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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

AQUELA MESMA ESTRADA MALDITA - PARTE 2

Hoje tivemos a confirmação, mais uma mãe chora a morte de seu filho. Local: Praia do Saco, estrada que dá acesso a praia, nas imediações de onde Rafael foi vitimado.  Outra moto, outra vida, pessoas em volta olhando, uma irma que presenciou tudo e o motorista que colidiu e o outro que atropelou fugiram do local ao que parece. A minha função aqui não é levantar bandeiras para que os culpados sejam punidos, longe disso, cansei de tentar levantar a minha própria bandeira para tentar descobrir o que de fato aconteceu naquela madrugada do dia 23/05/2011, em que meu filho me deixou para sempre.

Estava passando, eu e Lícia na hora do acidente, no ultimo sábado após ter deixado minha mãe na casa de praia, as pessoas em volta do corpo, o sangue ainda ali, nos deu a impressão de que o acidente acabara de ter acontecido, para falar a verdade, freamos bem em cima do bolo de gente amiudando o local e o corpo, nenhuma autoridade tinha chegado.  Em seguida, vejo a moto caída. Corpo desnudo das vestes de cima, sem sapatos, sem capacete, cabelo curto, não sei precisar a idade pois estávamos no carro e a condição do acidente imperava baixíssima velocidade para passar pelo local. Mas quando me dei conta que era no mesmo lugar que meu filho ficou, pensei naquela mãe, e no meu intimo, gritei: o mundo acabou para você, bem vinda ao time, seja forte e não tenha medo de demonstrar sua fraqueza, vai aprender a não ter planos e a viver um dia de cada vez.

É óbvio que descompensei essas duas ultimas noites e o sono não foi alcançado nem com os amigos inseparáveis, e ficava pensando por que isso acontece de novo? Por que eu tinha que passar por ali naquela hora, justo naquela hora, por que ver tudo novamente, e viver aquilo de novo?  Juro que me esforço para entender para que? Mas não consigo, isso só traz dor de cabeça, desespero na alma, uma tristeza sem tamanho e não posso negar que um pouco de revolta.

Imagino que a morte não seja uma coisa para qual estamos preparados, acho ainda que em muitas ocasiões, ela pode ser desesperadora e em outras tantas alento para aqueles que viver é motivo de sofrimento e dor, mas para aqueles que concebemos, meu Deus, a morte é a manifestação clara da eutanásia em nossas vidas. é como se a cada dia pedíssemos o papel para assinar nossa sentença e acabar de vez com essa falta de sentido.

Achar um sentido. Vivemos para servir, para fazer o outro feliz, para servir a Deus, tantos motivos que possam nos levar a pensar o sentido de nossas vidas, mas em todos esses e qualquer um que citemos, o nosso coração deve estar pronto para alcançar a meta, razão de nossa existência. Ele, apesar de traiçoeiro precisa estar cheio de nossas intenções.

E quando perdemos nosso norte, nossa capacidade de pensar, nosso entendimento, nosso coração também ficou preso ao processo e não conseguimos fazer nada presa ao processo, servir, fazer o outro feliz, ou qualquer outro sentido que antes tínhamos dado a vida.  Entender que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, pode se referir também a morte, é bastante doloroso, como pode cooperar para o bem a morte de nosso amado?

Sempre que me perco em meus pensamentos, viajo por minhas lembranças ao lado de Rafa, mas vez em quando me vejo naquela estrada, juntando as peças da moto, analisando freadas no asfalto, percorro com os olhos o contorno dos corpos no chão do asfalto, e dali em diante percebo que vivo cada dia de cada vez, sem plano, sem futuro, apenas brigando para esquecer aquela estrada e as lembranças ruins que ela me traz.

"Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito,
E que o seu silêncio me fale cada vez mais alto." (Oswaldo Montenegro)




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