A minha esperança tem cor, é preta, fúnebre e tem gosto, de fel, amargo que trava na boca e tira o paladar de todas as outras coisas que possam sem apreciadas, também tem cheiro, daqueles de roupa que não secam direito e beiram o morfo e o azedo e ao toque se comporta fragilmente, um grande ou menosprezado problema faz com que essa esperança se dissipe e dê lugar ao vazio. Dizem que isso pode ser depressão, eu chamo de desespero, de falta de sentido, de vazio mesmo de cheiro de morte.
Meu jardim não era sortido, mas tinha flores o ano inteiro e seu perfume exalava para toda a vizinhança, quem teve oportunidade de colher uma flor do meu jardim, sabia que tinha as mãos perfumadas por um perfume que marcava a vida, laboratório exclusivo, único frasco, com 1, 87 cm de altura e um poder de fixação que perfumava muitas vidas concomitantemente. Ele me dava esperança, e me levava junto nos sonhos, sonhava rasteiro e alto ao mesmo tempo, sonhava sonhos de vida ideal, sonhava sonhos de amor de esperança, de diversão, de amizade.
Venderam o terreno do meu jardim e não me deram o direito de preferencia. Puseram concreto no meu jardim e não sinto mais o cheiro da esperança exalando de lá, tampouco colho flores que jamais florescerão em minha vida, ao invés disso, uma grama nova se instalou, seu nome: saudade. Ela não cresce verticalmente, é sempre rasteira e nunca pode ser arrancada, quanto mais se meche mais resistente fica, não tem cheiro, não ter cor, só é forte, apesar da aparência fraca, ele é devastadora, quebra o concreto e invade as paredes dos mausóleos, dos corações, das mentes que não se curvam, mas não encontra nada lá, só o vazio que ela provoca porque arrancou a vida ali contida.
A minha esperança é cinza, do céu nublado da chuva que se forma e não caiu, do sol que se aprontou e não se abriu, do vento que não é forte o suficiente para provocar a chuva nem fraco competentemente para permitir que o sol apareça.
A minha esperança é roxa, cor dos mortos, das túnicas, dos hematomas, do sombrio, do grotesco, daquilo que não exala alegria...esperança...só a sinto nesta musica, quem sabe um hino para outros tempos, porque hoje... não a tenho, meus olhos veem as mesmas coisas desde o dia 23/05 - vazio e dor, coisas sem sentido, sem nexo, sem razão, sem você, filho, não encontrei a trilha, o caminho, o ritmo, a direção, o passo, um lugar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário