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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A MELHOR NOITE DOS ULTIMOS 202 DIAS

Rolei na cama, demorei a dormir, postei 02 mensagens do blog, ouvi musicas em seu quarto, entrei e sai do facebook varias vezes, lembro de desligar a TV as 4 da manha. Quando os remédios fazem efeito, a tv ligada -pois as vezes durmo antes de programa-la - não me atrapalha, mas ontem não conseguia dormir e tudo era exaustivamente cansativo, os carros, o latido do cachorro num terreno próximo ao prédio, a freada dos ônibus de hora em hora no ponto próximo ao edifício, etc. Era um sono irregular, mas depois das 4 até seis horas conseguir dormir e seis e pouco acordei.

Não lembro se sonhei neste cochilo, mas dormi duas horas como se fossem doze. Eu não consegui dormir mais, estava preocupada teria pericia novamente hoje e não podia perder a hora, queria conseguir chegar cedo. Tomei banho peguei táxi e cheguei na porta do trabalho e não consegui descer, um desespero tomou conta de mim, não consegui entrar no prédio. A pericia não estava marcada, mas eu queria ir, queria que os médicos me vissem, me acompanhassem, como estavam fazendo até então. Acompanhei muita gente em processos parecidos, e tentei mudar um pouco a assistência que o órgão deveria dar as pessoas, eu estava agora naquela posição. Voltei para casa, chorando, eram antes das sete e quinze. Liguei e disse que tentaria voltar a tarde, se não conseguisse, eles deveriam vir aqui, como fizeram as outras vezes.

No caminho de volta para casa, lembrei de meu sonho, corri desesperadamente para a cama, coloquei de volta o pijama, e consegui adormecer num choro que lavava a alma. Sonhei de novo, acordei perto de nove, minha mãe esteve aqui, não percebeu nada, não comentei, ela teria uma segunda-feira bem importante e não queria tira-la do foco das coisas que ela precisava resolver, e que eu queria ir com ela, mas algo bem dentro me pedia para voltar para cama, e voltei. Consegui dormir novamente, e sonhei mais uma vez, e quando acordei, lembrei dos três sonhos, todos continuados, e não se passava no mesmo dia, mas em dias próximos, talvez numa sequencia mesmo.  


E nos meus sonhos, meu maior desejo, ver e ficar um pouco com Rafa. Ter um sonho normal, com ele normal, com nossas coisas, ter um sonho que enchesse minha vida de um desejo novo, de novo sentido. Ele aconteceu. Sonhei com Rafa, vi meu filho em idades diferentes, tao lindo, tao meu, tao ele...que escrevo sem me conter. 

Precisei sair para pagar contas do dia 10 e chorava pelas ruas, como sempre faço quando ando pelas ruas que Rafael andava, e aqui é muito a nossa cara, crescemos aqui, estudamos aqui perto,  mas hoje meu choro estava diferente lavava minha alma, é como se morássemos em países que demoram 202 dias de viagem e que não podemos ficar muito tempo com nossos amados, então os parcos dias juntos são intensos, é uma dor pela partida que se aproxima e uma alegria que não cabe dentro da gente pelo reencontro. Tanto eu quanto Rafa estávamos assim, cheios, plenos, tanto amor e saudade, mas não falávamos sobre o assunto, sobre aquela visita, sabíamos que ela era breve, mas seria intensa e inesquecível .

E preciso registrar o primeiro sonho desde que ele se foi, em que entendi tudo, em que o via vivo, em que ele falava, beijava, ria, em que eu o tocava, embora mais ninguém, que também estava nos meus sonhos, o via, o tocava, falava com ele, etc.  Meu sonho (vou considerar os três como um único sonho porque ele era continuado) tinha coisas reais e coisas bem fantasiosas, mas nós dois éramos nós dois, como sempre fomos em casa.  Estávamos em época perto do Natal, eu estava de mudança e me instalava num apartamento que parece o que estou de olho, mas os móveis a decoração era tudo diferente, era como eu gostaria que fosse e os toques de Rafael em meu gosto.  Muitas das cores que penso só eu sabia e ele compartilhava e comentava onde eu fui, onde eu vi e o que ele achava, me aconselhava a trocar cor do que eu comprei, colocou tudo que eu comprei no uso, ele mesmo distante esse tempo todo demonstrou estar tao perto que tinham coisas que eu não compartilhei com ninguém e ele me falava no sonho sobre essas coisas. Era real, ele continuava sendo meu parceiro.


