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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

TIVE ATLETAS-GUIAS, UMA HOJE PRECISA SER AMPARADA.

Neste processo de elaboração da perda, parece que somos levadas a andar por estradas que outras pessoas já transitaram. As vezes pessoas muito ligadas, as vezes pessoas desconhecidas, as vezes elaboramos o mesmo parentesco, as vezes um amor incondicional, mas sempre falamos de nossas perdas, deste processo cruel de tentar ser normal mesmo nosso mundo estando completamente fora de controle, de tentar tocar a vida, mesmo que parte dela tenha sido brutalmente separada da gente.

Tive atletas-guias, bem por que estou chamando-as de atletas guias?Sabem as paraolimpíadas quando vemos os atletas competindo na modalidade de atletismo e sofrem deficiência visual, eles correm com outros atletas, os atletas guias, que têm a função de direcioná-los, de guia-los, estão ligados por uma cordinha, mas que não podem puxá-los, sob pena de desclassificação.

Então porque digo que tive, não, tenho atletas-guias. A cordinha pode ser comparada a dor da perda, ou ao amor que nos uniu no luto. A função de guiar-me vem da necessidade que temos de compartilhar a nossa reação ao processo de luto. A vontade ou não de sair. Se demos ou não os pertences de nossos amados. Como é enfrentar o dia do aniversario, o dia especial e comemorativo sem nossos amados, dia dos pais, das mães, natal, os domingos, o dia em que faleceram, as datas de falecimento. Se dormimos, se comemos, como vencemos cada uma destas fases, etc.

Minha primeira atleta-guia, minha mãe, que elabora ate hoje a morte de meu pai, e me respeita no meu processo, nada foi demais, toda a minha extrapolação, toda a minha necessidade de preencher meus vazios, tudo foi feito com a compreensão dela, que segurava ate as criticas familiares e dizia: deixe ela fazer, usar, encher, depois ameniza, mas tem tempo para tudo, deixe ela seguir...

Minha vizinha, sindica do prédio, que também perdeu seu marido e elabora sua perda até hoje. Os conheci juntos, eram parceiros de tudo, do supermercado a cervejinha do final de semana. Faziam tudo juntos, sinto saudades deles, e da alegria dela de quando ele estava outro dia ficamos até as três da manha ela comentando quando o conheceu, como se achegaram, etc. Elizinha já tem 06 anos sem seu companheiro, mas não tem um dia que me veja que não me beije ou toque a camisa com a foto de Rafael. Ela o amava tanto, fez os bolos de Rafa ate quando seu amor partiu...em seu processo de luto os bolos nunca mais foram feitos. 

Neide, minha amiga na dor, mãe de Rafa Bispo, perdemos nossos filhos na mesma semana, no mesmo acidente, podemos dizer que no mesmo dia, mas para nao ferir os documentos legais, nos despedimos deles com 03 dias de distancia entre meu Rafa e o Rafa de Neide. Reagimos bem diferente, ela trabalha como louca para não esquecer e não fica sozinha de jeito nenhum...eu não voltei ao trabalho e fico mais tempo sozinha que acompanhada, as vezes, não quero ouvir nem vozes ao telefone, e não atendo ninguém. Na ultima semana, meu telefone ficou desligado. Reagimos diferentemente mas sentimos coisas tao parecidas. Aquela estrada nos uniu, e mesmo não nos falando sempre, nem nos visitando, temos uma na outra a força para enfrentar o mundo e descobrir o que aconteceu com nossos filhos.  Trocamos experiencias com remédios, terapias, sintomas, sentimentos, etc.

Márcia, mae de Teteu, nos unimos por dor e amor. Confesso que ter a mesma crença também me fez querer ver de mais perto que isso aconteceria a qualquer um e quanto mais me aproximei da dor dela, podia vê-la carregando a minha e vice-versa. Temos nos tratado mutuamente e embora estagnadas do nosso jeito seguimos em frente. As vezes meus pensamentos são decifrados no blog dela. As vezes penso como devo reagir em tal ou tal data, e quando leio ela fez. Eu me sinto tao perto do que ela escreve e sente, como se expressássemos da mesma maneira esta forma de amar a distancia, de falar de nosso elo eterno.

Mas tenho uma atleta-guia que mora em meu coração primeiro pelo amor que me proporcionou, pelos ensinamentos cristãos, pela vida que me mostrou e pela família que construiu. Eu dizia para eles que eles eram meu presente do consorcio. E foram mesmo, a melhor coisa que podia me acontecer, a unica coisa positiva que ficou. Sinto um orgulho bom de tudo que aprendi com eles, de como me exortaram, me aconselharam, de como ministravam a Palavra ao meu coração. Eu admirava o 2 = 1 deles. Eles eram referencia dos princípios bíblicos para casamento. Mas ele, nosso chines, foi para a Gloria, e minha amiga teve que continuar com o coração partido.  Não a vejo desde dezembro do ano passado, quando estive com eles, pedi ajuda, abrigo de passagem, eu só almocei com eles e voltei para casa. Foi a ultima vez. Ela  tem se levantado para me guiar, para interceder, para orar, preenche meu coração com um amor especial, seus ouvidos sempre dispostos. Sempre me deu muito mais do que eu pude dar.

Minha atleta-guia hoje faria 37 anos com o amado. Ano passado eu estava com eles no dia seguinte ao aniversario de casamento e ela me mostrava, com o brilho no olhar, o presente que ele lhe deu e comentou sobre a surpresa na cidade vizinha. O romance estava no ar, ela feliz, ele super carinhoso, e hoje isso tem um peso  e  machuca o coração saber que ficou para trás.  

Queria dizer tanta coisa querida, mas sei que nada preenche esse vazio, não posso tomar seu lugar e virar atleta-guia e te direcionar, mas posso te dizer o que ouvi em sonhos....não lembre do que não viveu, mas o que você viveu é o bastante para lembrar.  Nosso dia chegará, vamos preencher toda essa lacuna...Rafa dizia que tudo acabava bem, se não está bem, é porque não é o fim...as vezes ouço a voz dele ecoando isso em mim. Queria estar ao seu lado, mas sei que a família linda que você tem, fruto desse amor especial de vocês e da serventia ao Senhor, estão te amparando e que todo esse amor tem sido afago ao seu coração.

Amamos você.

2 comentários:

  1. Oi querids, obrigada pelas palavras, esta atleta aqui esta aleijada este mes, Aniversario de casamento...Nalal...
    Que bom ter conhecido voce, sua amizade e muito preciosa para mim.
    Com muito amor.
    Nely

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  2. Eu que tenho que agradecer.O chines para mim foi um exemplo do combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé e você, minha amiga de todas as horas, ouvinte especial, você é uma mulher virtuosa, seu valor inestimável, incomparavel a todas as riquezas do mundo. Amo voces.

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