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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PSIU....SILENCIO!

Estou com saudade do meu silencio. De quando eu apenas calava e ouvia alguma coisa, meu intimo, minhas intuições, Deus, minha voz interior, mas era uma voz tão calma, suave, mansa, as vezes quase imperceptível, por isso eu chamava de meu silencio.  Estou com saudades de mim.

Sempre fui uma pessoa que funcionava bem tarde e noite, mas pela manha, é como se tico e teco demorassem a pegar, meu ritmo pela manha sempre foi mais lento. Eu sou daquelas que acorda meio cansada e em silencio - e isso é diferente de mau humor - porque sempre queria esticar um pouco mais o tempo de ficar na cama. Eu preciso de um tempo só meu, sem falar com ninguém, só eu e meu planejamento rápido do dia. Esse silencio pode ser de 15 minutos ou meia hora. 


Rafa também era assim, a não ser que estivéssemos muito, mas muito empolgados com alguma coisa ainda cedo, aí é como se nem tivéssemos dormido, estavamos ligados na corrente de 220 v, mas num dia normal, a gente acordava e trocava de roupa meio calado, só o bom dia, o beijo, as perguntas sobre o que queria comer, e se queria, porque não tinhamos fome as seis da manha, e antes de sair de casa já estávamos ok, o som do carro funcionava com ritmos de quem passou a noite na balada, ou num louvor, dependia quem cedia, eu ou ele, mas a gente tocava com humor o resto do dia, era só o protesto silencioso de sair da cama.

Mas percebi hoje que estou com saudade de meu silencio, e olhe que fico as vezes o dia inteiro sozinha e por opção, rejeito convite diário de minha mãe de almoço e jantar, pois ainda nao cozinho nada para mim, desde que fiquei sem Rafa, e em alguns dias nem saio de casa, e  nem falo com ninguém, e mesmo assim estou com saudades de meu silencio, de mim.

Não sei quando isso vai passar, nem se vai, mas tenho a impressão de que nunca mais serei eu novamente. É como se esse processo todo de perda e luto mexesse de forma tão profunda que me fez ficar perdida em mim, não sei quem sairá deste processo, não sei nem se sairá.  Tem dias que acho que estou reagindo, que vou sobreviver, penso sempre que se Deus ainda não me levou é porque ainda quer que eu viva, embora eu só sobreviva a isso tudo, que daí a pouco retomo de novo as rédeas, mas na maioria das vezes tudo grita dentro de mim e esse silencio ensurdecedor da perda não me permite me escutar.  Eu escuto tantas vozes dentro de mim, de coisas que não fui, não sou, não sei ser, são tantas facetas aconselhando-me e eu não me reconheço em nenhuma delas.

Penso em sumir, em morrer, em jogar tudo para o alto, em enlouquecer, em virar irresponsável, em dizer o que penso de fato, em mandar calar a boca quando me importunam, de deixar falando sozinha, de agredir para ver se entendem a minha dor, ou de me esconder para ver se me esquecem, são tantas saídas que não consigo decidir em que trajeto devo me achar, se é que um dia isso aconteça, eu só queria muito que não apontassem tanto para mim, porque hoje vocês não me veem, isso não sou eu, isso é o que a dor fez comigo.


Li, nao recordo de quem é a citação, que quem fica com o mesmo discurso a vida inteira já morreu e não percebeu, sinto que também estou morrendo, porque não penso, falo, vivo, indago, procuro, respiro, outra coisa senão...Rafael longe de mim.

Acho que o que mais me ensurdece e não me permite a auto-audição é a culpa que o processo de perda aponta para  quem perde. São coisas como: Por que você deixou? Por que você não foi pega-lo? Por que você não ligou outra vez enquanto ele estava na moto e ouviria e poria um fim na viagem? Por que você nao estava lá? Por que para as ultimas petições dele, ele ouviu um não? Por que não tinha capacete? Por que o hospital não o segurou, era menor? Por que ele voltou aquela hora? Por que eu não repreendi aquele frio na barriga, choro do inicio da noite e aperto no coração? Por que? Por que? E as respostas: a culpa é sua, a culpa é sua, a culpa é sua.

Porque eu não briguei de forma mais severa quando falei com a minha família sobre o acesso a carro e moto, porque eu não fui mais enfática, porque eu não gritei e bati pé como estão acostumados, porque eu só falei e disse que era errado, em reunião com todos presentes, que eu não aprovo e que eu não queria, mas só eu perdi filho, e a dor, eu sei que todos sentem, mas o silencio, ah! esse silencio GRITA, URRA aqui dentro, ele mora em minha casa, deita em minha cama, se banha de minha inercia e se alimenta de minha saúde.  Ninguém teve culpa...mas ela dorme em meu travesseiro todas as noites.

Nessa gritaria ensandecida de minha razão e de minha emoção, ganha a insana espiritualidade porque nem eu entendo como tenho tudo para me insurgir, para virar a cara e desistir, mas Deus não deixa, e estou cansando de brigar, de gritar, de falar, clamar, chorar...só não oro, porque não consigo, porque não sei mais, porque tenho medo de pedir errado e Dele mandar como Ele quer, então fico na minha esperando ouvir novamente a voz mansa falar comigo, até lá, queria que o mundo ficasse em silencio...psiiiiiiiiiuuuuuuuuuuu!


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