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sábado, 7 de julho de 2012

DESPEJO DE MIM

É assim que tenho me sentido. Meio como se você não quisesse sair do lugar, mas você é obrigado a sair.  A desarrumar sua arrumação provisória e recolocar as coisas no lugar.  Acontece que até lá ficamos circulando nossas caixas e perdemos muito tempo, geralmente um tempo bem maior do que o que levamos para encaixota-las, procurando nossas coisas.


Estou prestes ao retorno ao trabalho. E meu sono ainda nas caixas, minha fome, minha disposição, minha paciência, minha tolerância, minha alegria e minha paz nem contam, afinal essas eu não sei nem por onde procurar em minhas caixas.


As profissionais que me acompanharam durante esse despejo, em alguns momentos dos encaixotamentos estimulavam que eu tentasse me expor a algumas mudanças, e praticamente tudo foi tentado. E concluímos que o tempo que cada um leva para encaixotar é bem diferente, e posso ver nos olhos de cada um, e as vezes no discurso que acaba sendo repetitivo...sair de um lugar tão especial assim dá trabalho. Sair desse mundo que você e Rafa viveu, e sair sozinha Annalu, exige muito de qualquer pessoa, que dirá de uma mãe, de uma amiga. 


Nos momentos que eu indaguei sobre minha normalidade, ou sobre minha resistência para dormir, sair, comer, me colorir, me divertir, me expor aos amigos novamente e aos poucos conviver com a dor no mundo ou a dor do mundo, porque essa ideia também foi transitória, no inicio a gente acha que a dor é do mundo, que todo mundo esta sentindo o que você sente, as pessoas ficam sedentas por te ouvir, na verdade, acho que elas tinham mais sede de falar do que de me ouvir, porque depois que ouvia a segunda vez a mesma coisa se retraiam, e era ótimo assim. Ficaram os bons, os de sempre, os poucos, os que torcem, os que amam verdadeiramente.  Os que levaram muitos nãos e não desistiram, embora eu tenha desistido de todos eles. Depois a gente percebe que a dor está no mundo, no seu próprio mundo, seja ele físico, emocional, psicológico e principalmente espiritual.  A minha fé falhou em alguns momentos, falha ainda, mas parece que o período de submersão em alto mar e de me debater contra Deus, levou-me para perto Dele.


Nestas horas, em que eu não sabia dizer se eu era normal, ou se voltaria a ser. Tive compreensão e encorajamento profissional.  E fomos andando ao nosso tempo.  A pericia ao discordar, olha para 13 meses de afastamento, intercalado com ferias, licenças e duas tentativas de retorno, e acha que isso é muito tempo.  Também acho, 13 meses sem meu filho, é muito tempo, mas insuficiente para desencaixotar a minha vida, porque ainda tem muita coisa precisando ser empacotada ainda para enfrentar a mudança,  que soa diferente de despejo.  Despejo necessariamente obriga-nos a deixar coisas para trás por conta de não termos tempo suficiente de transporta-los.


Além de todo o processo de perder, a gente se depara com quem não perdeu, não te acompanhou, não te conhece profundamente, mais tem poder sobre você e decide o que você tem que fazer.   Engraçado que eu sempre soube o que tinha a fazer, mesmo que fizesse errado ou escolhesse errado, e esse período convivendo sem Rafael me tirou esse discernimento, todavia encaixotar minha vida, ainda foi a coisa mais acertada, ela me protegeu de mim e do mundo que decide sobre você.


O único despejo que o mundo não será capaz de fazer é de me roubar o passado, quanto ao futuro, tenho boas expectativas em desencaixotar-me, até lá e no meu tempo, inventarei uma versão compacta para conviver novamente.  Nunca sonhei um sonho ruim com Rafael, estava escrevendo e postei parte to texto e cochilei e escrevo o resto do texto depois de muito pensar,  depois de um cochilo no fim de noite, inicio de madrugada.


O pior de todos os sonhos, ele numa banheira no banheiro de algum lugar, aparentemente em um lugar familiar, nossa casa aparentava, muito sangue na banheira, como se ela estivesse cheia até a metade, e eu chegava com alguém que não sei quem é e dizia é hora de sair filho, acabou, e ele me dava a mão, tudo muito sujo e levantava e ao me abraçar ele dizia, sair para onde mãe? Ainda não está na hora de sair do lugar, ainda não sei para onde ir.  Acordei muito mal e passei a noite elaborando tudo.  E essa pergunta não sai de mim.  


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