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quinta-feira, 19 de julho de 2012

FORTE OU FRACA

Como se mede a fortaleza ou estrutura de uma mãe que perde filho? Seguramente se mede pela capacidade que ela tem de retomar sua rotina e de não transparecer o quanto foi afligida pela morte de seu filho. E claro que isso tudo deve ser observado levando-se em conta o tempo que ela usa para voltar à superfície. Essas são as consideradas fortes.

As outras...a outras são incompreendidas pelo resto do mundo, porque não basta que ela tenha perdido o filho, afinal ela não foi unica no mundo a passar a dor, ela precisa demonstrar que é especial, que Deus só dar a provação a quem é forte para passar, então minha filha, seja forte, fulana e sicrana também perderam filhos e superaram, já fazem isso e aquilo e quilo outro.

Eu achava que fazia parte desse grupo, das fracas, das que não estabelecem a rotina de imediato. Das que viram problemas para a família, para o emprego, para a faculdade, para a sua própria casa. Porque ainda não voltou a fazer o que fazia antes, mesmo que já passados mais de ano.

Aí descubro o terceiro grupo... as loucas. Aquelas que as pessoas olham e diz, nunca mais fulana foi a mesma coisa. Ela não ficou muito bem depois do ocorrido. Nem o marido suportou, até ele a largou, ela também não pára em emprego, ou ela começou a beber, ou ela compra demais, ela fala sozinha, ela tem uma depressão, um transtorno, uma síndrome do panico, um encosto, sei lá...o que mais aparece nessas horas são teorias piscológicas e conceitos espirituais baseados em achismos.

O que eu penso? Não faço parte do primeiro grupo. Passados quase 14 meses, não tenho rotina de absolutamente nada. Ainda me esforço para deixar a rotina anterior de lado e não acorda-lo as seis para a escola, de não comprar seus lanches no supermercado, de não entrar em seu quarto para dar boa noite, em não chama-lo para ver alguma coisa engraçada, de não espera-lo em minha cama no sábado ou domingo pela manha. 

Sou do segundo grupo, as consideradas fracas, porque ainda não me achei e na maior parte do tempo, componho o terceiro grupo, o grupo das loucas, nunca mais serei a Annalu de Rafa, de quando ele estava aqui presente. Ser Annalu de Rafa sem Rafa exige que a loucura confunda a minha vida, porque a vida real e dura é muito cruel sem ele.

Talvez seja essa a classificação do mundo para nos rotular. Fortes ou Fracas. Ainda bem que com Deus...fraco é que estamos fortes. Quero depender só Dele, e que Ele me levante todas as vezes que o mundo me derruba. Nestas horas lembro de Nely que aos 30 e poucos dias de ter perdido o marido, e eu enfrentando minha primeira quinzena me dizia...não faça planos, viva um dia de cada vez, Deus proverá...

Tem sido difícil, meu dia de cada vez é diferente do que se exige para as mães fortes, mas só em continuar aqui, sem ter desistido como pensei varias vezes, fez com que eu percebesse que essa foi a minha principal rotina, esforçar-me para continuar viva, apesar de me sentir morta todos os dias.

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