Total de visualizações de página

sábado, 11 de agosto de 2012

PAZ SEM PAI

Como sempre prefiro ir a última morada, em dias e horários que não tenham muita gente. E em datas próximas a fatos marcantes do pai de Rafa, eu faço questão de me antecipar, é como quando eu o preparava para quando ele fosse passar o fim de semana, ou viajar nas férias escolares ou feriados com o pai. Eu gostava de que ele se mostrasse muito bem, alem de dizer olha ele está sendo cuidado, dava um certo conforto em não ser recomendada por nada.

Hoje não é essa a preocupação, mas de certa forma, é se for lá, ele não vai ver abandono, eu continuo cuidando. Se ele for lá, basta o sofrimento por ir, não quero que esteja vazio ou apenas limpo, quero cor, quero um pouco de vida, de palavras, de amor, porque foi o que sempre demos ao nosso filho.

Levei as mesmas rosas amarelas, sempre simbolizarão o que tenho de mais precioso por Rafa, um amor a um amigo inesquecível, muito mais que filho, amarelo simboliza a alegria dele, e a energia que ele tinha. Eu sinto tanto a falta disso tudo aqui em casa. De movimento, de barulho, de vida, as vezes as cores daqui de casa me incomodam, mas as mantive, talvez ate a tenha tornado mais colorida, só por sua conta.  Depois, coloquei nossas gerberas, lembro sempre da gente olhando cada botão que abria. Sei que deve ter flores lindas quando nos encontrarmos novamente e tomara que dentre elas nossas gérberas....

Mas uma coisa me incomodava hoje, porque ano passado a dor desse dia, véspera do dia dos pais era tão grande, mas impossibilitada de vive-la com plenitude, para proteger minha própria vida preferi sumir. Hoje ela, a dor, continuava aqui e sumindo ela não se dissiparia, então enquanto tive forças apareci...transpareci.

Assim que perdi meu pai...levei anos a fio para sentir paz em relação a viver sem ele, e confesso que em muitos momentos ainda sinto a falta e é para o colo dele a vontade que tenho de correr primeiro, seja com noticia boa ou ruim, ao longo de todos esses anos esperei seu colo, seu conselho, seu carinho e sua companhia.

Nos primeiros 10 anos sem meu pai, alegria nunca era completa. E olhe que minha mãe se empenhou. Outro dia ela me perguntou aqui em casa, numa terça-feira há umas quatro semanas atras, o que tinha mudado quando ele partiu para gente, se referindo certamente a parte econômica, acho, porque a emocional, ela nunca conseguiu suprir, embora ache muitas vezes.  Mas minha mãe tem pais vivos até hoje, não vai saber nunca a falta que um pai faz a filhos de 12, 09 e 01 ano de idade, mesmo 27 anos depois.  E também não sabe a falta que um filho faz a um pai que sobrevive a sua morte. O pai de Rafa, hoje sabe.

Mas Rafa chegou e a alegria de perder pai foi compensada de certa forma em poder fazer de alguém pai de meu filho.  Obvio que quando se concebe com amor, quando se cria uma família no amor, e fomos assim um dia, e Rafa foi fruto disso.  E nesse celebração ao amor, Rafa trazia para nossas vidas uma alegria que eu já havia perdido, e a vontade de comemorar tudo de novo: Natais, festas juninas, aniversários, etc.  Rafa teve essa função em minha família, e com mais força ainda com minha separação, porque minha família aumentou, nós voltamos para casa. E de certa forma, mesmo sem pai eu tornei a ter paz.

Hoje, paz sem pai e pai em paz...esbarra na tristeza de ter entregue meu filho ao PAI.



Nenhum comentário:

Postar um comentário