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domingo, 9 de outubro de 2011

SUSPIRO SEM ALÍVIO

Amor, nem virando a pagina dá para continuar...é um peso acorrentado aos pés...e o cheiro de rosas que não sinto.  Foi assim que acabou o dia.  Resolvi  que não sairia de casa, tenho buscado o ostracismo essa semana, foi pesada, foi dolorosa passar por um evento familiar sem Rafa, o primeiro de tantos que Deus vai permitir, mas que eu sinceramente não queria estar aqui para participar.

Resolvi fazer um trabalho bem braçal, que pudesse me preencher todo o dia...varei a madrugada. Eu precisava por em dias os quase 04 meses sem passar ferro nas roupas. Eu havia passado todas as roupas de Rafa, havia passado roupas de cama e banho dele, e apenas isso. Nos baldes de roupas limpas ainda tinham roupas que eu não queria ter contato, como, o ultimo lençol de minha cama que ele deitou, as roupas que usei no funeral, ainda as roupas da mala de Brasilia e todos os lençóis e toalhas ao longo de todos esses meses.

Passei ferro sem pensar, me dei o luxo de ficar emburrecida hoje, só raciocinava em desamassar as roupas, aguentei ate umas seis, e não tinha chegado da metade, mas precisei sair para comprar remédios, não havia dormido no domingo, e a segunda sempre me surpreende.  Era um final de semana, ou um domingo em que o amigo de Rafa estaria pela primeira vez no Saco, eu queria afastar essa ideia de minha cabeça, não me preocupar com eles, nem com minha mãe que também estava lá e dormir era a melhor opção. Resolvi sair para comprar remédios.  Não achei nas farmácias, procurei nas dos shoppings em um não tinha, no outro, quando vi o parque de diversão  sentei ali no batente da Riachuelo e chorei vendo os brinquedos, por um instante pensei em entrar no parque e brincar como fazia com ele, não sei o que me segurou. 

Desisti. Também ate agora não sei porque não entrei e não gritei, e não urrei, e não suspirei sem me sentir aliviada, apenas lidei de um jeito diferente com toda essa raiva que a perda também traz.  Resolvi procurar o remédio, também nao achei, e comprei um lanche, afinal as oito da noite eu já sentia necessidade de ingerir alguma coisa que não fosse coca-cola.  Voltei para casa e Deus havia preparado um colo. Déa vinha em casa, e com ela sozinha eu podia chorar e dizer que quanto mais choro mais lagrimas tenho, parece que isso não passa, que não tenho ainda sentido e não acho motivo para continuar, o simples fato de estar vivo não parece suficiente para  mim.

Parece arrogância ou burrice de minha parte, tanta gente brigando para estar vivo e eu menosprezando minha vida desse jeito, mas simplesmente não sei o que fazer, mas aquela historia de que levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima não funcionou para mim.  Eu ainda não consigo me mexer, talvez ali presa pelos cintos dos brinquedos do parque e sem precisar fazer nenhum movimento eu consiga dar volta por cima, porque aqui em baixo, meus suspiros nada mais são do que meu esforço de buscar o ar para continuar viva, mesmo me sentindo morta.

Eu sempre vou querer te ter, e te ter, e ter....

O Filho Que Eu Quero Ter

Chico Buarque

É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer.
Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr.
E assim chorando acalentar
O filho que eu quero ter.
Dorme meu pequenininho,
Dorme que a noite já vem.
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem.
De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar,
Quando eu chegar lá de onde vim.
Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim.
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim.
Dorme menino levado,
Dorme que a vida já vem.
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem.
Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu.
E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz e me embalar
Num acalanto de adeus...
Dorme meu pai, sem cuidado.
Dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter...




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