Confesso que algumas historias bíblicas falam profundamente ao meu coração, falavam antes e continuam falando. E algumas, que antes não tinham uma repercussão em minha vida, passaram a ter, de alguma forma me falam diferente do que me falavam antes.
Ontem ouvi um pouco sobre a historia da mulher de Ló que olha para trás e vira sal. É difícil parar de olhar para dor, porque estamos misturados a ela, as vezes nem sei quem sou sem ela mais e ela tem estado tão junto, tão perto e tão profundamente entranhada em mim, que não consigo ignorá-la. E infelizmente, olhar para ela é o cotidiano, ela existe, é real e nos aprisiona mesmo, no passado, porque é no passado que está a nossa fonte de alegria, e no passado também temos a nossa referencia de felicidade, e olhar para o futuro, sem a dor, é impraticável ainda, então ela nos impede de andar, e é assim que sinto e compreendo este momento, mas na minha pequenez e dificuldade de entender a realidade que tem se mostrado fria e implacável, que vejo a analogia que a estatua de sal.
Na Bíblia não olhar para trás naquela situação era romper com a conivência maléfica, com a aceitação de costumes que eram reprovados aos olhos do Pai, e dali daquela terra ele tirou os Seus e permitiu que a toda a terra sucumbisse. Aos Seus, ordenou que não olhassem para trás.
Tento e me esforço para que isso seja aplicável em minha vida, mas hoje olhar par trás é a minha fonte de consolo, olhar para o que Rafa foi, o que representou e representa. Suas escolhas, sua forma de levar a vida, seus valores, seu jeito especial de cuidar e sua capacidade de doação de alguma forma abranda o sofrimento, embora seja a fonte de toda a dor, porque perdi uma pessoinha muito especial e muito parceiro em minha vida. Mas tento esquecer todo o resto.
Tento imaginar que remoer minhas escolhas, minhas falencias emocionais, minhas heranças e minhas culpas poderiam me transformar em uma estatua de sal, e com esse passado eu tento romper, esse passado será meu Sodoma, e para ele nem quero olhar.
Mas o passado que construo e alimento em mim, o passado com Rafa, é o sal da minha terra e a luz de meu mundo interior, o que me alimenta para esperar o reencontro em Deus, na casa do Pai.
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