Total de visualizações de página

sábado, 17 de dezembro de 2011

AQUELA MALDITA ESTRADA.

Dizer que estamos mal, nem é necessário. Dizer que muitas coisas perderam a graça não é importante, nem noticia nova. Falar que estarmos em família não é mais gostoso, porque sempre falta ele. Dizer que a Praia do Saco, lugar que ele amava, para mim não passa hoje do lugar onde perdi meu filho, e tem duas mães que sofrem a mesma dor que a minha, uma delas, também perdeu seu filho único.   Perdemos nossos filhos no mesmo ano, na estrada a caminho da Praia do Saco.

Hoje fui cedo resolver umas coisas com minha mãe no Centro, e no meio da manha ela decidiu que iria passar o fim de semana no Saco. Por muitas razoes não gosto de voltar lá. Não gosto de ficar na casa, das seis vezes que voltei lá em 04 não entrei na casa, nem no "meu" quarto. De uma das vezes trouxe todas as roupas de cama e mesa, os lençóis que Rafa usou por ultimo, a toalha e nossos retratos lá. Mesmo sabendo que Rafael amava aquele lugar, para mim tudo lá é difícil  A piscina, a quadra de futebol, as redes na varanda, o jardim, tudo. Fico de costas para o sinuca, fecho os olhos e vejo ele chegando e eu reclamando do horário para comer, ou para onde ele foi, ou porque ele não pára um pouco em casa. Ou vejo ele brincando comigo na piscina, como fomos felizes ali, e agora nada.

Tenho uma dor de meu padrasto, tem ficado muito lá. sozinho, porque nós, os filhos simplesmente não conseguimos ficar lá. Sidney nunca foi no Saco depois que Rafa se foi. Ferdinando, foi no Saco durante as idas do processo, para investigarmos o acidente e na missa de mês realizada lá, e   não voltamos. Lícia, foi as vezes que eu fui, com exceção das idas durante a investigação. Nenhum de nos curtimos ou pensamos no Saco como casa de praia, de veraneio, de ferias, de curtição, a gente não suporta mais aquela estrada.

Eu ainda olho e vejo as manchas de sangue no chão, vejo o contorno dos corpos dos dois esticados, e infelizmente vejo as fotos do processo passarem por minha mente. Podemos estar na maior conversa, podemos estar desligadas, podemos estar até rindo, mas chega no lugar eu travo, eu acordo, eu sinto, eu fico nervosa, eu choro, eu quero apagar aquela maldita estrada do mapa.

Minha mãe não estava bem hoje, não esta sendo fácil para ninguém tocar a vida sem Rafa e ela se preocupa com todo mundo e quer fazer tudo para todo mundo e não está podendo nem com ela, então Eu e Lícia preocupadas, não deixamos que ela fosse para o Saco sozinha e dirigindo, resolvemos leva-la.

Saímos do Saco as dezoito e pouco, vinhamos conversando Eu e Lícia,  sobre família e projetos, e de repente um carro parado no meio da pista e pessoas logo na frente sinalizavam que tinha algo errado. Passávamos próximo do local do acidente de Rafa, numa reta interminável, um corpo ensaguentado e imexível no asfalto, a poça de sangue espelhada e uma moto deitada na pista. Perdi as pernas, não sei como continuo respirando. Dói até a alma. Não queria voltar para casa hoje, tampouco ficar sozinha.

Eu sei que as pessoas mandam eu tentar tocar a vida, estou tentando, mas e aí quantas vezes vou para o Saco passar pelo lugar e não sentir nada ou fingir que não vejo?  Engraçado é que nestas horas que preciso gritar e chorar compulsivamente, e perceber que olho a estrada mas não estou só, o mundo dorme sereno e tranquilo, e a maior preocupação que paira e ronda as indecisões humanas é sobre o que vão comprar para não sei quem no Natal.


Nenhum comentário:

Postar um comentário