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sexta-feira, 29 de julho de 2016

O valor do beijo

Fico muitas vezes, ou o tempo todo me perguntando o sentido real da vida. 
Fico questionando coisas loucas, tipo, por que mesmo a gente precisa passar por isso tudo? 
Óbvio que quando as coisas são boas, e nos tornam felizes, esses questionamentos são mais espassados. Mas quando me deparo com a felicidade do outro, e a pessoa não consegue perceber o quanto abencoada é, eu fico questionando a Deus.
Será que eu era assim? Achava normal demais ter tudo, e não era grata? Será que a dor me fez ficar mais impaciente com a indiferença alheia?
Não sei...
Todavia hoje eu me pergunto, que sentido isso pode ter? 
E quanto mais  busco  o sentido do meu vazio, mais me esvazio quando vejo pessoas cheias sem dar valor às coisas que merecem ser valorizadas.
Ontem num almoco em família, meu avô irritado com as decepções familiares com filhos me disse, "é Annalu você nem sabe o quanto é difícil ter família...(no sentido do trabalho e desgosto que as vezes família dá, e o meu avô  ja perdeu filho, ja sabe um pouco dos desertos da vida com seus 80 e alguns anos).
Eu simplesmente respondi..."e o senhor não sabe o que é perder ela inteira."
E ele suspirou, dizendo engasgado..."é verdade. É pior mesmo."
E começo minha segunda-feira vendo o descaso reinar, e presencio a indiferença,  e a pessoa não valorizar os filhos que tem. 
Qual será o sentido para que eu veja tudo isso?
Hoje só enxergo um: morrer de gratidão a Deus. Agradecer, agradecer, agradecer.
Perdi tantos filhos, aliás perdi todos que não pude gerar e o que gerei perdi tambem. Mas ele conseguiu ficar do meu lado por 18 anos com o período de gestação.
Apesar de todas as ameaças de perda, estava lindo, foi lindo todo tempo, nasceu inchado, enrugado, mais de nove meses sendo só meu, cinquenta e um centimetros, três kg e 350g, mas tinha nascido com um problema grave, severo, crônico e letal...que os médicos não  disgnosticaram a tempo: seu coração não  cabia dentro do peito.
E com ele aprendi maternidade. E com seu amor pelo outro e pela vida, aprendi a: ser gente, a difícil arte de perdoar, de crescer, de conciliar, tudo que ele fazia com maestria.
Crescer com ele foi a minha melhor recompensa.
Senti alegria em cada dia da escola. Sabe aqueles dias estressados de manhã . Que voce está  de mal humor, atrasada, que o filho não come, que deu trabalho para levantar, que como você não tem empregada, e não  deixou separado a farda com antecedência, falta o par da meia casado, ou hoje é dia de educacao fisica e o short você está  passando, a blusa limpa é a que ele não gosta do tipo de malha e a que está molhada é a que ele queria usar,  você quase precisou derrubar a porta do banheiro para ele sair do banho, ou ele não  fez o que você pediu e está  atrasando mais ainda, ou o dever ficou faltando uma questão que não  deu para acabar ontem e quando você vai olhar ele fez errado, ou ele fez o trabalho que teve duas
semanas de prazo e deixou para imprimir na hora da saída...sabe aqueles dias que você está  chateada, aqueles que se você pudesse não  cumprimentava o mundo. 
Eu tive dias assim e mesmo naqueles dias, em todo o tempo de sua vida...eu tinha direito a beijo de despedida de Rafa na escola. 
Mesmo quando já  aos 17 anos, nenhum dos outros faziam com naturalidade, eu tinha o beijo sem a vergonha e na porta da escola. E ainda tinha o pedido de bênção a noite, antes de dormir.
Qual o sentido? 
Ontem me disseram "Deus não roubou Rafa querida, Deus só o levou. "

Embora eu saiba que sim. O sentimento não  é esse. 
E me pergunto...Por que ela -mae que não valoriza a benção de filho que tem -nao enxerga? 
Eu nunca imaginei que pudesse acontecer comigo. Perder filho. Perder beijo na saída da escola. Perder ele entrando em casa e dizendo: "mãe , cheguei. Coroa tem o que para comer?Coroa to com fome. Mae qual é a boa de hoje? vamos para  onde?" 

Perdi tudo isso. Perdi beijos de todo o tipo, em toda hora e em qualquer lugar. Perdi beijo no rosto quando chorava no cinema. Perdi beijo na cabeca quando chorava num culto. Perdi beijo no ouvido quando queria me arrepiar. E perdi selinho ou beijo na mao com a marca de batom....nosso registro.
E mesmo assim sofro por todos os beijos que não  dei. E recebi beijos todos os dias de minha vida ao lado de Rafa.
Não  conheci no mundo ninguem mais beijoqueiro que ele. 
Mesmo grande, a gente estava sei la...na mesa da casa de praia, vinte cadeiras, 12 ocupadas e oito, eu disse oito vazias, ele vinha e sentava em meu colo. E dali a pouco quando eu reclamava do peso, eu ganhava beijo.

Sábado eu conversando pela manhã  com minha mãe e minha irmã, e dizendo eu acho que hoje beijo mais do que beijava Rafa...e falava isso chorando, e minha mãe dizia não filha...você beijava ele sim e muito...é que ele beijava mais que todo mundo.

Sinto falta filho de te beijar e de teus beijos.
Mas fico buscando o sentido de mães não  fazerem questão dos beijos de seus filhos.
Hoje meu filho beija o Senhor...e as suas lembranças são como beijos suaves de Deus em minha vida.
Foi só um desabafo...hoje doeu mais.