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terça-feira, 21 de junho de 2011

O VALOR DO SE

Não sei se isso acontece com você, mas ultimamente tenho enchido minha vida de ses. Se eu tivesse feito. Se eu tivesse dito. Se eu tivesse calado. Se eu tivesse corrido, parado. Se e tivesse, se eu não tivesse, se, se, se,...

Fico me perguntando uma infinidade de ses desde aquele dia 23/05/2011.  Sei que ficar imaginando um monte de coisas que de fato nao aconteceram, ou mudar a ordem dos fatos, ou não trazê-los ao mundo da realidade, nos faz andar na mundo da fantasia, num mundo onde nao gostariamos de assumir a realidade, ou por medo dela, ou por não suportá-la.

Naquele fim de semana, tudo aconteceu de forma diferente ao que de costume acontece em minha familia.  Tinha um acordo em casa, por conta de minah inumeras viagens dantes ocorridas, quando eu viajava, nos tinhamso que ficar juntos no fim de semana que antecedia e que decorria da viagem.  Fiquei fora no periodo de 16 a 20 de maio.  No fim de semana anterior fiquei com Rafael, todo o tempo, almoçamos juntos e durante aquela semana, falava com ele todos os dias pelo menos unas 4 vezes por dia.  Eu nunca tinha agido assim, e se eu não tivesse feito isso?

Cheguei na sexta madrugada, ele estava dormindo, fui ao quarto dele e o beijei, e se eu nao tivesse feito isso? No sábado ao acordá-lo para o colégio, ele pediu para nao ir, ele não esteve bem na quinta-feira, e eu nunca o deixei sem ir ao colegio, mas se eu nao tivesse deixado?

Antes de sair de casa, para ir para um curso de espanhol, ja da cozinha voltei para beija-lo, pois ele havia voltado para dormir...e se eu nao tivesse voltado? Aquele foi meu ultimo beijo.  Quando eu cheguei no curso Rafa me ligou pedindo para ir para o saco com o avô.  Era um fim de semana posterior a minha viagem, ele sabia que eu nao deixaria, ele não insistiu. Eu deixei, sem ter duvidas, sem medo, rancor, deixei numa boa. E se eu não tivesse deixado?

Falei com ele por telefone no sabado ainda a noite e no domingo 04 vezes. E se eu não tivesse ligado? Abençoei, disse que amava, perguntei se chovia o que ele tinha feito e o que estava fazendo. 

São muitos ses que as vezes consolam e outras culpam. São ses que nos sao impostos por nossas mentes e corações pelo inconformismo da realidade que nos traça lentamente.  Mas o mais importante é que Se Deus quisesse a mesma coisa que a gente, eu ainda o teria nos braços.

Penso sim em prevençao, em limites, e me encho dos ses.  Se Rafa nao tivesse passado mal, se não tivesse tido crise alergica, se não tivesse acesso a motos, se tivesse nos ligado e pedido ajuda, se tivesse pedido ajuda a alguem de lá da Praia do Saco, se tivesse usado o capacete, se a fiscalização tivesse funcionado e intercepetado os menores ainda na ida para Estancia, se o médico e o hospital nao tivesse liberado o menor desacompanhado de responsaveis após atendimento e internamento hospitalar na urgencia, se no retorno a mesma fiscalização tivesse mais uma vez agido e multasse os menores e os recolhessem até a chegada dos pais, se não tivesse animais na pista e pessoas trafegando alcoolizadas...muitos ses, nenhum deles se concretizou. 

Rafael decidiu ir para Estância, com a ajuda de um amigo, outro Rafael muito especial. Rafael nao pediu ajuda de nenhum dos pais ou parentes. Rafael, apesar da secura em dirigir, nao pilotou aquela moto, foi, passando mal, na garupa, no vento, na chuva, cansando, buscando ar, comprar remedio e na estrada piorou a ponto de ficar internado no Hospital Regional daquele municipio. Rafael, nao foi ver ou fazer nada em Estancia,que não buscar ajuda, senão, iria ele mesmo pilotando a moto, teria dado prioridade a isso antes de se cuidar além de ter tido o sabado e o domingo todo para fazê-lo.  Saindo de Estancia Rafael pediu emprestado uma bombinha, o aerosol, uma jaqueta (pois a que ele estava usando estava encharcada da chuva) e um capacete. E se ele tivesse obtido todas essas coisas? Mas um monte de ses sem surtir o efeito de trazê-los.

Naquele fim de semana, Rafael foi o Rafael dos amigos, da familia.  Passou todo tempo com os amigos do Saco, com Tico, com o avô, de casa em casa, conversando, comendo, num lugar que ele amava...ele dizia: quer me encontrar, venha para cá.  Assim era o Saco para Rafael.

Apesar de todos esses ses povoarem minha mente e em muitas vezes me acusarem, eu me atrevo a pensar em outros ses...E se a historia de Rafael fosse esta mesmo? Fosse mesmo assim, contada desse jeito: 17 anos, cheio de vida, de sonhos, de um coração enorme, de simplicidade, de generosidade, de companheirismo, de insistencia, de luta, de independencia, de alegria, de musica, de amigos, de familia, de amor, de paixao, de sorrisos, de carinho, de brincadeiras, de zuar muito, de respeito, de educação e, obviamente, de Deus....

Falando em Deus, e se Deus deixasse ele mais um pouquinho aqui conosco? Este era o único se que valia a pena.

Fiz para voce Rafa, agora:
Se eu nao tivesse te gerado,
sem sentido teria vivido.
Se eu nao tivesse sido conquistada pelo seu sorriso,
nao saberia o que era a alegria indizivel de te ver feliz.
Se eu nao tivesse aprendido com voce,
nao saberia explicar valores como generosidade e companheirismo.
Se eu nao tivesse visto sua vida tao de perto
nao entederia o que renunciar os proprios somhos para sonhar com os outros.
Se eu nao tivesse te amado e sido preenchida pelo seu amor
seria um ser humano vazio
Se eu nao tivesse te perdido para o PAI
não seria mais nada.
Se eu pudesse pedir só mais uma coisa para Ele
é que eu possa sentir que você está feliz e que logo nos encontraremos.

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