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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

MAES PARA QUE SERVEM.

Hoje estava conversando com minha mãe, depois de uma semana sem vê-la,  apenas nos falamos por telefone, e assim passamos a semana. Hoje ela me indagou se eu acredito ou não em Deus, se eu não creio que Deus tem o melhor para mim, mesmo que seja recomeçando a vida sem Rafael, e falou de forma austera que eu tinha que tomar uma posição, principalmente tendo tido o filho que tive, o menino alegre e as coisas de que foi capaz de abrir mão pela felicidade dos outros e de se doar sem reservas em tudo que fazia.  Ele tinha um compromisso com a vida, e com a alegria, eu, segundo ela, tinha que pensar em como Rafa levou a vida.

Falamos da dor e da necessidade de seguir em frente e que a minha prostração diante da vida já deu o que tinha que dar. Percebi para que servem as mães, e também constatei que ela, assim como os demais seres humanos, inclusive eu, não estão preparados para sentir dor ou ver as pessoas sentindo dor. As dores são provenientes do pecado, eu creio, como também a morte, e por isso estamos sempre combatendo, esquivando, esquecendo ou fingindo superar tudo isso.

Minha mãe ilustrou a passagem com sua dor, em relação a falta de meu pai, há 26 anos. Nem consigo imaginar tudo que ela passou e passa, pois viuva aos 33 anos com 03 filhos menores de 12 anos, não deve ter sido fácil. Não estou comparando dor, só queria que entendessem perdi um filho. Já perdi marido, dói, não foi morte, sei que não foi tão difícil, mas filho, nem dar para comparar, pois já perdi pai também. Não penso que para ela foi mais fácil porque refez a vida, penso que a mesma dificuldade que tinha em olhar para nós os filhos e se encher de duvidas eram as mesmas motivações de não se entregar porque ainda tinha nós 03.

Eu não tenho ninguém. E não falo para que sintam pena, ou dó. Eu fico as vezes mais de 24 horas sem pronunciar um palavra, não tenho com quem, e não tenho também o que falar, não tenho quem pergunte ou responda, não tenho rotina de casa, não tenho família, apesar de ter mãe, 03 irmãos, padrasto, avos, padrinhos e amigos...agora em casa, sou eu e eu, ou eu e DEus, apesar de que ate ELe as vezes também fica maior parte do tempo mudo comigo.

Não falo que não tenho família anulando a minha, mas quando temos filhos, nossa ótica de mundo e vida é para eles, eu não me sinto como uma mulher que separou e voltou para casa dos pais e tem que se acostumar com a nova vida de solteira, eu me sinto como alguém que não tem para onde ir. Pois em nenhum lugar onde ela vá ela consiga se encontrar. Mesmo nunca tendo saído de seu lugar, de sua casa, de seu ninho.

Sei que querem me ver bem, e eu também, sei que tenho dado preocupações, mas não quero fingir só para não preocupar, não vou me poupar de sentir tudo isso, pois há 26 anos eu enterrei tudo bem fundo para não doer e as consequências do enterro doem ate hoje, se eu tomar a mesma decisão novamente não conseguirei me reerguer, então, eu só queria dizer que estou tentando, fracassando a cada dia, mas tentando, pensando em desistir a cada instante, mas tentando, achando que não suportarei nem mais um segundo, mas tentando.

Pode ser que não esteja fazendo nada certo, nada do que julguem que eu deveria fazer, nada do que esperavam que eu fizesse, mas eu sempre me pergunto, procuro não comparar a vida de ninguém e tento seguir a minha, mas se você perdesse seu filho, se só tem um, ele mesmo, se tem mais de um, todos eles, como você acha que sua vida estaria?

E aí me vem logo a mente pessoas que na dor tentaram fazer algo que melhorassem a vida do outro, acho tudo louvável e bonito, não sei o que vou fazer, talvez não abra uma fundação ou uma ONG, não consiga colocar o nome de rafa em nenhum local publico, talvez nem consiga fazer um movimento para erradicar os animais na beira da pista na BR estadual que liga Aracaju a praia do saco, talvez passe o resto de minha vida chorando no meu quarto escuro...só estou esperando qual é o melhor de Deus que ainda estar por vir,  e se depende que eu faça alguma coisa para Ele agir? Confiar e descansar NEle? Pronto, esta tem sido minha luta diária. 

Quer me ajudar, não me julgue,  ore. Ore por mim, por minha família, e por minha mãe em especial, porque ela, mais que qualquer um, tem tentado de todas as formas me tirar deste buraco. Pena que não depende dela.

Eu não cancelei a linha telefônica de Rafa, são 1:41 da manha, converso agora com uma menina que manda msg para o celular dele falando que sente falta da amizade. É a terceira pessoa para quem respondo hoje. Hora, se passados 04 meses e 20 dias as pessoas, adolescentes que conviveram com Rafa alguns curtos anos, ainda manifestam a saudade e a falta do amigo que ele faz, imagina em minha vida, meu melhor amigo tendo partido, meu filho, meu tudo, minha razão de acertar, minha razão de viver, e eu amando e buscando e me entregando por inteiro a Deus e louvando-O e adorando-O e sou surpreendida com uma fatalidade dessa, como você reagiria? 

Então não me julgue, tente só aceitar minha forma de manifestar o que sou agora, e que nunca mais serei quem já fui um dia, meu riso e minha alegria nunca serão os mesmos, pois cada um é cada um...e a dor e a relação que cada mãe tem com seu filho é diferente, unica, inexplicável e sem medidas. Para isso servem as mães, amar incondicionalmente.

Eu continuo amando o meu filho e todo o seu legado, seus amigos, sua historia. Por isso está dificílimo continuar ele era alegria de minha vida e de minha casa.

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