No sonho eu estava de ferias, e ele parece que também conseguiu uma, ele sabia que eu não estava trabalhando e entendia que eu não podia retornar, ele não me cobrava nada, nem o retorno ao trabalho ou a igreja, ele entendia e estava vivendo comigo aqueles momentos. Nos sonhos tínhamos uma empregada antiga (que não conheço, isso era fantasia, não vi quem era, mas era muito próxima a gente) e tínhamos um decorador em casa, um assistente de um programa americano, Gravidas e Peruas, que Rafa nem assistiu nenhum comigo, e ele é hilário. Para apimentar o tanto que você brincava com ele, e ele tinha uma relação próxima e carinhosa com a gente, estavam dormindo lá em casa Gui e Tico, na desculpa de estudarmos com Gui, e Alyson viria nos encontrar, mas não apareceu no sonho. Os meninos, claro, tiravam a maior onda com o decorador. Tentaram convence-lo  a ser o garoto propaganda do GTR Sonorização. Bem, para aumentar a zoadeira que vocês faziam, Sidney e Fefe também zoavam com os meninos, e Roberto ainda aparecia na hora de almoçar e as brincadeiras se intensificavam.

Estávamos em mudança, no meio dela, as caixas e caixas amontoadas nas salas e minha família toda ajudando a desembalar, furar, pintar, fazer textura, todo mundo em nossa casa, parece que eles queriam que eu passasse por aquilo e não me sentisse sozinha, foi aí que percebi que eles não te viam, não percebiam que eu tinha você, como nas outras vezes. Percebi que quando eu chamava você, e você deixava os meninos no quarto e vinha me atender, eles ouviam minha voz te chamando, se entreolhavam, mas não via que você vinha, que você segurava, que você subia na escada, que você tirava onda comigo, que você palpitava, montamos a decoração de Natal inteira juntos. Fizemos laços da arvore, você definiu as cores, colocou as bolas e o Papai Noel Novo, o tapete do lado de fora, brincava comigo, apertava, beijava, e as vezes reclamava porque eu não te deixava em paz, te dando um monte de tarefas, e o apartamento cheio de gente que podia ajudar, mas eu queria só você fazendo aquilo.

Estranho é que tanto eu quanto você sabíamos que você não estava de volta, era uma visita, e não nos enchíamos de perguntas, a gente tentou curtir todo o tempo, estarmos juntos em família, estávamos todos na nossa casa, o Natal seria lá e você estava curtindo isso, tinham pessoas nos ajudando e voce também gostava quando eu não inventava coisas e ficava estressada fazendo tudo sozinha, você tinha um interesse maior de participar de tudo comigo, como se soubesse o quanto era importante para continuarmos distantes com estas novas lembranças, seus amigos estavam presentes, e amei eles no sonho. Mas só eu te via, e só eu conversava, e os outros so diziam que não tinha jeito eu havia enlouquecido, minha mãe então, olhava e dizia para os meninos não comentarem nada, ficava regulando Sidney e Fefe (meus irmãos), que achavam que eu estava maluca. Mas ela olhava para Lícia (minha irma)  e ela com os olhos cheios de lagrimas, eles não me confrontavam mas também nao entendiam nada, aí você me acalmava.

E você ria, porque você lia o que eles pensavam e me dizia o que eles tinham em mente, e me acalmava, ser louca naquele momento era bom, era o único jeito de burlar a realidade e matar nossa saudade, você me fazia me sentir normal mesmo que o resto não pensasse isso e me alisava falando sobre isso, sobre a unica forma que você achou de matar nossa saudade, e quando você me falava isso, parecia que só tinha a gente no apartamento, e a medida que chorávamos nos alisando, nos acarinhando, você sentado em meu colo, seu rosto ia mudando de idade, desde os tempos em que você tinha os cabelos grandes ate o finalzinho quando você cortava de 15 em 15 dias. Pedi para te ver careca, como se tivesse passado no vestibular e você disse, não mãe, lembre do que eu fui sempre, o que eu não fui, deixe para lá. E eu ri, mas consegui te ver careca e beijei sua careca. E você sorriu para mim daquele jeito de quem tinha aprontado, como você fazia quando soltava pum e eu perguntava e você já contava uma piada, você falou que gostou do que eu escrevi. E riamos. E você me olhou e disse, você deu o único beijo que levei em minha careca, por toda a vida. nos abraçamos, mas você me punha para cima.


Te perguntei porque seus irmãos e seus pai e Jack não viriam ficar conosco, e você disse que demorou muito para conseguir ficar comigo esse tempo todo e que precisávamos passar por isso juntos, que você os vê com frequência por conta dos meninos que são crianças, mas que o jeito que você conseguiu para vir ficar comigo, juntava minha família toda, e se eu não gostei disso. Respondi com um abraço, era um tempo só nosso, porque as coisas no apartamento fluíam, paredes eram pintadas, texturizadas, lustres, etc. Almoçamos e na mesa, todas as comidas preferidas de todo mundo, você comia o que voce mais gostava que eu fizesse, e o almoço era uma brincadeira só, Roberto, Sidney e Fefe tirando onda com o Gordinho e você  me dizia o que eu falar.

