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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

UM PASSO PARA FRENTE E DEZ PARA TRÁS

Um passo para frente e dez para trás. Acho que é assim o processo do luto. Não sei, acho que nos lutos dos filhos sim.  Ontem eu não cabia em mim de felicidade, afinal estar cercada por pessoas tão importantes para nossos filhos e que demonstram um carinho grande por nós e por eles, ainda é a melhor forma de consolo, pelo menos por enquanto tem funcionado para mim, eu amo estar entre eles, os amigos de meu Xeberel, parece que o sinto mais perto, por mais que doa quando me afasto.

Mas tem o dia seguinte. O dia do vazio de novo. O dia do silencio em casa. O dia da nostalgia. O dia sem cor, sem som, sem risada, sem cheiro. Ah! os dias de saudades apertadas no peito. De pressão 19x13. De insonia madrugada à fora. De percorrer os espaços, ouvir vozes interiores que te lamentam a ausência, e te procurar em cada canto da casa e não te achar.

Hoje foi meu dia seguinte. Dia de sentir raiva, raiva de mim que não te impediu de partir, de sentir muita raiva porque você não está aqui, como se você tivesse tido a chance de escolher partir.

Um dia disseram que a gente escolhe morrer, e eu morri de raiva, porque se você tivesse escolhido me deixar sem você, eu não suportaria ouvir de sua boca essa escolha. Ainda bem que não penso assim.

Acho que luto também é isso. Sentimos raiva porque vocês partiram. Como ousaram desobedecer desse jeito, e ir embora sem a permissão da gente, seus pais, porque se pedissem de fato, acho que não daríamos, não importa se estavam sofrendo aqui. Pai e mãe, achariam um jeito de suplicar, clamar, barganhar, implorar a Deus mais uns dias de vocês. Daríamos as nossas vidas por isso.  Mas vocês insistiram e fizeram escondido, nem nos perguntaram, apenas foram.

E a gente faz o que agora? Estou andando em círculos. Ou um passo para frente e dez para trás.

Esse universo de pais sem filhos é muito maior do que o que imaginamos. Nem cabe na minha cabeça a quantidade de dor se pudéssemos somar todas as mães e pais que choram filhos.

Nem é suportável no mundo esse choro de dor, acho que por isso andamos assim, um para frente e dez para trás, porque se marchássemos no mesmo compasso e sempre adiante, o mundo não suportaria nossos dias seguintes.

Somos elos de uma força e de uma dor que move nossos corações a dar apoio uns para os outros, enquanto um festeja outro chora e ali adiante trocamos de posição. Festejamos coisas tão simples, e as vezes banais para o mundo.

Contamos com glamour qualquer sonho que temos em que seus nomes são pronunciados, e se os vemos nos sonhos, quase proclamamos feriado nacional, aí tem a hora da escassez dos sonhos, nos sentimos preteridos, como se um sonho nos colocasse num patamar espiritual e emocional diferenciado.   Quantas vezes com vocês aqui, sonhávamos e sequer comentávamos. 

Cada palavra dita ou publicada a respeito de vocês, mesmo sendo coisas que já estamos carecas de saber, tipo quão lindo, ou esperto, ou inteligente, ou gente boa vocês eram, nos fazem repetir e ecoar dentro da gente e fora também, como se gritar ao mundo quem vocês foram, fizesse com que vocês ficassem mais tempo conosco.

E choramos basicamente pelas mesmas coisas. 

Um passo para frente e dez para trás. Talvez eu tenha dado dois, no mesmo fim de semana. Talvez tres, considerando fim de semana anterior...mas hoje, andei uma milha para trás, porque é  lá, no passado e na saudade que ainda me encontro e que te acho preso ao labirinto de meu amor enlutado.

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