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terça-feira, 7 de agosto de 2012

INTACTA RETINA

Sempre gostei de uma musica... CAJUÍNA...porque ela sempre poe a duvida da vida na roda. Existirmos a que será que se destina?

Muitas vezes em minha vida perguntei sobre a finalidade dela. Por que passar por isso tudo? Obvio que em alguns momentos, estar vivo era sublime, eu sempre fui uma pessoa que se considerava feliz, nunca precisei de muito. Sempre achei que a felicidade estava nas pequenas coisas, e amava ver quem eu amo feliz também, e se eu pudesse ser veículo dessa felicidade, eu estava realizada.

Apesar das tribulações baterem sempre a minha porta, nunca é fácil, independente de quem você seja, perder quem você ama. Minha vida foi sempre marcada por perdas.  Nos melhores momentos de tudo, eu sempre perdi.  Perdi meu pai quando começava a desfrutar de um pai que já me entendia crescendo, já não era mais só a menina dele, estava virando mulher.  

Ele já começava a regular a roupa, eram as mesmas que eu usava antes e eram compradas por minha mãe (sou de uma época em que crianças não demonstravam vontades, usávamos o que os pais determinavam), mas no seu ultimo final de semana comigo, ele antes de sairmos de casa, para a viagem da qual ele voltou falecido, subindo na caminhoneta (eu era o rapaz da casa, amava essas coisas de estar com ele subindo e descendo, e no caminho da praia, tinha a nossa cachoeira  então já saiamos de casa prontos...e só eu e ele geralmente tomávamos banho, minha mãe e meu irmão não gostavam, daquela água gelada sobre os ombros e dos nossos mergulhos nas partes profundas) meu pai retrucou para minha mãe, Lu, esse biquini já não serve para muriçoca (ele me chamava assim, as vezes Lukinha), era o meu biquini predileto, e nem conversei nada, minha mãe só mandou eu entrar e trocar.  Meu pai não teve tempo de me explicar e de conversar em que fase eu estava entrando. Tao importante na vida da mulher, a presença do pai...apesar de maravilhoso, não pude desfrutar da companhia e dos ensinamentos do meu.

Em seguida, as tribulações de nossas escolhas, perder amores, oportunidades, amigos, parentes que se vão, professores que fizeram a diferença em sua vida, empregos. Perdas comuns, tidas como naturais, pois desconheço que não tenha perdido nada. Aliás, desconhecia ate 2011.  

O pai de Rafa, nunca tinha perdido ninguém, e quando estávamos juntos, ele nunca conseguia dimensionar o sentido de perda. Um dia, em que estávamos fazendo a mudança da lápide e dos restos mortais de meu pai, e ele acompanhou parte do processo, ele falou com tanta naturalidade sobre os restos, que eu me incomodei, e ele falou que não conseguia dimensionar que aquilo eram só ossos, estávamos eu, minha mãe e ele. E apesar de mais de 15 anos do falecimento, eu e minha mãe ainda tratávamos com muito respeito e amor aquilo tudo.  Para fazê-lo entender, usei a analogia ao que ele mais amava, disse, se fosse seu filho, depois de 15 anos, como você trataria. O vi chorar pouquíssimas vezes nas vida (enquanto casada acho que só essa).   Em 2011, ele perdeu no mesmo mês,  um irmão e seu primogênito, nosso RAFA.

Em todos esses processos eu me perguntava para que existir? Qual o sentido de continuar? Até então meu filhote não estava ali...depois dele, eu continuava por e para ele.

Ele se foi...e a pergunta clama cada dia mais forte. Hoje ela grita e ensurdece a minha alma.

"Existirmos, a que será que se destina
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmos na intacta retina
A cajuina cristalina em Terezina"

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