São duas e meia da madrugada e falo de você há duas horas e meia com uma ex-aluna que perdeu o irmão há quinze dias. A sensação de vazio e a angustia de achar nossos amados nas coisas habituais que fazíamos parece nos perseguir.
Eu ouvia o seu relato e para quase tudo que falávamos eu já havia escrito. A dor de perder quem amamos nos enche de duvidas e inquietações e acho que por isso perdemos a paz. Talvez a encontremos algum dia, ou quem sabe consigamos fingir todo o tempo que nos resta, sepultando as inquietações e duvidas no tumulo ao lado da nossa rotina com nossos queridos.
A sensação de mutilação que tanto descrevi nas primeiras descrições de dor deste blog, voltam a incomodar, demonstram que a cicatriz continua ali e ainda verte sangue, ainda é profunda, eu com 13 meses a mais que os 15 dias que ela tem enfrentado.
Mas ao falar de vocês, mesmo com dor e com uma saudade estupida, parece que de alguma forma os deixamos vivos do nosso lado de fora, e esse é o desafio, porque o mundo, ele não entende que vocês permanecem vivos, alem dos nossos corações.
Percebo meu amor que falar de você, pensar em você, arrumar suas coisas, viver em seu universo e em nossas lembranças ainda é a maneira mais fácil de suportar sua ausência, é a melhor coisa que me restou. Nossas lembranças e minha necessidade de mante-las acesas. Não quero simplesmente fechar a porta, encaixotar suas coisas, baixar os porta-retratos e dizer para o mundo, bem ficou para trás e daqui para frente vai ser diferente.
Vai ser diferente mesmo. Nunca mais foi igual, nem será. Mas não ficou para trás, você continua conosco, do lado de dentro e do meu lado de fora. Porque seu legado, minhas lembranças de você, foi tudo que me restou.
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