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domingo, 17 de junho de 2012

COMO LIDAR COM A DOR ANTES QUE VIRE APENAS SAUDADES

Eu sempre ouço as pessoas falarem que a dor da perda, o luto, o vazio, o desespero que toma conta da gente quando perdemos alguém importante, que tudo isso vai se transformar em saudade. Que isso fica mais brando, mais leve.  Mas eu não sei se isso vale para quando se trata de mãe que perde filho.  Porque quando eu encontro com alguma mãe assim, que enfrentou a morte de um filho, elas falam que isso nunca passa, então eu não sei dizer mesmo.

Eu já vi uma mãe que perdeu um filho único dizer que ser abandonada em vida, é pior do que ser abandonada por alguém que partiu por conta da morte. Na época, eu fiquei conturbada, como uma pessoa podia dizer que perder um filho doeu menos que ser abandonada por um amor? Se antes eu não aceitei esse argumento, hoje que sei o que é perder filho...posso dizer que nada, nenhum tipo de dor, nem de abandono se aproxima disso.

Falam que a dor de parir e a cólica renal, são as piores dores que um ser humano enfrenta.  Minha avó dizia que a dor de uma boa abortadura era mais forte do que a dor de uma pior paridura. Tradução: a dor do aborto é pior do que a dor do parto.

A verdade é que senti todas essas dores: do parto sem passagem, do aborto com cólica forte aos seis meses de gestação, aos três, aos dois; a cólica renal, algumas crises com internação e a dor do abandono e a dor de abandonar. NADA PODE SER COMPARADA A DOR DE MÃE QUE PERDE FILHO.

A gente tem várias formas de lidar com a dor. A gente foge dela, mas ela continua ali. Ela acorda antes da gente, ela nos olha no espelho antes mesmo de escovarmos os dentes, ela senta em nossa mesa e faz as refeições, ela controla o nosso sono, o nosso enfado. Fazemos um esforço muito grande para não encontrá-la e ela nos grita aos ouvidos todo tempo. A gente se esforça para fugir e quanto mais nos escondemos, mas ela nos encontra e nos persegue, até que entendemos que a dor faz parte da gente...que a gente é dor.

Ou então a gente assume a dor. Mas isso não faz com que ela fique mais branda, mais suave e menos dolorida. Não a dor nos invade da mesma forma e nos aprisiona do mesmo jeito, a gente só acha que porque a assumimos, temos controle sobre ela, mas isso não procede. Ela tem vontade própria e quando a gente menos espera ela também toma corpo, toma o nosso corpo, e entendemos que a gente continua sendo dor.

Talvez o segredo seja esse. Aceitar que ela exista em nós e esperar...quem sabe um dia ela mude de nome. Quem sabe um dia você consiga dizer para ela o quanto ela mudou e neste dia você a trate por outro nome...apenas por saudade.


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