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sábado, 10 de dezembro de 2011

TIVE UM PESADELO

Sonhei que te enterrava de novo. Como? Novamente isso tudo? Era uma coisa pequena, não lembro de nada antes só do velório, você no mesmo lugar do mesmo jeito, mas nao tinha muita gente desta vez. Pude ficar com você muito tempo, todo o tempo que eu queria ter ficado mesmo, acho que até agora nao estou preparada para me distanciar fisicamente de seu corpo, que dirá de todo o resto.

Ficava debruçada em você, deitava meu rosto em seu peito e ouvia lá longe você respirando e me chamando, mas eu não podia ouvir, era tanta coisa complicada de entender e tao simples de sentir no sonho meu filho.  Eu te alisava e sentia você se aninhando em minha mão, mas você estava estático ali parado. Minhas lagrimas continuavam descendo e molhando os seus olhos e seus lábios mas quando eu me aproximava mesmo você ali parado, eu podia sentir o beijo, uma doideira.

Acordei assustada. Queria só que fosse um sonho, e que você estivesse dormindo e que eu corresse para o seu quarto e te desse um beijo e te acordasse e dissesse que te amava e que tinha medo de te perder. Nem posso dizer que é um pesadelo, e também ir correndo para o seu quarto e chorando te acordar para ver se está tudo bem e se você está respirando normal e você tirar onda comigo, ou reclamar porque eu te acordei e você está morrendo de sono. Filho o que eu sonhei é real. É a minha realidade, eu deixei você  ir. Eu te deixei sozinho naquele lugar, como? Posso dizer filho que entre está agora como estou distante de você, e o desespero do meu sonho hoje, toda aquela dor dilacerante da despedida, ufa, prefiro aquele dia novamente. Prefiro te ter fisicamente do que ficar apenas com as lembranças.

Tem dias, que o desespero é tão grande que se os coveiros não ficassem tao perto e tomassem tanta conta de mim, as vezes acho que minha mãe conversou com  eles, o jeito que ela achou de me apoiar é me cercando de todos os lados, mas se os coveiros dessem trégua, acho que eu te tirava de lá, e te traria para casa e te colocaria no seu canto e enlouqueceria com você em casa, seria menos doloroso do que enlouquecer sem você aqui.

Sei que ninguém deveria enlouquecer por dor, sempre defendi que a falta de dor é que enlouquece, mas é que a falta de um filho, faz com que tudo perca o sentido e embora a ideia de ter seu filho morto em casa possa não fazer sentido algum, sentir seu filho morto no cemitério é mais absurdo ainda, pois te-lo morto e percebe-lo vivo em você e em sua crença, te faz automaticamente esperar pelo encontro, mas e até lá, você faz o que com o sentido que a vida  tomou, aliás é sem o sentido que ela passa a ter.

Outro dia ouvi que morre todo dia, as pessoas que falam a mesma coisa sempre, eu falaria o dia inteiro só sobre Rafael, e se isso me matasse mais rápido, acho que eu gravaria a minha fala e fazia ecoar em todos os aparelhos de reprodução. Só que ninguém entende que falar de Rafa, hoje, é a unica coisa que me mantem viva, não preciso que me ouçam falar dele, só queria que não tentassem me calar. As vezes acho que ninguém mais quer ouvir, a vida segue normalmente para quase todo mundo.  Falar dele hoje, nem é apreciado no facebook, muitas pessoas já informaram que não façamos no facebook o que era feito no orkut, falar de defuntos...meu filho é um defunto para algumas pessoas que compartilham o face...e eu, sou o que? Uma louca que fala do filho morto todo o tempo. Nem ligo, não precisam curtir, compartilhar, comentar...bastam não me calar.

É tudo tão normal para todo mundo...estar em família, chegar ou sair de casa, comer o prato que gosta, reunir os amigos numa pizzaria, dar uma volta no shopping, ir ao cinema, sair e dar uma volta de carro, ir a praia, sair com os amigos, jantar num lugar legal, comer pipoca vendo filmes, comemorar o vestibular, rir, usar roupa bem estampada...tudo isso, ainda me dói, não voltou a ser normal para mim, é uma afronta aos meus sentimentos, a mim mesma. Não é porque quero, simplesmente é...o mundo ainda tem cores, mas para mim, está cinza, sépia, apagado, antigo, velho e desestimulante.

Apesar da agonia da noite, preferia o sonho/pesadelo...estava acessível aos meus olhos, ao meu olfato, ao meu tato...do que ao vazio de não ter aqui do lado de fora e de ter que te buscar so do meu lado de dentro...enquanto ainda nao me calei...postei no facebook.





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