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sexta-feira, 27 de julho de 2012

EU ME SENTIA PROTEGIDA E VOCÊ ERA APENAS UM TICO DE GENTE

Sabe aqueles dias de nostalgia, em que você fica lembrando saudosa do passado. Que você lembra da casa que passava ferias em sua infância, da sobremesa que faziam particularmente para você, dos brinquedos especiais. Basicamente, dias que você respira o passado, hoje foi um desses dias para mim.

Inicialmente um choro sufocado, muitas publicações sobre Rafa, muitos comentários madrugada afora. É intrigante porque nos dias que mais sinto falta dele, e necessidade de falar dele, de dizer sobre ele, tem dias me pego falando com as fotos, com as coisas dele, nestes dias, muitas pessoas parecem estar na mesma sintonia, pois me ligam, ou me encontram ou conversam entre eles e aquela conversa chega aos meus ouvidos. É como se em alguns dias sentíssemos uma saudade coletiva e precisamos desabafá-la.

Em dias assim eu acabo me dando conta de coisas sobre Rafa que nunca tinha lembrado e pensado. Hoje me dei conta de duas destas coisas, e em ambas a capacidade de Rafa de fazer o que me deixava feliz, de ser meu companheiro e de me agradar acima de qualquer coisa.

Primeiramente lembrei de logo que fomos morar sozinhos. Ele tinha uns 09 para dez anos. E eu já tinha 03 anos separada e durante esse tempo moramos, eu e Rafa, com a minha mãe e irmãos. Assim que fomos morar sozinhos, experimentamos muitas coisas juntos até definir nossa própria rotina. A essa altura eu já não dava aulas numa faculdade no interior do Estado aos sábados, e tínhamos dois dias inteiros só para gente.

Eu tinha uma sede de conhecer tantas coisas mas tinha um filho menor, que eu carregava para todo o canto. Lembro de uma fase em que eu queria conhecer uns rios ou cachoeiras no interior, e lugares que eu nunca tinha ido, porque não eram prioridade em minha família, sei lá. Tipo pontos turísticos do Estado, que distavam no máximo 2 horas e meia da capital, mas que eu nunca tinha visitado. Ilha do cabeço, Ilha do Ouro, foz do São Francisco, Serra de Itabaiana-SE. E nesse período a gente tinha muitos compromissos na igreja, e eu aproveitava nossas férias assim, fazendo esses passeios, muita praia todos os dias, muito cinema, muita saída com as amigas e Rafa, além de Salvador e Maceió que eram próximos, ou Natal que fomos uma vez porque eu tive um trabalho por lá e o levei.

Eu só hoje me dei conta de como Rafael era parceiro, porque naquela época eram uns passeios de índio, eu colocava um isopor no carro, nem sabia direito como chegar, não avisava a ninguém da família, e saia cedo com Rafa, geralmente em nossas ferias de julho ou janeiro, e íamos sozinhos desfrutar esses lugares. Estrada ruim, segurança alguma, na época nem o celular funcionava em todas as localidades, Rafael era um menino franzino que se furasse o pneu do carro não saberia nem me ajudar a trocar. Mas eu me sentia como a mulher mais segura do mundo, e só hoje me dei conta de como me sentia protegida ao seu lado. Não tinha tempo ruim com ele.

Fomos para lugares sem estrutura, me perdi em alguns estradas ou o que achávamos era bem diferente da propaganda que eu fazia para ele, mas ele era companheiro e de tudo fazia piada. 

Meu Deus como a gente se entendia, do nosso jeito, da nossa forma, mas era assim. Dias era um trabalho sair no horário, dava uma canseira acordá-lo, e em outros ele que cuidava do isopor da arrumação do carro e não dormia enquanto eu dirigia. Lembro que uma vez a gente fez um bate e volta de tão ruim o lugar, mas Rafa fazia amizade na praça da cidade, na praia, no rio, com gente que passava de cavalo, de bicicleta, ele era de fato especial demais.

E pensando nisso, na capacidade que ele tinha de me acompanhar, para tudo que eu inventava, teve uma fase, até que não fossemos apenas nós dois, em que Rafa era minha companhia para todas as minhas atividades sociais. Ele me acompanhava em todas as recepções, chá de bebe, saídas com alunos da faculdade, inauguração de qualquer coisa, visita a qualquer amiga, salão de beleza com procedimento demorados, e todos os médicos. 

Não tinha papo de mulher que Rafa não soubesse, e se comportava como um homem. Tinha caráter e descrição. Sempre meu amigo. Na fase das saídas com Dea, Iandra e Dea Acusada (apelido que ele amava a história e improprio para o comentário no momento), eu era a unica das amigas que tinha filho, embora duas das outras também divorciadas, Rafael nos acompanhava em tudo. E palpitava...como palpitava.

A segunda coisa que me dei conta hoje, era de como meu filho anulava seu próprio gosto para me agradar. Eu sou fanática por coca-cola zero, mas não conheço ninguém que goste como eu, aliás, minha chefe também gosta. Na minha roda de amigos, nenhum deles aceita dividir a coca zero, sempre que pedem eu tenho que tomar o que eles querem. 

Rafael era o único que nunca questionava, ele tomava o que queria, mas se me convidasse para dividir ele sempre pedia a coca zero. Parece tao pouco isso, mas era uma criança e foi um adolescente que podia exigir, afinal era só um refrigerante, e todos os adultos com que convivo criticam meu gosto e não sucumbem a ele. 

Rafa era diferente. Ele fazia tão natural e eu só hoje, ao pedir uma com minha doidinha, como ele a chamava, comentei como Rafa era e me dei conta de sua capacidade de me agradar em pequenas coisas. E nos emocionamos, porque ela ultimamente é quem mais me chama para dividir a ultima latinha de refrigerante e se eu não ceder e tomar o convencional, ela não pára de reclamar.

São pequenos detalhes que tornam nossos filhos especiais. Meu filho, mesmo sem idade, estatura, conhecimento e maturidade tinha um comportamento de proteção e de aceitação que hoje, depois de 14 meses distantes, eu consigo avaliar o quanto ele era adulto. Muito mais do que o que eu já ressaltava. Eu me sentia tão protegida ele era apenas um tico de gente.


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