Um passeio no Rio Sergipe, em 2005, dia de sol frio mas céu sem nuvens, velocidade a toda, e no fundo da lancha eu e você, filho, emendávamos o mesmo sorriso. Um senso de liberdade, de sonho alcançado, de espera terminada e de esperança atendida.
E nós dois ali de braços abertos gritando para o mundo, estamos recomeçando.
Essa foto, ficava no criado mudo do lado direito da minha cama, um porta retrato simples e bonito. Sem molduras, sem limites. Derrubei sem querer...irrecuperável estrago. Sobrou a foto, ficaram as lembranças.
Tempos depois recolho os pedaços do porta retrato e percebo o pequeno corte em meu pé. Desprezo os vidros que sustentavam a foto e ao traze-la de volta, lembrei da foto que vi hoje na pagina de seus amigos. Achei que ela era inédita, mas não era, eu já a tinha arquivado.
Cada foto é um passaporte para um novo continente. Uma gaveta de minha memória é aberta e junto com o papel fotográfico daquela cena, eu arquivo: o contexto, as imagens, as pessoas, e você. Aperto os olhos na tentativa do esforço de contrair os músculos faciais e eles exprimirem à minha mente, o seu perfume, a sua voz e o seu sorriso.
Assim como os vidros quebrados que não podiam ser colados, era você nas fotos que percorri hoje. Não consigo te juntar mais. Você se espalhou, povoa a mente e os corações de pessoas que sentem sua partida e que falam do privilegio e da alegria de ter estado contigo.
Mãe as vezes tem disso. É um sentimento de posse, de pertencimento. Eu queria tudo, todas as lembranças para mim.
Mas esse preso só em mim, não é você. Você era espalhado. Flexível. Quanto mais se dava, mais tinha para doar.
Deixei os cacos de vidro do porta-retrato juntos mas eles não se fizeram, serão cacos por muito tempo.
Deixei você espalhado, nas fotos e perfis de todo mundo que te compartilhava, e só assim o terei inteiro aqui e agora.
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