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domingo, 22 de julho de 2012

SEMPRE UM DOMINGO ANTES DA SEGUNDA-FEIRA


Dizem que um dia a dor vira saudade, para mim ainda são sinônimas, ainda não é branda, não é calma, não é boa e não é paz.  Saudades ainda é um amor que dói, que sangra, que machuca, que hipnotiza, que paralisa...no tempo, no espaço, no meu travesseiro, no seu quarto, em nossa casa, em minhas lembranças e naquele dia 23/05/2011.

01 ano e dois meses sem você...Uma segunda-feira novamente, e um domingo que a antecede e que me faz lembrar das ultimas vezes que ouvi sua voz..a ultima vez que me chamou mãe... que disse: também te amo... que disse: também se cuida viu...que me pediu a benção e que desligou me mandando um beijo. Ah Rafa que dor e que saudades de seu carinho e seu cuidado.


Eu tento sumir do mundo, sair de óbita, ser infectada por um grande vírus que cause amnésia e que me faça esquecer que não tenho mais você, mas essas coisas também me tirariam as lembranças que me restaram da gente, de você e do quanto valeu a pena todas as lagrimas derramadas. Lembranças pelas quais suspiro hoje.


Saber que não sou a unica mãe que sofre e chora a perda de um filho me dá uma nova direção para uma estrada que não leva mais ao lugar onde eu me sentia única pessoa desprovida da graça de Deus. Não, que eu deseje que as pessoas sofram e passem por isso, nem que isso me de qualquer tipo de felicidade, mas saber que o que sinto, o que penso, o que falo, e o que não falo também passa a ser discurso de muitos outros corações feridos pela ausência dos filhos, não me faz sentir uma fracassada, de alguma forma traz normalidade para a anormalidade de viver após ter enterrado um filho.


Apesar disso, em dias assim...aniversário de vida, ou de morte, feriados, dias importantes da família, datas comemoradas pelo clã, nestes dias, a dor é só sua, e só você sente desse jeito.


Quando eu digo que a dor é só minha eu faço a analogia a uma grande trouxa de roupa suja e fedida que você tem que carregar e que as vezes ela não se arruma em seu dorso, aí vem uma mãe e um pai já tarimbado nesta tarefa de carregar a própria trouxa (pois também perderam seus filhos), e eles te dão apoio, ajustam sua trouxa, arrumam de um jeito que você ainda não conseguia, as vezes pesa mais, as vezes expõe uma ou outra peça de roupa que você não sentia o cheiro e ele vem à tona e dói mais ainda, mas você percebe que você só consegue andar, mexendo nestas coisas e buscando, você mesmo, a melhor forma de carregar a sua trouxa.


Cada pai e mãe, tem a sua própria forma. 


Muitas peculiaridades nos aproximam, as vezes as mesmas cores das roupas (o mesmo tipo de morte, a mesma idade, o mesmo nome, as mesmas afinidades, personalidades parecidas), as vezes o mesmo volume da trouxa (a sensação de injustiça, a perda momentânea da fé, a mesma crença no Pai misericordioso que nos carrega e nos promete a vida eterna), as vezes a mesma dificuldade em arrumar a trouxa (arrumar o quarto do filho que já partiu, fazer as mesmas coisas que faziam antes, voltar naquela pizzaria, ouvir aquela musica, cantar aquele hino, ver o jogo do time do coração, comer aquele docinho predileto, rever o ultimo filme que viram juntos, etc.), e as vezes o mesmo cheiro (o cheiro da solidão, o cheiro de sentir-se tão so mesmo cercado de gente, o cheiro de recomeçar sem saber por onde, o cheiro de querer sumir, fugir, desaparecer, etc.). Temos tantas coisas em comum.


Talvez alguém que tenha perdido um filho numa segunda de madrugada e no domingo tenha sido a ultima vez que falou e ouviu seu filho, como eu, como Neide (mae de Rafa), saiba o que significa um domingo antes de uma segunda-feira. Antes da ultima segunda-feira que tive meu Xeberel nos braços, mesmo que não pudesse ser abraçada da mesma forma.


Saudades meu filho...hoje faz 14 meses que não ouço sua voz. Eu te amo demais e espero os sonhos para matar nossas saudades.



2 comentários:

  1. Bom dia amiga, acho que posso te chamar assim pois sentimos as mesmas dores, eu pedi meu Ricardo num domingo, encontrei ele morrendo na cama vítima de um AVC hemorrágico tentamos de tudo pra salvar a vida dele, ainda em casa ele teve 5 paradas respiratórias e 3 cardíacas, nao conseguimos salvar ele mas salvamos os órgãos.
    Domingo dia 29 um dia ensolarado de janeiro e eu perdi meu Ric semana que vem vai cair novamente num domingo e tudo de novo toda a aflição se repete.
    Bem sei minha amiga a dor que nos acompanha.
    bj no coração

    ps: se vc quiser me adicionar no face pra conversar ficarei honrada.
    ANITA SANTA ROSA

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    1. Anita muita força...meus domingos eram cheios de Rafa e de familia, até o ultimo domingo dia 22/05/2011, que falei com ele pela ultima vez...o acidente foi na madrugada do domingo para a segunda, de lá para cá todos os dias 23 que caem na segunda me traz lembranças de um domingo que não volta mais. Ja te add. Beijos no coração e muita paz de Deus.

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