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sábado, 19 de maio de 2012

O CORAÇÃO COMEÇA A FICAR MAIS APERTADO

É como os dias que antecedem o aniversário. Eu de fato desconheço alguém que não ligue para seu dia de aniversário. Até conheço, os que dizem não ligar, convivi com alguns, experimente não fazer nada especial, nem felicitar ou saudá-los com parabéns, acabou o não ligar. É balela, acho que todo mundo que comunga desta cultura e tem religiões com a mesma base teológica veem esse dia, como um dia especial, ou tentamos fazer dele um dia especial.

Penso que a gente experimenta uma ansiedade diferente desde os dias que antecedem esse dia especial. E não falo só de aniversário natalício, acho que a gente espera com um carinho especial o aniversário de namoro, de casamento, do niver do filho, dos pais, dos amigos, aniversário de emprego, aniversário de empreendimento que fazemos, eu ultimamente comemoro até o aniversário das prestações de cartão, ufa, acabando.

Não sei é uma especie de fidelidade a data. Aquele dia é especial porque comemoramos tal coisa. Até aqui falo de coisas boas. Quinta-feira fui ao medico, o primeiro que atendeu minha crise de bursite no quadril e só lá percebi que minha dor fazia aniversário de 02 anos e 08 meses, mas vamos combinar que ninguém marca na agenda uma data como essa para comemorar. Mas tem coisas ruins que nos acontecem que por mais que não queiramos lembrar, elas ficam impregnadas em nossas vidas e naqueles dias de alguma forma lembramos dela.

Difícil para mim passar por um sete de setembro e não chorar a falta de meu pai, falecido naquele dia. E os dias que antecedem essa data são horríveis, nos oprime até hoje, ficamos mal humorados, travados, pelo menos eu e minha mãe reagimos assim, não importa onde estejamos, nem o que façamos. Muitas vezes estamos em família, num passeio qualquer, pois é feriado e natural que nos juntemos, mas mesmo que não comentemos nada, ufa, passamos o dia asfixiados.

Outra data que mesmo que eu não perceba, puf quando menos espero dia 30 de junho é muito ruim, era o aniversario natalício de meu pai, e por mais que associemos outras funções a data, sempre é um dia muito triste para mim, a mais velha de seus três filhos e a que mais conviveu com ele e participou dos preparativos de todos os seus aniversários e das festas que costumávamos dar em clima junino cheia de amigos.

Ou ainda 18 de junho, minha garganta trava, há mais de cinco anos neste dia eu reconhecia o corpo de uma prima muito querida que morreu tragicamente num acidente. Esse dia mesmo que eu nem perceba, parece que alguém pergunta que dia é hoje e a gavetinha da tristeza se abre rapidamente.

E assim como ocorre aos dias que antecedem os dias felizes, os  que antecedem os tristes também ficam impregnados de ansiedade. Mas não por aquele frisson de coisa boa. Ele vem nos abatendo lentamente, eu me imagino caminhando para o meu calvário que hoje é aproximação de 01 ano sem Rafael e a perplexidade de ter sobrevivido a estes 360 dias sem ele. Hoje faltam apenas cinco dias para fazer aniversário de morte de Rafa.

Minha casa é uma casa de luto, solitária e sem vida familiar. Todos os dias eu sinto isso, mas nestes últimos 20 dias, todas as dores apareceram, todas as angustias tomaram volume, a ansiedade virou afta, bursite, intolerância medicamentosa, alergia, enxaqueca e insonia. Não lembro de ter dormido nenhuma noite esse mês, com exceção do dia das mães, do sábado para o domingo, dormi no sábado a tardinha e fui ate o domingo a noite, quase consigo chegar ate o fim dele, propositalmente não podia ficar acordada no dia das mães.  Mas não dá para se dopar todo dia, tenho essa consciência, então mesmo cansada e sentindo dor, o corpo não relaxava.

Mas o que mais dói nesse repertorio somatizado de angustias do corpo é o sufocamento no coração. A data se aproxima e esmaga, fico de sobressalto, fico impaciente, insegura, confusa, irritada, como eu posso ter sobrevivido? 

Hoje eu me encontrei com uma amiga da igreja que se colocava a disposição para conversar e me relatou o quanto foi sofrido para ela se refazer da morte de seu irmão.  E comentou que sua mãe, até hoje, vai em todas as datas especiais (de aniversário, de morte, natal, réveillon, e todos os dias 14, dia da morte dele) ao tumulo do filho. Então perguntei a ela quanto tempo tinha, vários anos, cinco, cada ano 12 meses, no minimo essa mãe visita o tumulo de seu filho 15 vezes por ano.  Perguntei se era evangélica, e ela respondeu que há muito anos. Eu falei...faço as mesmas coisas.

Perguntei como seu irmão faleceu? Ela disse, eu perdi um sobrinho, e meu irmão foi reconhecer o corpo e acho que foi muito para ele. Ele teve depressão e faleceu três meses depois. Era seu filho.  E eu pensei, esse já está com o filho de novo e desejei muito não estar sentindo essa dor sufocante, e poder estar com o meu em meus braços.  Eu achava que também tinha que ser assim comigo, desejei muito e desejo com toda força que seja rápido o nosso afastamento. Muitos dias, deixei em seu orkut..."Rafael, amo muito você, saudades e até já.", e penso nisto todos os dias.

...Até já filho.

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