Total de visualizações de página

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

EU QUERIA TER ME DESPEDIDO

Eu queria ter me despedido.  Não! Minto mesmo, porque queria mesmo era que nada tivesse acontecido. Mas a sensação de não ter te dado o ultimo beijo, sabendo que era o ultimo, de não ter te olhado intensa e ultimamente, sabendo que era a ultima vez, sem ter te dado o ultimo abraço, sabendo que não te teria entre os meus braços de novo, e te dar enfim meu ultimo beijo, sem ser aquele ultimo em sua testa, e na sua boca  naquele caixão.

Hoje estou assim, cheia de remorso. Uma culpa que não cabe no peito, uma saudade que não se explica e um monte de indagações que o tempo, há esse que dizem que é o melhor remédio, pois é o tempo sequer abranda a quantidade de perguntas que me faço e que te faço todos os dias.

Em dias assim, não pergunto nada para Deus, é como se eu fosse capaz de ouvir o sussurro Dele me dizendo que um dia eu vou entender tudo.  

Hoje eu não quero entender, só hoje, eu queria me despedir. Queria o abraço que não se separa de tão longo e apertado que fica, como de casais enamorados que moram longe e toda vez que se encontram  e se despedem o coração de tão apertado avisa a mente que pode ser a ultima vez, que não terá reencontro, embora sonhem com isso.

Eu só queria passar a mão por entre seus cabelos, e ouvi-lo dizer que estou desarrumando o que você levou horas para ajeitar no espelho do banheiro, mas se eu parasse de alisar sei que você também reclamaria, então ficaria horas alisando o seu cabelo e teria você mais uma vez deitado em meu colo. Hoje eu queria ter coçado zilhões de vezes aquelas costas, sabendo que seria pela ultima vez.  Sabe quando eu dizia, Rafa tem tantas cadeiras vazias filho, mainha tá cansada sente ali, e você continuava em meu colo, mesmo aos seus 17 anos, eu queria te ver sentado em meu colo pela ultima vez.


Quis tanto filho te por no braço ali no IML e no velatório e te aquecer como aqueci as suas mãos, porque não a larguei um minuto.  Lembra quando você apertava minha mão? Fazia isso sempre que andávamos de mãos dadas.

Hoje eu queria cortar as suas unhas e quando chegasse nas unhas dos pés queria ouvir você reclamar dizendo que estava doendo antes de eu encostar a tesoura e  pedir para eu ter cuidado com a carninha presa a unha, faria isso com todo cuidado novamente.

Hoje eu queria ficar cheirando você deitado em minha cama, e beijando com estalos no ouvido, como sempre brincávamos e vendo-o reagir e ouvindo sua risada, sua gargalhada pela ultima vez.

E enfim, quando eu sentisse que ia não ia ter jeito, que eu teria que me separar, falar tantas coisas em seu ouvido, falar olhando em seus olhos e dizer de como seria breve essa distancia, de como ia doer, mas que eu estava sempre contigo, e que estaríamos todos juntos sempre, e dizer como seria os primeiros 14 meses, de como todo mundo ia sentir sua falta,  de como nos comportaríamos diante da dor, e só depois disso me despediria de cada centímetro de seu corpo com as minhas mãos e terminaria num longo e prolongado beijo de até breve, se cuida filho e não esquece o quanto eu te amo. 

E assim aos poucos e a cada dia a gente ia construindo um futuro breve para nossas vidas ai onde você está e até lá continuaríamos andando de mãos dadas e eu o amando cada vez mais,  apesar de ter sido tirado tão cedo de meu colo e  de meu abraço, eu teria a sensação da ultima vez. 

E só assim, lentamente perceberia que o que falam sobre superação nada mais é que conviver doída, mutilada, faltando uma parte de nós, a melhor delas. 

 E assim, todo dia olharia para tras com gosto de saudade de tempos que não voltam..e para frente, com o olhar da esperança do reencontro.  E quanto ao presente, apenas viveria um dia de cada vez...e cada vez mais cheia do vazio. Mas sem a sensação de que não me despedi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário