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segunda-feira, 30 de julho de 2012

TEM COISAS QUE NÃO SE ACOMODAM

Eu tinha um lado da cama.

Não sei se todo mundo é assim e tem costumeiramente o lugar a mesa, o lado da cama ou a ordem de colocar as toalhas se dividir o mesmo banheiro.  Não sei se isso é universal, mas eu sempre acomodei algumas coias para fazer da rotina um aliada em minha vida.

Quando se é casado, eu sempre imaginava que o marido deveria ficar do lado mais próximo a porta, a fim de proteger a esposa de qualquer perigo, etc. Loucura de minha parte achar que se acontecesse algum perigo, o lugar ou lado da cama destinada ao marido era suficiente para protege-la, mas era bonito pensar assim, e assim foi feito.

Assim que me separei, passei a dormir com Rafa numa cama de casal, e eu virei o marido da relação. Eu dormia no lugar que dava acesso mais rápido a porta e o protegeria de tudo que eu pensava que poderia acontecer.  Fiquei acostumada ao lado direito da cama, e Rafa sempre a minha esquerda.  Por conta do ombro direito operado posteriormente, era comum eu dormir por cima do ombro esquerdo, uma vez que o outro já incomodava. E por conta disso, dormia virada para Rafa, e ele sempre muito, muito carinhoso e chameguento, não me deixava em paz ate dormir.

Eu não precisava procura-lo durante o sono. Alguma parte de seu corpo estava alinhado, entrelaçado, ou empurrando outra parte do meu.  E ficamos assim por quase tres anos.

Quando nos mudamos, eu tinha necessidade de que Rafa se habituasse em seu quarto só para ele, e em sua cama. Engraçado que mesmo ele curtindo a privacidade, ele sempre pedia para dormir em minha cama, e eventualmente eu deixava.  Nesta época ele sempre ficava do meu lado esquerdo, independentemente da posição da cama no quarto. A gente tinha acomodado isso. Era comum meu visitante se mudar de mala e cuia, aqui de travesseiros e coberta para minha cama, em vésperas de minhas viagens ou quando eu chegava, quando ele ficava doente, ou quando a programação do cinema em meu quarto prometia... difícil convence-lo a dormir em seu quarto.

Com o segundo consorte, ou má sorte minha, eu voltei para o lado esquerdo da cama e Rafa perdeu o acesso a cama para dormir, com exceção de quando a vaga estava disponível, ele nem perguntava já vinha e se apropriava ou insistia muito para eu dizer qual a noite que ele podia dormir.  E mesmo assim, ele ainda ficava do meu lado esquerdo.

No inicio eu nem conseguia ficar na cama, mas com o tempo fui percebendo que não conseguia mais dormir do lado esquerdo da cama, ali era a sua vaga Rafa, disputada em minhas noites de solidão e em nossos passeios cinematográficos.  Coloco as almofadas na cama, formando um corpo e para simular o rosto, ponho sua almofada do meu quarto, uma que aparece só eu e você.

Antes vestia no travesseiro uma camisa sua, mas ficou impraticável dizer que ela lembra seu cheiro hoje, pois meses a fio sem lavar e suportando todo o meu choro, toda a angustia e toda a falta que a madrugada me faz lembrar de você.

Parece que vestir travesseiros com camisas de filho, não é uma prática exclusiva minha, já fazia isso com você pequeno, quando viajava a trabalho e levava uma camiseta sua e vestia em seu travesseiro de bebe, mas eu sempre voltava, e você me esperava de braços abertos.

Tem 01 ano e dois meses que quero voltar para encontrar seus braços, as coisas nao se acomodam, e seu lado da cama continua vazio.




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