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sábado, 29 de outubro de 2011

A DOR QUE NAO TEM NOME NEM FIM

Hoje pela manha aconteceu o que eu esse tempo inteiro quis evitar...me deparar com a dor de outra mãe, que que eu não conhecesse nem a ela nem ao filho que partiu.  Sem que nada tivesse sido organizado ou combinado, paramos o carro no centro da cidade, minha mãe comenta, a dona dessa loja perdeu dois filhos em um único acidente, num período de forrós, há alguns anos.  Eu perguntei, ela tem outros filhos? Minha mãe responde, isso é irrelevante porque a dor é a mesma, são filhos, tanto faz ter um ou ter vários é a dor de mãe que perde um filho.  Concordei com ela, mas no intimo, acho que quando você tem um só, misericórdia, parece que o mundo acabou, é como se você não tivesse motivação para continuar e outro filho eu sempre acho que ajuda neste processo.

Entrei na loja a procura de um copo para por em minha garrafa de água na cama, cujo copo quebrou anteriormente.  Era uma loja que sempre comprava cuja atendente sempre me convida para entrar na loja quando eu passo na porta.  Hoje ela não me chamou, só me cumprimentou e não veio me seguindo como usualmente faz. Em vez disso, veio outra moça. Nunca a tinha visto lá. Achei o copo, perguntei o preço, antes dela me responder, ela me indaga: sua camisa é lembrança? Eu, sem entender, retruco: Como assim? Ela pergunta de novo: Ele era o  que seu? Era seu filho ou seu irmão? Eu já chorando, ela fala, eu perdi dois sobrinhos, e chama uma moça no caixa, que está chorando, e diz...ela também perdeu um filho. A moça do caixa olha para mim e diz...essa dor não vai passar nunca, estou te avisando. Eu perdi dois filhos num acidente na volta de Rosário do Catete, um de 22 e outro de 19, no dia 10/06/2006, nunca mais essa dor passou, eu estava aqui chorando, eu fiz nome deles, mandei fazer os arranjos de flores para o dia 02, é assim filha, eu só tenho hoje a mais nova, uma menina.  Aí me perguntou, você tem outros filhos? Eu só balancei a cabeça, já nao consegui falar. Então ela me perguntou quanto tempo tem que ele faleceu? Eu mostrei a mão aberta, não conseguia falar...a essa altura minha mãe e minha irma já estão na loja.  

Eu recebo um copo de água, pago meu copo e fico fora da loja, sem conseguir esperar o troco lá ouvindo aquela mãe.  Agora estou pensando nela, naquela dor dividida, chorando dois filhos, também separada, mas não sozinha, ainda lhe resta uma filha, a menor, a mais nova, hoje adulta.  Mas disse se sentir só.

Saí de lá com aquelas palavras cortantes...essa dor não passa nunca, tem 05 anos que choro sem parar. Dias como o de hoje, sábados, ou datas especiais são inevitáveis.  Andando ainda pelas ruas do centro, entro numa loja, para cumprir uma empreitada de minha mãe, quando me deparo com um dos dois amigos inseparáveis de Rafa, e sei que mesmo ele em silencio, e sem nos falarmos ou vermos tanto quanto eu achava que ia acontecer, e mesmo sem participar tanto quanto eu gostaria da vida deles, sei o quanto eles sofrem. Imaginei meu filho ali, e num abraço demorado, onde o choro foi conseqüência. Senti naquele abraço uma saudade incontável e um conforto concomitante. Pensei de imediato, por que meu Deus? Por que eu não pude ter meu filho, por que tão cedo? Por que aquela mãe perdeu seus dois filhos? Por que Neide não pode ficar com o Rafa dela (também vitimado no acidente de Rafa)? Por que Márcia perdeu seu filho? Por que?

E como se não bastasse para o sábado, depois do almoço fomos comprar uma antena, no caixa, a moça pergunta quem é o rapaz da camisa, lê a mensagem e eu já digo...não comente nada. Saí da loja arrasada e no corredor do shopping uma menina me aponta e pergunta é ela? Aí a outra fala, é sim é Annalu, a mãe dele...e m dá um abraço, e mais uma vez venho as lágrimas.  Ela tem cuidado de mim, com os torpedos, as mensagens, as piadas pelo celular, as palavras de encorajamento. Ela me abraçava e alisava a camisa e dizia o quanto sentia a falta de Rafa.

Eu tentei provocar o mundo Rafa, para que o mundo não esquecesse que você viveu e abrilhantou o mundo com seu jeito, sua alegria, seu despojamento e sua doação.  Eu tentei filho, expor aqui fora, aquilo que carrego aqui dentro e percebi hoje, que mesmo que eu tatuasse a testa, vestisse roupas de saco como no VT, ou fizesse qualquer outra coisa maior que estampasse o meu luto, nada disso traduz exatamente essa dor, porque ela não passará nunca, porque ela não tem nome, nem fim.

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