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quinta-feira, 10 de maio de 2012

NAO CABE NA REDOMA

Todas as mães devem pensar assim em algum momento de suas vidas, ou de fato tentamos, sem sucesso, por quase todo o tempo, mas sempre nos questionamos sobre como protege-los, sobre como colocar nossos filhos numa redoma.

A gente protege de frio, de calor, de mosquito, de doença, de brigas na escola, de gritos de professores, de mordidas de colegas, enfrenta a primeira mal criação com o amigo, consola no choro da primeira menina que lhe dá um não, protege-os deles mesmos, de suas escolhas, de nossas escolhas erradas anteriores, para que eles não sigam nossos passos, protegemos da vida muitas vezes indecifrável, dura, injusta e violenta, mas não conseguimos protege-los da morte.

Mas achávamos que sim. Quantas historias de pais que doaram seus órgãos, que venderam tudo para minimizar o sofrimento de um câncer, de uma doença terminal, de um acidente.  Quantos pais que lutaram contra o trafico, contra as gangues. Quantos que foram submetidos a ver seus filhos morrerem em sua frente por um ato violento, mesmo tendo se oferecido para trocar de lugar. Quantas como eu, falaram com o filho pela ultima vez e eles estavam na cama, se preparando para dormir.Quantos estavam voltando para casa e nunca chegaram. Quantos saíram de casa e nunca voltaram.  Da morte, não livramos nossos filhos.

Engraçado, eu me perguntava todos os dias, já posso baixar a guarda, se ele tivesse problemas com drogas isso já teria acontecido; se ele tivesse problemas com definição sexual também já teria acontecido; se ele tivesse problemas de caráter também já tinha apresentado, se ele ...e testava todas as minhas hipóteses desenhadas nos medos de todas as mães. Nunca tive medo que ele não fosse feliz. É como se eu tivesse certeza que Rafa escolheria bem desde o emprego até com quem ia de fato construir sua família.   Eu precisei dizer apenas duas vezes ao longo de sua vida, não quero você andando com fulano e beltrano, por isso, isso, e isso. Não quero que os trate mal, só não tem permissão para trazer em casa nem andar junto. E fazia a vigilância, e Rafa entendeu sem maiores problemas.  As vezes, eu exagerava.  Tinha medo de tudo, só não tive da morte naquele fim de semana.

Acho que se a gente pudesse colocava nossos filhos numa redoma, e só com o tempo íamos descobrir que eles não cabem lá.   Eu achava que minha oração, meus conselhos, minhas palavras ou  minhas ordens eram a redoma de Rafa. Mas mesmo essa redoma, mesmo ela que eu já a considerava forte o suficiente para nos livrar dos nossos grandes medos quando temos filho, ela se quebrou naquela rodovia e não protegeu meu filho da morte.


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