Total de visualizações de página

quarta-feira, 11 de julho de 2012

QUANTO TEMPO PODE LEVAR UMA MÃE PARA LEVANTAR?

Hoje devo voltar ao trabalho, são três da manha, e depois de muito tempo afastada e de algumas tentativas de retorno, vou tentar mais uma vez. Das atividades pedagógicas e do consultório, não tenho pressa e ainda me falta vontade de voltar. Mas as pessoas não entendem, e hoje andando pelas ruas na volta para casa, na sacola uma blusa com uma cor berrante aos meus olhos ainda, azul royal sem fotos de Rafa, para tentar usar no local de trabalho, para não chocar as pessoas...do tipo, ela ainda usa blusa com fotos do filho?

E eu me perguntava, e se eu tivesse sido uma mãe que tivesse tido muito problema para engravidar, que tentasse sei la uns 17 anos e quando eu nem esperava eu engravidasse, e se todos os dias seguintes a confirmação da gravidez eu tivesse feito uma promessa qualquer, de por o nome do filho de sicrano de tal, duraria quanto tempo? O resto da vida dele, e por que isso não incomoda? Quantas Marias e Joses conheço porque nasceu laçado pelo cordão umbilical, pratica comum do seculo passado? Mas não vejo reprimendas a isso e as pessoas carregam essas historias para o resto da vida. Ou se a mãe tivesse feito promessa p usar roupa de tal cor, ou de não cortar o cabelo da menina ate os 15 anos, ou de sei lá criar qualquer coisa em agradecimento aquele presente...isso a gente ouve todos os dias, mas não tem problema.

Quando um filho nasce, as mães ficam 04 meses em casa, hoje podem ficar 06 meses, segundo a legislação pátria. Em outros países, mais civilizados eu creio, o período que as mães ficam com os filhos pequenos são incentivados financeiramente pelo estado, e passam dos atuais 06 meses facultados pelo Brasil, para que a criança e a mãe tenham pleno desenvolvimento. Sei que a preocupação é com a criança, mas quando se preocupam com nossos filhos, demonstram interesses para conosco, e nos sentimos beneficiadas, filhos felizes, mães mais felizes ainda.

Mas quando a gente os perde, temos que voltar em sete dias. Que tipo de cura sete dias provoca. Acho que nem os pontos da ferida conseguem ser dados em sete dias. Acho que nem se estanque o sangue que jorra do coração de uma mãe em luto.

É estranho as pessoas aceitarem partos mais e menos complicados, mulheres com mais e menos facilidade de passagem, de tolerância a dor, de querer ou não amamentar, ter parto normal ou optar pela cesariana, voltar ao corpo anterior logo ou não voltar mais nunca, isso é tão amplamente variado e isso não causa perplexidade, estranheza ou julgamentos sórdidos para as mães.

Até que elas perdem seus filhos, e não levantam logo. Sua loucura é decretada de imediato. As comparações entre elas inevitáveis, e a censura e palpites, começando pelo famoso "eu sinto muito, e não sei o que é estar no seu lugar" mas você em que fazer isso e isso e aquilo. Por que não pode ser só tristeza? Por que não pode ser como é quando nasce, quando se aceita a tolerância a dor, a passagem pélvica, o tipo de parto e etc.

O filho não morre como nasce. Eu não fiquei sabendo 09, 08 ou sete meses antes de sua morte que ele iria morrer. Não é uma gestação comum, perder filho é gestação as avessas, como já falei neste post (http://cantigasehistoriasparaninarumamae.blogspot.com.br/2011/07/estou-gravida-de-voce.html), e por isso o processo de internalizar meu filho do mundo real para meu mundo virtual, emocional, espiritual...massacra meu mundo físico e indaga ao mundo moderno e muito desumano, quanto tempo pode levar uma mãe para levantar, sem ser rotulada, invadida ou comparada?

Quanto tempo isso vai levar? Hoje minha resposta é que leva o resto de sua vida e, mesmo assim, creio que ela nunca estará de pé, faltar-lhe-á sempre um senso de equilíbrio, será sempre uma vertigem, uma tontura, se ver em pé sem ter seu filho ao seu lado. Ainda é assim hoje para mim, me ver bem e não ver meu amado Rafael do meu lado ainda é inconcebível, embora tenha fagulhas que já se acendam para um recomeço.

Continuo te amando com toda a minha força Rafa, e amanha alias, daqui a pouco...mais uma tentativa de me por de pé. Eu só queria que o processo fosse de dentro para fora, como é na gravidez natural, e não de fora para dentro como é o parto desumanizado que o mundo nos empurra, porque não suporta nos ouvir chorando a perda, a falta, a saudade e o amor todo que ficou do lado de cá.


Nenhum comentário:

Postar um comentário