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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

QUANDO VOCÊ SE PERDE EM VOCÊ, COMO SE ENCONTRA?

Acho que o grande problema disso tudo, é que de fato eu não sei quem eu sou. Hoje eu não sei do que gosto, o quero ter na geladeira, o que pessoas sozinhas fazem quando perdem tudo e precisam de novo delimitar seu espaço, sua vida, suas coisas, seus projetos, sei lá.

Eu tenho dúvidas sobre o que colocar no carrinho do supermercado, as vezes acho que é medo, medo de trazer as coisas que Rafa gostava e não dar conta de comer, outras é que nem sei se eu comprava porque eu gostava ou porque era comodo gostar do que ele gostava, e agora nem faz muito sentido fazer só para mim.

Coisas que antes era tao natural fazermos juntos e hoje é anormal, mas imprescindível que eu continue fazendo.  Eu ainda não comprei pão, não pedi água mineral me identificando para o mesmo entregador, não fui ao cinema, nem na orla, nem andei por onde andava com ele, eu simplesmente não me encontro nestes lugares e por mais comuns e casuais que pareçam a mim, é como se eu nunca estivesse lá.

Eu queria conseguir ler, qualquer coisa que não fosse a revista de noticiário semanal enquanto uso o banheiro, e que leio de forma bem displicente a ponto de nem sempre lembrar qual era a reportagem da capa, queria escrever com a facilidade que escrevia antes, a cada dia a dor e a perda fica mais difícil de ser expressa, é como se as pessoas se cansassem de me ver usando as camisas com fotos dele e chorando ainda a sua partida.  É como se fosse tão normal e comum para mim sentir esse buraco que escrever sobre ele é um esforço inútil, bastam me olhar, porque se não enxergam essa fenda em minha vida, simplesmente não me vêem.  As vezes até eu acho que não me enxergo também, acho que eu me perdi dentro de mim.

Desaprendi sobre cores que gosto, hoje sou do cinza. Desaprendi sobre sapatos, roupas e bolsas, podem ser os mesmos todos os dias, desde que não falte os celulares e a carteira de Rafa em minha bolsa e uma camiseta com a foto dele estampada, e o relógio no meu pulso e quinhentas vezes passando a mão sobre a tatuagem e reafirmando para mim mesma, por onde for quero ser seu par.

Sinto que no meu devaneio muito do que eu era se perdeu, foi uma ideia construida nao sei a partir de que, e muito do que eu sou verdadeiramente eu ainda nao descobri.  Só sei que fica muito difícil ouvir de pessoas que conheceram seu filho há 04 meses te afirmarem, pelo tamanho do amor que sentiam, que junto com a partida deles, veio a decepção de não ser avós de filhos dele, e que se  tiverem um neto o nome seria Rafael.  Quando eu ouço coisas assim sobre Rafa, fico mais perdida porque o rombo de minha dor fica maior, sabe, e eu? Mais perdida, como andar sem uma pessoa que conquista a ponto de fazer pessoas em tao pouco tempo, ter sonho de vida inteira.

Hoje, pela primeira vez sai de casa a tarde sem destino. Precisa sair para não pirar, para nao enlouquecer de dor, de chorar, de sentir pena de mim mesma, de sentir pena de todo mundo que tem sofrido essa falta que ele faz.  Assim que cheguei em cassa, já a noite, um grupo veio me presentear com louvores, tocados no violão de Rafa. Percebo o amor de Deus, e quanto mais Ele me mostra que me ama, mais perdida me sinto, porque me pergunto se Ele não poderia me ensinar o que Ele pretende me ensinar de outra forma? Se meu filho não poderia ter sido poupado?

Nestas indagações eu me perco mais ainda e não descobri onde nem como me encontrar, meu farol apagou...Rafa era meu GPS, minha direção, ouvi-lo era um sinal para voltar ao trajeto quando eu me desviava. Hoje, tenho certeza que estou fora das pistas e nem sei em que direção devo ir.  Lembrei de uma musica que ele cantava muito bem no violão, uma musica que eu amava, e que no meio ele sempre aumentava o tom e eu desafinava por demais....hoje ela é o retrato de mim.

Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim


Meu coração, sem direção
Voando só por voar
Sem saber onde chegar
Sonhando em te encontrar
E as estrelas
Que hoje eu descobri
No seu olhar
As estrelas vão me guiar
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração
Hoje eu sei, eu te amei
No vento de um temporal
Mas fui mais, muito além
Do tempo do vendaval
Nos desejos
Num beijo
Que eu jamais provei igual
E as estrelas dão um sinal
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração




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