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quarta-feira, 18 de julho de 2012

LINGUAGEM NÃO ACESSÍVEL

Estou cansada de tentar explicar para os outros coisas que nem eu entendo.  Como por exemplo, quando  a minha vida voltará ao normal? Porque eu não faço ideia do que seja o normal de quem enterra um filho.  As vezes acho que nós, as mães alienígenas (porque temos que ser de outro mundo, ver sua metade, sua parte, seu inteiro partir e  a gente continuar),  entendemo-nos perfeitamente. Parece que a dor de uma dói na outra.  Mas e o resto do mundo? 

Hoje vi o desespero de uma mãe que deveria comemorar os 21 anos do filho daqui há seis dias, mas Sonia, que ontem postava fotos de um sorriso em família e um coração com as mãos homenageando seu filho anjo, numa festa junina, aparentemente tão alegre, hoje postava seu desespero, sua angustia pela aproximação da data.

Ontem eu olhava as fotos e dizia quão forte ela era, como ela conseguia expressar um pouco de alegria junto aos demais familiares, e hoje, tudo doía nela. E eu pensava, bem sei o que é sorrir quando chorar não nos é permitido, levantar quando o corpo exige prostração, acreditar quando não se tem mais fé e calar quando só se quer gritar um nome.


Bem sei o que é não ter um pingo de alegria no dia em que temos que nos vestir de sorriso, bem como, carregar a tristeza que se instala com antecedência do dia em que devia doer mais. Faltam 05 dias para completar mais um mês sem meu filhote, mas uma semana antes a nuvem preta já faz chover sobre nossas cabeças.  Também falta 01 semana para Vinícios completar os 21 anos.

O tempo, os conselhos, os olhares, nada disso ameniza a dor, expressa por uma linguagem que o mundo não compreende.  Cada dia penso quão difícil é simplesmente para uma mãe demonstrar verdadeiramente quem ela é, pelo simples fato de que o modelo que ela tinha dela mesma não servir mais para o deserto que ela  atravessa.

Aquele sorriso, aquela alegria, aquele contentamento - decorrente do simples fato de ver as camas dos filhos preenchidas pelos seus corpos, ou pelo simples fato de acorda-los pela manha, para a faculdade, para o trabalho, ou para tomar a vitamina, ou apenas para dar o beijo de bom dia e deixa-lo ainda na cama - parece ter se perdido junto com o que não realizamos. 

Continuar...palavra de ordem que o mundo nos grita. Perdemo-nos no caminho. Não sabemos o ritmo, não entendemos a direção e não aceitamos o destino. Aniversário? Dia do amigo? Natal? Dia das Mães? 

Continuar...só se for olhando bem firme e para dentro de nós mesmas, tentando se permitir  ser olhada com o único olhar que nos compreende, o olhar do Pai e desejando ardentemente não esquecer da mágica do olhar de nossos filhos, Rafael, Mateus, Lucas, ou Vinícius de Sônia, que ao cruzar o nosso olhar, sem sequer balbuciar uma unica palavra, ainda na fase da linguagem não acessível, falou profundamente ao nosso coração, que não importa onde, nem como,  lembrando-nos  a todo instante que esse amor incondicional é para toda a vida e continuará celebrando aniversários até que nos encontremos novamente.

Eu creio que meu filho não morreu, e se não morreu completa anos. Não tenho mais a primeira fatia do bolo, a ansiedade de comprar o presente, confesso que nem a alegria do dia. Mas uma coisa não mudou: ainda peço a Deus que o abençoe e que cuide dele, nesta data e por toda a vida. 

E é isso Paizinho, Sonia não verá o bolo de aniversário de Vinicius, e talvez tenha tanta tristeza e saudade neste dia, mas Te peço que abençoe seu filhote e que ele tenha uma festa linda no céu, e que possa sentir o quanto é amado, mesmo que o mundo não entenda essa linguagem das mães alienígenas e seu amor que ultrapassa o mundo, que desafia a distancia e que não se mede no tempo.  E a Sonia proporcione o melhor dos presentes...um sonho de paz.

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