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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

MAIS UM MES

Eu fico tao assustada e amargurada quando começa um mês, porque sei que logo, logo estarei longe de Rafa mais um mês. Minha distancia dele não se mede em quilômetros, mas em horas, dias, meses, e me dói demais pensar que poderão ser medidos em anos.  

Quando me desejam qualquer coisa e dizem que Deus lhe dê o desejo de seu coração, a primeira coisa que penso é em morte, é como se não fosse permitido pedir para Rafael voltar então eu peço para morrer e ir ao encontro dele.  Depois que a pessoa me repreende eu penso em dormir, bem que eu podia dormir de novo, sem remédios, sem passar mais da metade da madrugada em claro, e sem passar dias a fio brigando com o sono.

Eu sei que não deveria pensar em morrer, que pode ser até pecado, mas ele é tão pequeno na nossa ótica perto da dor. Quantas mães conheci que tentaram suicídio, e defendo que esse não é o caminho de pessoas fracas ou de loucas, precisa ter muita força mesmo para comete-lo,  tanto quanto para não faze-lo, mas o desejo é sempre de morte.  É como se a morte nos premiasse de duas maneiras, porque nos livraria do desespero, angustia, vazio, dor e loucura de continuar sem nossos filhos e de quebra nos dá a pseudo sensação de que iriamos para perto deles.

Sinceramente, pensei muitas vezes nisso. No inicio, nenhum apelo religioso ou dogmático me convencia de que seria uma eterna condenada, de que iria para as profundezas do inferno, ou qualquer coisa assim. A unica coisa que me manteve longe de minha justiça, era o fato de não provocar em minha mãe aquilo que eu dizia que Deus estava provocando em mim. E obviamente que por trás desse meu argumento, eu tinha uma igreja inteira, amigos e irmãos na fé que me sustentaram em oração.  


Um dia muito difícil, uma pastora de São Paulo, mãe de anjo, a mãe do Teteu, me mandou uma mensagem por e-mail e no orkut, toda preocupada e me deixou uma mensagem na secretária. Essa mulher é muito usada em minha vida, descobri seu blog por acaso (http://maesefilhoseloeterno.blogspot.com.br) e desde então entrei em contato, deixei uma mensagem, e apesar de na época já escrever aqui no blog, eu me me sentia tão contemplada por suas palavras, temos tantas coisas em comum, e nos amamos profundamente, na dor e na esperança.  Aquele mensagem tocou profundamente e impediu que eu fosse adiante, provocando um sono que podia ser irreversível.

Nunca falei tão claramente aqui sobre como pensamos em suicídio. Eu só tenho, ou tinha um filho, nada me motivava a continuar, mas os relatos das outras mães que me procuraram ao longo desses meses, e de mães que tentaram de fato acabar com o sofrimento agindo desse jeito, após perder um filho, comprovam que independente de nossa crença, do numero de filhos que tivemos, de nossa escolaridade e formação, e da circunstancia de morte de nosso amado, pensamos nisso, mesmo quando se tem outros filhos e eles ainda dependem da gente.  Nosso discurso por vezes é contraditório, estamos vivas, mas agimos como mortas e nossos filhos mortos ficavam cada vez mais vivos dentro de nós e em nossa volta.

Dizemos que acreditamos na vida eterna, em Deus, em Sua justiça, de que nossos filhos estão bem do lado do Pai, de que estão melhores do que quando estavam conosco, de que viraram estrelas, mas de fato, não queremos estar longe e maquinamos maior parte do tempo uma forma de nos reencontrar.

Mais um mês chegando. Vou entrando para os 15 meses sem Rafael. Cada dia que fica acrescido em nossa distancia, nos traz a memoria o mesmo desespero dos dias em que a morte era a unica saída. Combatemos isso até hoje, a cada novo dia, porque a força não é nossa. Continuo dizendo a Deus todos os dias que Ele que me pôs no buraco, que Ele deve me tirar disso, e cada dia o peso é maior.  Mas cada dia tem o seu próprio mal, e vivo cada um...ainda não como se fosse o ultimo como Rafa me deixou em um cartão que postei ontem no Facebook, mas como se fosse o ultimo de nossa distancia.  

Engraçado, que todo ultimo dia do mês, peço a Deus para que o  novo mês não comece.  Todo mês tem uma lembrança...esse mês é dia dos pais, mês de aniversario de casamento, mês de aniversario de meus padrinhos e as lembranças desses dias são tao presentes. As melhores fotos que tenho com Rafael foram tiradas nesse mês, ha dois anos em Juiz de Fora.  Mais um mês, e ainda o desejo de que ele não termine...pelo menos para mim.

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