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domingo, 16 de outubro de 2011

REVOLTA E INCONFORMISMO

Todas as vezes que tenho que lidar com os sentimentos que a falta de Rafael provoca me sinto revoltada, mas não preparada para rebelar-me a ponto de me insurgir e lutar contra esse processo de sufocamento. Sempre que penso em revolta, penso em uma situação de não equiparidade, alguém que tem mais forca ou poder e por liderar ou dominar os demais gera um sentimento de inconformismo capaz de suscitar um grande capacidade de desordem, de rebelião ou de motim.

Eu tenho vontade muitas vezes de brigar com o mundo, de me revoltar com tudo, de demonstrar a minha rebeldia e o efeito de sedição que esse processo provoca, gerando concomitantemente os sentimentos de traição, abandono, expropriação e acima de tudo de negação da realidade.  Como é cruel esse processo.

Eu deveria reagir diferente a traiçoeira morte. Até hoje não sei dizer se ela é mais amena quando chega de supetão ou quando nos avisa paulatinamente que bate a nossa porta, só sei dizer que ela é inimiga, de qualquer forma que chegue, nunca nos achara preparados. Não sei sobre os que partem, mas com propriedade, sei falar dos que ficam.

Perdi coisas importantes na vida. Perdi pessoas, perdi oportunidades, perdi contatos, perdi controles, perdi a razão milhões de vezes, mas é a primeira que me perco, por ter te perdido, filho.  Não sei dizer se alem de conviver com essa mutilação emocional se conseguimos depois de perder um filho, único, nos sentir pessoas normais ou de alguma forma especial para Deus.

Uma coisa posso dizer, a chuva cai para todo mundo, ela não molha só os bons, ou os que estão mal vestido, ou os que não mentem, ou os endinheirados, então percebo que a  morte pode bater a porta de qualquer um. Bateu na minha.  O que não consigo ainda compreender, é qual o sentido que Deus tem querido operar em minha vida com tantas perdas.  Perder pai com 38 anos quando se tem apenas 12 anos  e o único filho, com 17 anos, aos 38 anos é sem duvida gostar muito de andar na chuva.  Tenho uma relação intima com a morte, e consequentemente, com perdas...mas até hoje não aprendi a perder.  Talvez agora fique mais fácil, não se tem muita coisa a perder, ou se é que se pode dizer, talvez seja isso, perder é natural, então que caia a chuva.

Essa também é uma postura de revolta e inconformismo, talvez seja a etapa do luto que hoje me encontro, meu puro desencontro.

Eu passo dia e noite tentando achar uma saída, um sentido para isso tudo. Tento entender o que Deus quer, tento buscar forças não sei para onde andar, nem sei qual a direção em que posso encontra-me novamente com minha fé, e quem sabe assim perceber que o momento para estar de volta aos braços de Rafael vai se aproximar definitivamente.

Neste período de revolta e inconformismo começamos a negar ate o que tínhamos certeza, começamos a duvidar sobre nosso destino, sobre como será o reencontro, e se não tiver reencontro? E se, se, se, se?

Eu sinto o meu gás acabando, meu barco virando, meus sonhos frustando-se, meus desejos desmoronando e não tenho perspectiva de ver nada disso passar. Então neste motim eu tenho duas saídas, continuar na revolta ou me aliar ao que me domina, e apesar da dor e de todo sofrimento querer me algemar na tristeza, meu domínio é de Deus, é a Ele que tenho gritado, e com Ele que quero sair desta batalha.


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