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terça-feira, 3 de julho de 2012

SAUDADE É AQUILO QUE FICA DE QUEM NÃO FICOU

Ontem ouvi a frase e ela remoeu em mim todo o dia: Saudade é aquilo que fica de quem não ficou.  

É verdade, mas fica numa intensidade tão grande esse não ficar, que as vezes queremos crer que a pessoa ficou, embora tenhamos todos os precedentes de que esta sensação é uma articulação de nossa mente para não sei o que.  Acho que se a gente não tivesse nenhum tipo de esperança, de reencontro, de vida após a morte e de um Deus fiel, sinceramente, não ficaria nada, acho que seríamos pais e mães construídos de pó até que o pó voltasse a terra. Acho que continuar a viver sem o sentido do reencontro provocaria menos saudade, porque não sobreviveríamos a 2 dias longe de nossos filhos.

Eu dizia que quando perdesse alguém mais próximo da família, eu faria um escândalo. Eu não passaria pelo processo de perda, como foi a de meu pai, meus tios e avô ou minha prima e não ficaria no choro contido que sempre fico, eu não me preocuparia em agradar ninguém, a ficar na minha, ou a falar coisas de esperança, como fiz aos 12 anos e quase tiro meu avô paterno do sério por estar tão contida, naquele choro de gente grande que não fala nada e as lágrimas apenas rolam.

Não sei porque falo disso, mas a vontade que temos quando quem a gente ama não fica, e deixa tudo para trás, é de fato de ir junto, de fazer um escândalo, de se jogar por cima, de dar vazão a todo tipo de pensamento que nos ocorre naquelas horas que sucedem ao momento em que sabemos que o perdemos.  

Dá vontade de gritar com Deus, dá vontade de gritar para que nosso amado se levante, dá vontade de não deixa-lo ali e esperar que o milagre se realize, que Deus de Seu trono de poder, fale alguma daquelas coisas, tipo: fulano, saia para fora, ou levanta-te e anda. Mas tudo continua ali, frio e intacto menos seu interior, ele foi atropelado pelo físico, pelo emocional e pelo espiritual,  e você quer gritar par o mundo, mas não grita. Você quer demonstrar sua dor e desespero, mas tem tantas coisas já inculcadas em você que você, mais uma vez entra no mundo só seu.

Ainda estou nesse mundo, naquele mundo só meu, meu e de minhas lembranças de Rafa. Sair dele é romper com tantas coisas, é deixar para trás tantas memórias é renunciar a ideia de que seu milagre ainda pode chegar, mas  não estamos preparados para isso, porque quem não ficou, deixou tudo com a gente, e o mais importante, não deixou para trás.

Nestas horas imagino os pais que não tem fé, ou que não creem que pode ter uma vida após a morte. Penso no pai de Rafa que as vezes questiona todas essas verdades, que me perguntava porque rezamos tanto o Pai Nosso e o livrai-nos do mal não aconteceu, não se concretizou para nós, e fico revivendo os momentos de minha incredulidade, e se ele demorasse mais tempo, acho que sucumbiria.  Deve ser mais difícil não crer no reencontro.  Deve ser insuportável viver assim, mais do que viver sem eles, porque se perdeu a esperança.

Nestes momentos em que o que fica parece ser maior do que a separação, o que eu percebo é que o amor é tão intenso que faz um instante virar eternidade, e a gente pensa que esse período de afastamento é eternidade, e nos move a esperar o para sempre e graças a Deus, ele virá, mesmo que até lá eu viva juntando aquilo que ficou, tentando me convencer que isso logo terminará.


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