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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

QUANDO A ANORMALIDADE É NORMAL PARA O MUNDO.

Estou no olho do furacão. Muitas vezes penso sobre a passagem bíblica de edificar a casa sobre a rocha...eu achava que estava no caminho, e de repente, um furacão toma conta de tudo, e minha casa desaba.  Os últimos furacões, fenômenos da natureza que acompanhei, tinham nomes de mulheres e eram arrastadores.

Tentei descobri como os furacões são nominados, e me surpreendi, ao perceber que eles tem nomes de pessoas porque os estudiosos usavam esta técnica como forma de facilitar a comunicação em caso de emergência, e durante muito tempo, os nomes eram escolhidos de acordo com o santo do dia, como por exemplo o furacão Santa Ana, em 1825. A partir de 1953, os americanos começaram a nominar os furacões com nomes de mulheres.

Já ouvi tanta piada sobre as comparações do que mulheres e furacões são capazes de fazer, mas o que vale a pena ser pensado é que quando se usa nome de mulheres ou homens na comunicação escrita ela se torna mais clara, rápida e causa menos erros.  Cada ano uma lista de nomes é preparada para  ser utilizada na próxima temporada de furacões.  Qualquer país que sofreu o ataque do furacão usa o nome e o escolhido sai da lista e não pode ser utilizado novamente por 10 anos, para evitar confusões de comunicação e controle.

Meu furacao nao estava na lista, mas devastou toda a minha cidadela, meus muros, minha casa, meu porto seguro. Meu furacão foi exclusivo e até que o mesmo nome seja usado para definir outros furacoes, a dor de perder um filho, é tao exclusiva quanto as avariações que uma cidade sofre quando se despedaça aos pés de um furacao.

Paises que precisam se levantar apos um furacão sempre tem as marcas de suas perdas e as vezes ate encaram com normalidade, ate treinam a população para reagir a isso. Meu furacão, não tem treinamento que minimize. Dizer a uma mãe de forma natural que deve enterrar seu filho e que todos morrerão um dia e achar que isso é normal, só me faz sentir anormal num mundo onde exceção virou regra.


Risquem o nome do furacão da lista, ele não poderá fazer mais estragos do que já fez, ele não destruiu  apenas a cidade...ele enterrou vivo os meus sonhos, minha vida, meu animo e minha esperança em dias melhores.


Escrevo as três da manha, do dia 31 de dezembro de 2011, de Lisboa, porque a fúria do furacão que passou em minha vida, ainda não permite que eu encare meus escombros, e se para você isso for anormal, reflexo de fraqueza ou falta de fé...imagine se perder de você mesma...o furacão levou tudo de mim, e o meu melhor...meu filho unigênito.  

Lembro de uma musica que eu amava, e que Rafa aprendeu parte dela no violao...hoje ela esta forte em mim....apenas esses versos me ninam hoje...como os nossos pais...




"Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...
Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais..."

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