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segunda-feira, 16 de julho de 2012

QUEDA LIVRE

Hoje, no horário de almoço que fico por lá pelo trabalho, e que não me arrisco a voltar para casa, zonza, transito de meio dia e depois de enfrentar tudo ter que voltar meia hora depois. Acabo me trancando e ficando por lá mesmo, sem telefones, sem visitas, sem atendimentos, sem cafés, e sem a tv com o adesivo com seu nome (Rafa), que eu levei para ver a copa e não trouxe para casa, e nestas horas em que fico sozinha me percebo por todo o tempo olhando um prédio ao fundo da minha janela.

Engraçado que só há três dias, mas olho sem cansar aquele prédio, e me imagino em queda livre, mas numa queda que nunca chego ao chão.  Analogicamente igual ao que vivo.  É como se o meu processo fosse uma grande queda, já ultrapassei o nível do chão, estou cada vez mais fundo na dor,  mas o fundo nunca chega e a gente nunca para de cair.


No fundo a gente espera que a queda termine logo, porque tem dias que perdemos os sentidos, tem dias que desejamos do fundo da alma ser tragado pelo mundo, não queremos lutar para continuar, embora saibamos que temos que fazer isso, mas é como se o fundo desse poço fosse o nosso lugar, é como se imaginássemos que chegar lá e rápido era nos convencer de que aquele era o limite.  Nada vai machucar mais que aquilo.


É como se quiséssemos sentir todo o impacto de vez, e não assim cada dia uma carga maior de dor, de saudade, de lembranças de memórias.

Acho que é assim que me sinto, desejando que meu corpo aterrize logo no chão, que todos os hematomas sejam logo produzidos, ou quem sabe que seja morte instantânea, porque continuar em queda livre, isso sim é o sinônimo do desespero, porque tem maltratado e machucado muito mais do que cair de vez.

Tenho pensado muito nesse processo.Tenho querido muito não olhar o prédio ou não sentir a queda, mas como negar isso na minha vida.   Como fingir que faz parte do passado, ou que se não tem jeito remediado está.  Não, comigo não funciona assim.   

Sabe aqueles sonhos que as pessoas dizem ter em que se imaginam morrendo, e se veem em grandes corredores, ou em queda livre mesmo, e comentam ver o filme, com cenas rápidas, sobre suas vidas.  Isso não acontece quando me imagino em queda. Não vejo nada, não sinto nada que já não sentia sentada naquela cadeira em frente a janela com vista para o único prédio.

Nas minhas memórias sobre a queda, lembro de duas coisas que fiz ao lado de Rafael. Um body jump em 2000, montado no Rio de Janeiro, e ele tão novo e tão destemido. Naqueles dias, lembro das gargalhadas dele e a insistência para fazer de novo. A segunda memória vem das lembranças de um mergulho em queda livre, no México, eu primeiro e ele depois com algumas fotos e muita alegria. 

Sem medos, sem restrições...eu, ele e o mundo inteiro aos nossos pés.

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