As vezes eu não entendia como ninguém te via, os meninos dormiram no colchão de ar de casal no chão do seu quarto e eu via você na cama, eles brincavam de wi (que você foi comprar comigo nas Americanas)e você ria na sua cama e eles não te viam nem sentiam, mas porque não dormiam na sua cama, eles estavam alegres e você não cabia em você de felicidade. Você começou a dizer que ia tirar onda com os meninos no jogo e dizia que o gordinho era cagão, então voce burlava  o controle e eles não atendiam o comando dos meninos e eles vieram me reclamar que podia ser defeito para que trocássemos os controles, você me mandava testar e eles funcionavam normalmente. Você começou a tirar onda e eles foram ficando com raiva do jogo, bem no final eles desistiram e perderam, aí quando aparecia o nome de quem tinha vencido, aparecia no lugar  da figura que eles escolheram sua foto. O gordinho não aguentou de medo. Eu ri, e você disse, pior que ele mainha é meu avô, nem sei quando for a vez de falar com ele.


De repente o interfone tocou, era Vada dizendo que estava orando e torcendo por mim e ele pediu para subir e falar comigo, mas fiquei receosa o apartamento numa bagunça, todo mundo dormindo lá, aí você me disse que era para eu recebe--lo e convida-lo para o Natal conosco, não entendi nada mas ele subiu, e quando viu a gente numa felicidade, ele nao entendeu nada, mas disse que queria passar natal com a gente e voce disse que sim, que eu devia falar com ele e quem sabe ele entenderia tudo, nao liguei muito para isso, não fiquei te questionando nem voce me pressionou, porque voce sabia que tinhamos pouco tempo para aproveitar.

Meu sonho nao foi ate o Natal. Mas dormimos e no outro dia tínhamos tudo para colocar em ordem, eu e você ficamos responsáveis pelas  coisas de Natal, parecia vitrine de loja, você queria usar tudo, todas as cores, tudo foi colocado para fora, os piscas, os brilhos, fizemos a guirlanda como todos os anos, os meninos continuavam tirando onda, Gui continuou me enrolando para estudar, talvez Salete não deixasse Tico dormir mais uma noite, Sidney e Fefe tocavam a pintura e a parte elétrica, minha mãe e Lícia tocavam as caixas e as arrumações, almoçamos novamente e  você nem ligava o que eles comentavam quando me via falando contigo e não te ouviam, e a gente começou a entrar numa fase de mais cumplicidade, começamos a ficar calados só riamos e nos olhávamos, como se eu entendesse que esses momentos não chegariam ate o Natal. Trabalhamos, arrumamos tudo, você falou o que eu deveria trocar, disse que estaria me ajudando, que eu não me preocupasse, e na hora de dormir pediu para dormir comigo. 


Eu sabia que você iria logo, você só pedia para dormir na minha cama, quando eu ia viajar ou chegava de viagem depois de um bom tempo fora, ou quando você chegava das ferias com seu pai, e falei que podia vir, não estávamos tristes, sabíamos que agora nos veríamos mais, e conversamos, falei de como eu gostava de vê-lo tocar, percebi que meu dia-a-dia sem ele ele conhecia, ele acompanhava, não me cobrou nada, apenas me amou, compreendeu-me,  rimos, brincamos, vimos um filme comemos pipoca, vimos fotos, nos beijamos, você me abraçava me apertando impedindo que eu me libertasse, os beijos estalados no ouvido, adormecemos,  continuei dormindo e   de repente acordei. Cheia de você. Chorando pela visita e certa de que terei muitos e muitos sonhos ao seu lado.

Obrigada Deus, porque nos fez capazes de sonhar, preciso sonhar mais, sempre com a alegria de meu filho que mais uma vez em sonhos cuidou e me fez viver a coisa linda que era estar ao seu lado. Lembrei-me de um verso Seu, vivica meu filho no Seio de Abraão e a mim, que estou morta neste deserto. Chama a existência o que estava lindo e radiante em meus sonhos...  


 Como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem.(Romanos 4:17)




2 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigada Margareth pela visita e pelo comentário. A vida com e sem Rafa continua repleta de emoção, pelas lembranças, pela saudade, pelos sonhos, pela vida que levamos juntos e principalmente, pela pessoa que ele foi. Um beijo em seu coração.

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