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quarta-feira, 29 de junho de 2011

TENHO SAUDADES DE NOSSAS FOGUEIRAS, HOJE ELAS AQUECEM MEU CORAÇAO

Em várias oportunidades falei de minha família e em uma delas de como meus pais eram festeiros.  Nossos festejos juninos eram grandiosos. Para quem não é nordestino não faz ideia do que seja a referencia deste mês para o costume, a economia, o comportamento e a alegria deste povo tao especial, do qual agradeço fazer parte.

Meu pai nasceu no dia 30/06, mas cresci comemorando com uma fogueira gigantesca o aniversario dele, que começava dia 29 e se arrastava ate as 24 horas depois, as vezes ate 48 horas depois.  Minha casa repleta de amigos, aqueles fieis da mocidade de meu pai, agora todos com família e filhos que nos tratavam como primos.  É triste reconhecer que com a partida de meu pai, os amigos também se vão. Mas este é um capítulo a parte.

Durante esses festejos, meu pai nos enchia de fogos.  Era tudo muito especial, o planejamento da festa, a fogueira que vinha com a madeira escolhida da fazenda, os troncos mais grossos e resistentes da caatinga, a comida, especialidade da minha mãe, a musica muito bem escolhida...e os fogos.  Nesta época só eu e meu irmão mais velho. Confesso que eu era desafiada a cada ano, pois ele não sabia economizar nos fogos, e a quantidade que deveria ser gasta em todos os dias ele usava num dia só aí sobrava pra mim, obrigada a fazer nova divisão. Um dia pôs fogo no meu saco inteiro de fogos, por pouco não causou um incêndio.  Mas apesar das desavenças amávamos ir comprar os fogos com meu pai. Eu com os foguinhos de mulher, nunca tive coragem para soltou fogos de alto impacto ou de grande estouro, já meu irmão, era o orgulho da casa, até que estourou um foguete de ponta cabeça e fez aquele estrago, mas nada sério.

Tudo isso, essa festa grande, acabou junto com meu pai. Por muitos anos, forró, fogos, festas, etc. foram riscadas do nosso calendário.  Lembro de minha mãe andando pelas ruas da cidade, buscando uma fogueira com uma família na porta, ela pedia autorização, puxava uma brasa e nós soltávamos os nossos fogos, ela ficava preocupada em diminuir a tristeza daquele período e a ensinar ao meu irmão mais novo que não se tinha só tristeza durante aqueles dias. Sei que era uma besteira, meia horinha de fogos para três crianças, tudo bem eu já adolescente, mas fazia aqueles dias passarem mais rápido, fazia com que nos sentíssemos menos anormais porque não tínhamos mais festa, fogueira, casa com gente (porque as pessoas somem mesmo) e meu pai.

Rafael chegou,  minha irmã também veio um pouco antes. E com eles a vontade de termos de novo fogueira, milho na brasa, comida, família, musica, festa, congressamento e claro os fogos.  No inicio, Rafa descobriu os festejos na casa dos avós paternos, mas depois, continuamos buscando as fogueiras dos outros e puxando as brasas para que os pequenos soltassem seus fogos, até que tivemos de volta, por vários anos, a nossa fogueira.

Lembro de uma fogueira no Saco, quase perfeita se não fossem os gritos, mas hoje isso não faz a menor importância.  Lembro de tantos outros onde você me ensinava a dançar uma nova musica, onde você soltava meus fogos, onde você começou a ser o orgulho da casa, obviamente que com prevenção,  luvas, mascaras, etc.  Os meninos, seus tios, tinham ficado velhos para a tarefa, viraram consultores e seu avô era daqueles que ficava feliz em ver a felicidade dos outros, lhe proporcionaram aquilo que eu não tinha coragem os fogos mais banbanban.  Mas a essa altura ia com você, comprava os seus fogos junto contigo, como era difícil escolher filho, porque você tinha limites e sabia que eu não cederia.  Nunca tivemos problema com isso. Tao diferente de minha infância e as brigas com meu irmão. Você, parecia gente grande entendendo limites.

Vieram as noites renovadas, a mudança de foco, mas sempre que podíamos, estávamos nos congressando em família, ríamos juntos, resenhávamos e mesmo não comprando mais seus fogos, porque mudamos o sentido, vibrava vendo você ajudando os outros,  ajudando as crianças e soltando os fogos que seu avô comprava.

Filho tenho saudades de nossas fogueiras, as que pegávamos emprestado, as da casa de sua avó na  Dom Bosco, as da casa da Luzia, as do Saco. Hoje elas aquecem meu coração. Tenho saudades de seu jeitinho ajudando e tomando conta das outras pessoas ensinando e cuidando para que não se queimassem, tenho saudades de você rindo quando o estrondo era muito alto, tenho saudades de você resenhando quando tomávamos um susto com as bombas.

Hoje sonhei acordada que comprava fogos de artificio para você, sonhei em ver o seu sorriso mas você nao estava lá para receber.  

Agora escuto lá fora, na ultima noite da festa junina daqui, as músicas embalando uma multidão. Ouço um carro passando tocando Rojão Diferente, sem você...que dor ouvir. Nos meus ouvidos a sanfona continua chorando desafinada por sua partida e  o meu coração foi arrombado, pela explosão de uma bomba nova, não se vende no mercado, versão exclusiva e limitada, entregue só para aqueles que te amavam, semelhante a uma explosão de dinamite, seu nome: saudade.


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