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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

QUANDO O JORNAL NÃO PUBLICA SUA NOTICIA

Hoje finalmente saiu o resultado de vestibular da UFS. Segundo o meu sonho, Rafael me aconselha "mãe não pense no que eu não fui, lembre do que eu fui apenas", ou alguma coisa próxima a isso que não vou voltar a postagem do sonho para conferir como ele dizia, mas apesar do sonho, é impossível que uma mãe não se coloque no lugar das outras mães em idade de seu filho e que aguardavam o resultado da Federal.

Na verdade sofro antecipadamente com a veiculação dos resultados dos vestibulares desde o meio do ano, quando foram aplicadas as provas do semestre. Primeiro porque muitos colegas de Rafa fizeram, segundo porque ele estava bem animado, e contando com essa possibilidade e terceiro porque era a realidade que eu estava vivendo: Terceirao, Enem, Vestibular, Cotas.

Aqui em Aracaju não temos o costume de fazer terceiro ano e depois um ano de cursinho para o vestibular, como em muitas capitais, tentamos já no terceiro ano, e o comum é entrar.  Venho de uma tradição de colégios que aprovavam para a UFS, que era a cobiçada independente do que hoje se utiliza para menosprezar o esforço de entrar nela, e além de entrarmos na Federal direto do terceiro ano, tenho muitos colegas aprovados em federais e estaduais pelo pais afora.  De uns tempos para cá tem se dado mais valor as universidades particulares, e fui professora das três maiores faculdades particulares do Estafo, e a aula que daria nelas, dava na UFS, e alguns professores passaram a ser colegas e não vejo diferença entre estar na particular ou na pública, desde que o esforço seja diretamente proporcional ao que recebeu.  Digo isto pelas restrições que tenho ao ENEM, as cotas, etc.

Dito essas informações fica clara que a turma de Rafa, tanto no Graccho, como a turma do Amadeus, viveu até hoje a expectativa do resultado. E junto com ela, vem a cobrança velada dos pais, parentes, amigos, a própria auto-cobrança e todo o desejo do mundo de que aqueles segundos que antecipam o conhecimento do resultado pareçam uma eternidade.  Na hora de procurar o nome na lista, desejamos ter qualquer inicial menos a nossa. E quando o nome é comum precisamos conferir o sobrenome, e quando o nome é difícil parece que os olhos percorrem o texto de forma mais rápida.

Rafael ano passado passou na Fase e também foi chamado para a Unit, os dois vestibulares que fez, ainda cursando o segundo ano. Lembro dele chegando em casa, e eu perguntando como foi, e ele falando sobre assuntos que não tinha nem visto e resenhando para dizer como tentou resolver.  A gente ria junto, mas não tinha tanta cobrança, era um vestibular para experiencia, só que ele passou, deu certo. Emancipamos e tentamos autorização judicial para fazer supletivo e cursar. Eu ainda tinha receio sobre essa decisão, mas ele tinha apoio de outras forças familiares, no final, vencida, o apoiei. Saiu a sentença, recorremos, perdemos, o juiz entendeu que com 16 anos ele não deveria entrar. Uma pena, me formei aos 21 em um curso de 05 anos.  E não fui estudante imatura por entrar cedo na faculdade. Hoje acredito que Rafa tinha que ir mesmo para o Graccho, precisava conhecer pessoas, precisava estar em casa, para partir em família, é como me sinto lá, e ele pode também se sentir assim.

Ano passado beijei-o, fomos a casa de minha mãe (moramos no mesmo prédio) ele recebeu os parabéns e deixamos para comemorar na sexta, pois minha família achou melhor sair no dia seguinte. Nunca fizemos a comemoração.  Meu filho comemorou com seus amigos, os melhores, na mesma noite. De uma forma atrevida, perigosa e corajosa, pegaram meu carro e saíram, só soube depois que ele partiu, quando o mais responsável deles, em visita logo depois do falecimento de Rafa, e contaram sobre o que fizeram. Mas não o vi careca, nem alegre em demasia, nem realizado.


Hoje obviamente que feliz com os que passaram, obviamente que esperava resultados mais animadores para a maioria dos meninos que vi crescerem, mas aprendi nessa jornada que esse resultado não é capaz de dizer quem somos, nem de ditar quem seremos. É apenas, sem desmerecer o esforço de ninguém e sendo extremamente solidaria e contente com os que lograram exito, solidarizo-me agora com os que tinham nesta porta a ultima esperança.


Muitas vezes a vida não publicou a noticia em minha pagina. Em tantas outras, minha noticia já agendada foi cancelada, em tantas outras a noticia já não fazia diferença em minha trajetória, então,  essa é mais uma das muitas vezes que a vida não publica nosso nome no jornal. Hoje ao invés de procurar o nome de Rafa, deveria ter recebido o nome para colocar na lápide. Mesmo essa, não ficou pronta hoje. Então, é olhar para frente, porque essa é a vidinha que vamos levar, com ou sem nome na lista de aprovação, ela sempre nos tirará da noticia algumas vezes.


Apesar do dia sofrido, ele começou e terminou com noticias boas, dentro do possível.  Sonharam com Rafa e me avisaram ainda cedo, e mais uma vez, ele falava, estava comigo o tempo todo, sabe que estou triste mas está bem e a noite, outro Rafa, meu ex-aluno, ao se formar, em seu convite, nos agradecimentos, fez uma referencia e postou sobre a unica coisa da qual me orgulho: mãe.  


Que as mães sejam abençoadas, independente da aprovação de seus filhos, porque sei que sofreram junto.




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