Vi de perto a dor do outro. E me surpreendi.
Será que quando a morte bate à porta, traz consigo a dose extra de coragem: coragem de ser o que já não é mais, coragem de fazer o que não se tem vontade e coragem de esperar o que não tem mais concerto.
Será que quando a morte bate à porta, traz consigo a dose extra de coragem: coragem de ser o que já não é mais, coragem de fazer o que não se tem vontade e coragem de esperar o que não tem mais concerto.
Hoje encarei o mesmo velatório. A mesma sala onde me despedi fisicamente de RAFA. Nem a ultrapassei, e eu ali de novo, de cara com a dor. A dor do adeus. Não era apenas uma exigência social. Eu queria em meio a dor, dizer, estou em cacos, não te sirvo, mas estou aqui disposta a servir. Não sei onde, nem como...mas aqui.
Minha mãe à tiracolo, é de onde tiro minha força. Mesmo eu me mantendo longe, distante, perdida, calada e contida, dela, eu tiro minha força. Não cairia do lado dela, não pela força dela, não para não derrubá-la. Mas ela não lembrava, enquanto eu brigava com meu próprio corpo para chegar ali, no limite daquela sala, que era a mesma sala. Hoje tão pequena, naquele dia de nossa despedida ela parecia tão grande e mesmo assim não cabia a minha dor. Hoje olhando aquela dimensão percebo que não era para caber mesmo. Ainda não cabe no mundo, e transborda de mim.
Chegando lá vi a força da morte e a coragem que ela traz. Uma coluna me recebia, e eu, que queria ajudar apenas desmoronando. O mundo a chamará a partir de hoje de viúva, há apenas algumas horas ela era o bem de alguém, pois assim se chamavam.
Acho que nesta hora minha cabeça só pensava, você nem sabe o que vem pela frente. Mantenha-se forte, sempre falou de forma tão preparada em passar por isso, mantenha-se forte. Quinze minutos minha permanência, e o suficiente para ter medo de voltar para casa.
Acho que nesta hora minha cabeça só pensava, você nem sabe o que vem pela frente. Mantenha-se forte, sempre falou de forma tão preparada em passar por isso, mantenha-se forte. Quinze minutos minha permanência, e o suficiente para ter medo de voltar para casa.
Não voltei. Fui ao posto, em frente ao cemitério. De costas para lá todo o tempo. Vontade de quebrar tudo e entrar. E a voz ressoava...seja forte.
Vi de perto a dor do outro, e me voltei mais para minha dor, e percebi que a coragem a morte nos leva, e a vida sem a coragem apenas nos relembra o que deixamos de ser, o que deixamos de fazer, e o que continuamos cada dia mais sentindo.
A fortaleza da dor...muralha intransponível de uma lápide que aprisiona o sopro da espera e a alegria do reencontro.
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