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quarta-feira, 25 de julho de 2012

POR QUE VOCÊ AINDA ESTÁ ASSIM?

Para todo mundo que esta do meu lado de fora, o normal é pensar que 01 ano e dois meses é tempo suficiente para ficar bem, retornar as atividades, ter achado um rumo, um proposito, um desafio, uma esperança, um hobby, uma terapia. Sei lá, o que quer que seja , qualquer coisa que possa levantar você desse abismo.

Talvez eu também achasse isso.  Na verdade, nunca acompanhei de perto ninguém que perdeu filho. Aliás quando minha prima morreu em um trágico acidente, e estávamos muito próximas quando de sua morte, eu tinha uns três anos de separada e ela me apresentava a vida noturna, e rimos muito, durante dois quase três anos. Então quando perdi essa prima, ia a casa de minha tia, mas não consegui suportar, e minha tia sucumbiu três anos depois.  Nunca questionei a ninguém o tempo de luto de uma mãe. Era distante de minha realidade. Eu acho que a morte de filho que mais me marcou foi a de Daniela Perez e nos últimos tempos, Isabela Nardoni, ou o menino que foi arrastado pelas ruas do Rio. Esses casos, alem de uma dor pungente das respectivas mães, tinha um clamor social, tinham uma repercussão na mídia. Mas a verdade, é que eu olhava para as mães que perdiam filho com certa distancia. Eu NUNCA achei que me tornaria uma delas.

Lembro de outro caso veiculado no fantástico de uma enfermeira que rouba o filho de uma parturiente, e a mãe passa o resto de sua vida escrevendo em diários as memorias e lembranças de como foi cada dia sem seu filho, ate que eles se encontram, quase 20 anos depois. Não lembro os nomes. Sei que aquela historia me marcou. Uma mãe, que não viu seu filho, que não saberia se reencontraria, mas que escreveu todos os dias, como se ele estivesse esperando algum dia ler suas memorias. Cada dia de aniversario, Natal, dia das mães, cada viagem em família. Aquela mãe não esqueceu.

Eu não estou citando casos violentos para impressionar, simplesmente estou citando casos que possam ser referencial para todo mundo que viveu neste pais no mesmo período. Os casos tratam de morte de filhos e das dores de suas respectivas mães. Hoje eu lembro mais das mães do que dos filhos. O sofrimento delas me fala ao coração diferentemente do que falava quando eu acompanhava o desfecho dos casos. Senti muito, orei, supliquei, mas o espinho não estava espetado em minha pele.

Eu tenho tanta vontade de ser forte, como as mães que pela fé vivem na Palavra, entoam esperança e a gente vai consola-las e nos sentimos consolados. Queria ser assim, queria ter retomado tudo, queria tocar a vida, olhar nos olhos, andar de cabeça erguida, cumprimentar as pessoas, mas me pesa demais fazer tudo isso.  Não olhar, não falar, não andar erguida é de alguma forma meu jeito de dizer...hei não olhe para mim, ainda estou de luto. Um ano e dois meses ainda é pouco. A luz do sol incomoda, o raio da lua deprime, o vento esfria, a falta dele esquenta, se estou sentada, quero andar, de ando quero correr, se tenho sono não consigo dormir, se tenho fome a comida não desce. Se tenho vontade, ela dá e passa.  É incrível, quantas vezes quis comer pão desço para ir ate a padaria, não as que Rafa comprava, e desisto do meio do caminho, e não como nem pão, nem nada...até a próxima vontade.

Por que ainda estou assim? Ouvi tantas vezes essa pergunta. Parece que a fazem a todas as mães que ainda não superaram a fase de prostração. Hoje ouvi de uma amiga especial, destas que a dor nos apresenta e aproxima, e ela também passou pelo mesmo constrangimento de ter que explicar porque ainda estava mal, e ela só tem 06 meses sem o Ricardo, a jóia preciosa dela.  Imagina quando se passa de um ano. Para todo mundo é tempo de sobra. Mas para gente  não.

Eu lembro que levei mais de ano para recobrar os movimentos do braço depois da cirurgia de ombro, e fiquei de licença um bom tempo desse período. Lembro que meus dentes levaram mais de anos para aprumar, lembro que ate hoje não me acostumei a usar palmilha, que meus calos no solado do pé levaram mais de três meses entre o tratamento e a cicatrização, e ainda continuam lá. Minha unha do pé há seis anos não teve jeito de melhorar e há 18 anos sofro de uma anemia. Mas esse tempo, não importava para ninguém o meu sofrimento não estava estampado em meus olhos, nem em minhas camisas.

Pois é eu ainda estou assim. Queria ser forte, eu ter retomado tudo que possível na vida.  Sinto orgulho das mães que conseguem fazer isso antes desse prazo que eu ainda não fiz. Quem sabe só você passando por isso, pode entender a dor da mãe de Daniela Perez, ou de Isabela Nardoni, ou do menino João Helio (lembrei do nome do menino, brutalmente assassinado, arrastado pelo cinto de segurança) do jeito que eu entendo hoje, e assim aceitar que eu ainda esteja assim.



2 comentários:

  1. Bom dia! Assim como vc eu sempre vi o sofrimento das maes que perdem seus filhos como algo que jamais me aconteceria e a única coisa que eu pensava era meu Deus me livre disso deve ser terrível ter que passar por isso...
    Agora penso como eu era ignorante a respeito.Percebi que é uma dor que nao tem tamanho e nem mesmo nós as mães podemos avaliar a real dimensão, tem Dias que estamos melhor e que até conseguimos estampar um sorriso meio tímido meio amarelo e em outros dias estamos estiradas no chão como se um rolo compressor tivesse passado por cima de nós e assim vamos sobrevivendo ou apenas respirando.Mas a dor ha esta dor que nos acompanha que nos judia e algumas vezes é até ela que nós mantêm vivas sim pq tem dias que a impressão que tenho é que SOU a dor e nao que tenho a dor.Esta dor continua uma incógnita para as pessoas pq apenas eu fui e sou mae do Ricardo assim como vc e só vc sabe oq é e foi ser mae do Rafael só vc sabe como ele se mexia no teu ventre só vc sabe oq era conviver com ele e agora olhar pro lugar vazio e ser obrigada a aceitar que ele nao vai voltar mais.Vi vc falando do tempo de como as pessoas cobram isso rs vou te contar uma coisa que ainda nao te contei nós temos uma cachorrinha que o Ric dizia que era dele e de fato era pq ela viu ele ser levado pelos socorristas e até hj espera por ele na porta a pobrezinha teve febre direto por 2 meses. Fazem 6 meses e a latifa ela é um bichinho que continua na porta esperando o Ricardo voltar ....entao minha amiga se permita o tempo que vc achar que é o seu tempo pq assim como cada um nasce cresce e morre no seu tempo assim tb é nossa dor pois temos dores parecidas mas nao a mesma dor.

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    1. Querida...muita força para você e que Deus abrevie esse tempo de prostração em sua vida. Sei que me entende, sei que pode dimensionar a minha dor, apesar de ser só minha, traduzimos isso que sentimos nas formas como lidamos com nossas faltas, com nossas perdas. Um beijo no coração. AH!Linda a historia da Latifa e de seu amor pelo seu dono.

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