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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

POR QUE O LUTO FAZ O CORPO SENTIR DOR?

Fico muitas vezes questionando porque fisicamente meu corpo dói. percebo que o luto, a perda, a saudade provoca uma dor tamanha dentro da gente, mas que também tem muitos reflexos do lado de fora. Tem dias que o meu corpo inteiro fica dolorido. E não falo do simples fato de somatizarmos não, falo do processo em si, da dor interna se traduzir externamente em sintomas que antes da perda já conhecíamos, afinal ter dor de cabeça, cansaço muscular e uma ou outra indisposição faz parte da vida dos pobres mortais.  


Só que me pergunto porque o luto precisa adoecer o corpo, a mente, o físico e as vezes o espirito? Não tenho explicação cientifica para citar aqui, nem quero, eu só consigo dizer que o luto adoece, e imagino que o luto por um filho deva ser o pior luto, e as dores que sentimos se extravasam externamente, hoje posso colocar as mãos e sentir cada parte doente de meu corpo.


Muitas vezes digo que um caminhão passou por cima de mim e eu preciso levantar correndo porque ele está voltando de ré e pode acabar de me esmagar. Eu até penso e preciso levantar, mas as dores não permitem, não me deixam sair do lugar, por mais força que eu reúna ainda é insuficiente para que eu me livre da situação e percebo que quando não estou no controle disso, a minha vida fica nas mãos do motorista do caminhão.


Estou há seis meses estirada na rua e esperando o caminhão retornar e terminar de fazer o que tem que ser feito, porque tenho a impressão de que os meus ossos foram triturados, meus ligamentos rompidos, como se eu tivesse levado surra tão grande, que o externo se confunde com o interno, e aqui analogicamente seriam meus mundos, meu pesar interno e minha tristeza somatizada externamente.

Estes dias, com a tosse e os medicamentos para controle, meu corpo tem estado muito dolorido, minha dor interna tem se associado a dor externa, e se transformado em dores musculares, dores nos ossos, dificuldade em locomoção, e que quando ataca tudo até andar é dolorido. Eu nem sabia que isso era normal neste processo, e que uma pessoa consegue viver com tudo isso guardado.


Como eu descobri a normalidade? Ouvindo de outras pessoas enlutadas, nos blogs, nas anti-salas dos consultórios médicos, nos testemunhos que ouvimos, ficar doente e sentir-se doente é um brinde que ganhamos quando perdemos quem amamos, em uma data inesperada e de forma súbita.  As vezes eu nem conheço e nem falo com a pessoa, mas a necessidade de falar do luto e de demonstrar externamente o que o luto fez com a pessoa, fez com que eu percebesse que ter insonia, não dormir,  não comer, não ter vontade de fazer nada, perder peso, cair cabelo, quebrar dente, ficar gripado intermináveis vezes, ficar com o sistema de defesa imunológico baixo, ter alterações menstruais, dores de cabeça intermináveisdificuldade de concentração e raciocínio, alterações no sistema digestivo, respiratório, circulatório ...é normal.

Olho para todas as mazelas ocorridas depois que Rafa se foi e todas ainda continuam existindo, todas as dores, enfermidades, dificuldades estão presentes para não permitir que esqueçamos, é como se sinalizassem externamente nossos movimentos internos. Eu tenho dito que até pentear o cabelo dói e confesso que muitas vezes só faço isso durante o banho com muito condicionador para me poupar de tantas outras dores que querem dominar o processo.


Penso que o amor e a perda fazem isso conosco: provocam uma revolução que não sabemos mais onde não dói na gente, é como se esses valores, sentimentos e emoções, que nos invadem no luto (inconformismo, revolta, dor, ansiedade, perda, luto, vazio, saudade, amor, culpa, etc) tivessem todos ecoando dentro da gente, e que isso entra em conflito com a nossa plenitude de coisas tão antagônicas como: amar e culpar, amar e inconformismo, amar e não poder ter, querer e não receber, receber e ter que devolver, etc; 


Quando olho para dentro de mim e vejo todo o amor por Rafa aqui, sem poder trocar com ele, ofertar para ele, seguir com ele, amar e sem poder dar, demonstrar para ele, falar do meu amor por ele a ele, eu vejo que todo esse amor vai me inflando, vai me enchendo e que eu posso estourar...é como se guardássemos o maior amor do mundo...dentro da gente, e ele não coubesse aqui dentro porque ele vai esticando nossa pele, comprimindo os ossos, pressionando os vasos,  provocando uma dor tão grande que parece que a gente vai explodir.  Estou nesta fase da compressão, tudo dói em mim, tanto dentro quanto fora.


Saudade é uma coisa que dói, no peito, na alma, nos ossos...a dor é tão grande, que por alguns segundos é como se tivéssemos com febre alta, convulsão, delírio e a gente até pensa que não é verdade, que não está acontecendo conosco e em seguida, a febre baixa um pouco e a gente percebe que de tudo que imaginamos,  só existem duas coisas reais...a sua dor e a ausência dele.


Eternas saudades, ainda muitas dores, meu inesquecível Rafael.



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