu apenas 23 dias, e cicrano também passou por isso e já retomou a vida. Não nunca vi ninguém deixar de se alegrar com os alegres ( a não ser que tenha inveja, ou falta de juízo, os egoístas devem agir assim). 


Mas a segunda parte do versículo...chorar com os que choram. Quantos poucos ombros eu posso ter essa liberdade, sem ser cobrada, sem mandarem eu parar de chorar, ou de falar, ou de reclamar, ou de revoltar, ou de desabafar...a palavra de ordem é, ainda não voltou a trabalhar? Ainda não isso? Ainda não aquilo? Porque não faz isso para parar de sofrer? Não você vai isso, vai aquilo mas não pode ser assim, não pode continuar desse jeito, Deus não quer isso, Deus quer...cansam.


Aprendi que as pessoas vêem, mas fazem que não. A gente passa a ser notada, mas vira invisível. Assim, não tem coragem de falar com você de dar um abraço, nem precisa falar nada (tem coisas que nem é bom mesmo falar), aí assim que você sai de seu campo de visão, você percebe sendo apontada, sendo comparada e julgada.  No inicio isso me doía mais, hoje, nem ligo, porque nem saio, ou fico muito só, resolvo as coisas com pressa, olhando para o chão e volto para o lugar onde minhas regras, meu choro e minhas inquietações tem liberdade para serem expressas. E se por acaso estou em companhia de amigos e tentam impor as regras, não vai falar mais disso, ou daquilo, ou de determinada coisa...entendi. Estou cansando também, outros assuntos precisam vir preencher a lacuna...mas não vai, porque ainda não é hora de encher, estou sendo esvaziada.


Aprendi que embora eu tenha muita coisa para falar, nem sempre devo, porque não vai diminuir a dor que faz morada em mim, mas também não posso engolir todas as coisas porque a capacidade emocional está comprometida. As coisas perdem a urgência, a importância e o sentido, mas continuam ali se fazendo parecer urgentes e o tempo que levamos para controlar tudo isso, causa-nos muito sofrimento.


Aprendi que no escuro do seu quarto, enquanto caça um sono numa nuvem qualquer, você é mais miserável do que todos os outros pobres mortais, porque você precisa de ajuda, mas no inicio está tao revoltada com Deus que não suplica e quando busca fazer as pazes, tem tantas mazelas acumuladas que os resultados demoram a acontecer...então você se dá conta que o tempo inteiro era você e Deus.


Aprendi  que a tribo de alienígenas, mães que perderam os filhos, é maior do que imaginávamos. Chamo de alienígenas, porque outro dia, numa dessas madrugadas em que ando pela casa buscando o sinal, porque sinto o cheiro ou tenho a sensação de que ele voltou, eu volto para o quarto rindo, e me sinto uma alienígena, tentando manter contato com outro planeta, com outro mundo, porque as vezes o meu mundinho fica pequeno demais para minha saudade.


Aprendi um novo significado para a palavra saudade: RAFAEL.  Só não aprendi ainda como conviver em paz com essa saudade, e espero não ter muito tempo para aprender.  

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