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sábado, 28 de julho de 2012

COMO DE COSTUME

Como de costume Filho, todas as vezes que limpo nossa casa, em especial o meu quarto, eu sempre limpo o seu, como fazia quando você o preenchia.

Como de costume Rafa, limpo nossos banheiros  e troco suas toalhas, priorizando sempre aquelas que tem seu nome bordado, ou as que você mais gostava de usar, independentemente delas sequer terem sido tocadas durante as semanas.

Como de costume meu Xeberel, deixo aquele cheirinho em toda casa, mesmo você não estando para reclamar e espirrar por conta da alergia, mas depois que ele passava, você sempre gostava do cheiro que ficava e perguntava se eu coloquei em seu banheiro.

Como de costume meu amor, ainda abro a porta de seu guarda-roupa só para ter a sensação de que vou achar uma baguncinha nas roupas que foram passadas ferro e que você ainda não guardou. Embora, você tenha deixado tudo no lugar, eu ainda preciso abrir só para ter a sensação que nem tudo ficou vazio.

Como de costume minha razão de acertar, eu ainda vejo o balde de roupa suja aos sábados, para adiantar a lavagem das roupas, mas não tenho com quem reclamar porque tem muita roupa suja, eu preciso esperar semanas filho para conseguir a quantidade necessária de roupas brancas, coloridas e pretas que justifiquem o uso da máquina. Nestas horas fecho aquele balde sempre com os olhos mareados.

Como de costume minha razão de viver, eu ainda futuco suas coisas, como eu fazia antes, para ver se achava qualquer coisa, só para esperar você me dar a bronca perguntando o que eu procurava ou se eu tinha perdido alguma coisa, falo isso com riso nos lábios. As vezes fazia só para ver você me dizer, mãe se precisa de alguma coisa me peça, como eu fazia com você. Sinto falta filho.

Hoje saí do costume.

Fui limpar seu criado mudo. Ainda não permito que ninguém limpe seu quarto. Não admito nem que Neide, quando eu chamo para me ajudar, e que quando vem ainda chora ao passar pela porta dele, nem ela eu admito que entre. Seu quarto ainda é mantido com as suas coisas no mesmo lugar que deixou. Eu só coloquei novos quadros, as almofadas com suas fotos para ele não ficar tão vazio quando eu entro. Tenho a sensação de que você é real com elas em cima de sua cama.  

Ao retirar as coisas de cima do criado, resolvi abrir sua carteira. Não a que você portava no acidente, essa não sai do lado de minha cama, e até uns dois meses atras, ficava na minha bolsa, enrolada em um papel de seda para todo lugar. Eu a abria com frequência. Olhava minha foto 3x4, a de seu pai, seus documentos, alguns cartões de visita, seu plano medico e aquela foto sua pequeno no capô do chevette preto, atravessando a balsa do Rio Sergipe.  Amamos aquela foto, lembra?

Pois é filho, não sei porque, abrir a carteira de seu criado. Nada dentro dela, apenas uma foto. Eu e você.  Tudo fora do lugar depois disso, como fora do costume desde que você se foi.

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