Total de visualizações de página

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

EU QUERIA SÓ APERTAR O PLAY

Não tem uma área de minha vida que eu não sinta dificuldades hoje.  E obviamente que todas elas esbarram num fator, e não vou aqui creditar todo o resultado a episodio morte de Rafael, na verdade, a morte em si nos consome rapidamente. Esse universo nos engole naquelas horas do sepultamento, enterro, funeral e retorno para casa.  O que pesa de fato não é a morte. É a vida.

O peso de perder um filho para morte é menor do que o peso de ter que continuar a viver. Difícil entender isso, mas é aqui que reside toda a dificuldade de seguir em frente.  Nada em minha vida seguiu em frente, a não ser o calendário marcando os dias que me separavam fisicamente de Rafael.

Minha vida pessoal parou no tempo. Não conseguir andar para nenhum lado. Eu só não deixei de ser mãe de Rafa, embora não pudesse exercer a maternidade.  Deixei de ser filha, de ser irmã, de ser tia, de ser prima, de ser neta, deixei de ser amiga. Simplesmente não consegui ser nada além da mãe de Rafa, mas ninguém entendia como se exerce maternidade de filho que partiu. E então começamos a enfrentar os primeiros problemas, você não é aceita nem compreendida.

Minha vida profissional parou no tempo e espaço. Eu chegava de Brasilia naquele fim de semana anterior ao acidente de Rafa, responsável por um programa de auditoria na minha Regional, tantos planos e desejo de por em pratica processos que amo, especializei-me na área, sou, ou era, apaixonada por RH. Depois de 14 meses afastada, parece que não tenho nada em comum. Novo prédio, nova rotina, e o serviço hoje não me dizem nada. Nem as pessoas. Eu era apaixonada por gente. Hoje me escondo dos olhares, ando cabisbaixa e hoje soube que sou julgada ate pelo que faço. Descobri que se você não sai por conta da depressão, as pessoas te condenam,  e se você sai reagindo a ela, as pessoas te criticam, mas em suas madrugadas, não tem um pé de gente, destes que pegam o megafone e falam besteira.  

Não voltei ao consultório, não retomei as aulas, não retomei a ajuda a minha mãe na empresa. Não retomei meus projetos antigos de estudo, de emprego. Simplesmente, parei no tempo e no espaço. Não tenho direção nem sei por onde começar. E não tenho nenhuma vontade ou motivação. E antes que já falem...isso nada tem a ver com força de vontade.

Minha vida espiritual, meu Deus, essa então a mais abalada. Porque essa é a mais abstrata, a mais íntima, a mais profunda de todas e segurava todas as outras áreas. Brigar com Deus, ver todos os meus princípios ameaçados pela cegueira que a dor causa, ver a fé tão dissipada me trouxe mais conflitos ainda.  Ainda é a área que tenho mais dificuldades, porque a esperança nasce nela. A minha vida espiritual alimentava todas as minhas outras áreas. Não estou defendendo perfeição, nunca fui, mas o Senhor que conhece, sonda e esquadrinha meu coração sabe o que me motivava. E perdi essa motivação ao me perder no caminho.

Ainda não consigo olhar para outro lugar que não seja para a dor, para as lembranças, para a saudade e para o calendário que marca essa distancia, entre o tempo em que Rafa era a minha motivação para continuar  e hoje que não sei para onde ir.

Se fosse só a direção o problema, seria mais fácil resolve-lo, mas me intriga não ter vontade, vontade de nada. As vezes sinto vontade de comer alguma coisa, se não for na hora, ela passa e nem como. É uma sensação de que nada nos satisfaz, e por conta disso não nos expomos a satisfação, já sabemos que não tem continuidade.

Seguir em frente. Esta tem sido a palavra de ordem. Parece que o mundo em uníssona voz exige que sigamos em frente. Era tudo que eu queria, seguir em frente, mas não é só apertar o botão do play. Minha fita precisa ser concertada, emendada, e forçar o aparelho a rodar sem a devida remenda está causando um dano maior que o da perda  de Rafa, estão me forçando a desistir.



Nenhum comentário:

Postar um comentário