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domingo, 6 de maio de 2012

EU TENHO MEDO QUE NAO PASSE

Ontem (sábado, 05/05) eu sai rapidamente de casa, antes de minha hora de almoço, que pode ser das 13 as 18 horas quando realmente como alguma coisa, comprei comida (sempre lanche, porque sozinha ainda não consigo almoçar ou jantar, então sempre belisco) e voltei para casa. Ontem eu nao tinha animo para nada, programei sair varias vezes, em vão. Noite em claro, e mais um sabado ficou para tras. Fim de semana sempre mais dolorido, mas o domingo é invencível. 

Tem domingos que até o banho é complicado. Lembro de uma epoca em que o banho aos domingos depois da praia, banhos que dava em Rafa, os que tomavamos juntos ou quando ele pedia para usar o meu banheiro. Então quando lembro disso, até o banho é muito sentido. Depois porque o domingo foi o ultimo dia que falei com ele, e porque as madrugadas dos domingos são costumeiramente deprimentes pois anunciam as segundas, dia de sua partida. 

Hoje é o domingo que antecede o dia das mães. Nao sei quantas propagandas eu vi, mesmo no canal fechado de tv. Em todas chorei. Meu Deus por que tudo tem que doer desse jeito? Por que maio? Por que no mes das maes? Por que eu ainda estou aqui? Por que ter perdido? Para que? As pessoas nestas horas dizem que Deus vai usar essa dor e para que eu venha ajudar outras mães. Legal, não é? Voce dizer para uma pessoa, olha eu vou te torturar para voce poder ajudar a outras vítimas de tortura. Ou então eu vou te estuprar, para você ajudar a vítimas de estupro, ou ainda eu vou te contaminar com uma doença contagiosa para você ajudar a pessoas que terão essa doença depois. Loucura esse juízo de valor, não? Até pode ser verdade, mas dói tanto.  Por que alguém precisa aprender sobre isso a partir da dor do outro?

Sabe Deus, não é que não Te ame, é que vai fazer 01 ano e nao entendi ainda o sentido. E fico muitissimo chateada com a normalidade com que as coisas se assumiram ou foram assumidas na vida dos outros e comigo não. Eu não estou em paz com nada. Quanto ao comer, o vestir, o fazer, o querer, o planejar...tudo foi alterado. 

Sexta-feira eu assumi um compromisso com o pai de um amigo de Rafa, e pelo carinho e atençao com os quais sempre trataram meu filho e por Rafa que sempre se propunha a ajudar, eu quis atender o convite. Eu sei que eu estou em algum lugar dentro de mim, mas nem eu sei onde eu estou. Nestes convites, antes eu sempre falava de Rafa, todos os meus exempos eram sobre Rafa. Hoje, percebo que virei a mortiça da familia Adams, só falo de morte. Morte, caixao, luto, cemiterio, perda, vazio, tristeza. Eu tive consciencia pela primeira vez nao falei dele, nao falei o nome dele. E doeu demais. 

Hoje nao consegui sair de casa. Troquei de roupa tres vezes, mas cada vez que ensaiava sair a propaganda do dia das maes de qualquer produto me impedia de continuar querendo fazer outra coisa que não fosse ficar de cama, chorei com propaganda das Casas Bahia. E então, desisti.  Fiquei em casa, e percebi que estou com medo. Medo de que isso não passe. 

Fim de noite, eu sempre vejo um pouco do Pânico, porque chegávamos depois do lanche da Igreja e Rafa sempre chamava para eu ver qualquer coisa engraçada no quarto dele. Era um momento só nosso. As vezes eu assistia o resto do programa com ele na cama dele. Hoje passou cenas de Cancún. Filmaram na porta do Coco Bongo. Que saudades. Nesta casa de show/boate só entravam maiores, mas conseguimos duas autorizações para menores acompanhados pelos pais e lá fomos. Os meninos, recém-conhecidos de Rafa estavam empolgadíssimos, o show maravilhoso, um mini show da Brodway, perfect. 

Rafa nem cabia em si, e ele era quem mais enjoava a nossa guia para conseguir as autorizações. E os outros pais condicionavam nossa ida a minha permissão, eu acho que eu era a mais dura do que eles. Topava tudo de dia, pular de cachoeira, nadar em mar aberto, nadar com tubarão, mergulhar com tanque sem treinamento...de dia eu achava que podia salvar Rafa de qualquer coisa, mas a noite, boate, isso não. Mas neste dia eu liberei, era a última noite, e obvio fui com eles. Rever os lugares, a faixada do hotel, a entrada da boate...calou fundo e fiquei pensando...e se nunca mais eu ver Rafa? 

Só então me dou conta de que o que ainda me mantem respirando, não é a possibilidade de ajudar a ninguém com minha experiencia de dor, mas é a esperança de ve-lo de novo, e hoje vendo a propaganda das crianças cantando uma musica que Rafa e eu cantávamos muito, lembrei de meu primeiro dia das mães convertida. As crianças que formavam o coral da igreja prepararam uma homenagem para as mães. Nós tínhamos cinco para seis meses na igreja, e as crianças cantaram e no meio da musica uma só criança cantava e depois todas a acompanhavam. E isso acontecia duas vezes na musica. Eram dois cultos. Quem cantou? Meu filho, foi uma surpresa, ele não falou nada, não desconfiei. 

Chorei tanto, e só hoje lembrei disso, e fechei os olhos e pude ouvir novamente sua voz ainda de criança cantando. Estou com medo...de nos próximos anos não lembrar dessa voz. Estou com medo de ter medo do dia das mães.

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