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sexta-feira, 3 de junho de 2011

A PIOR PARTE DA PERDA

Não sou do tipo de pessoa que perco as coisas. Não perco objetos, sempre acabo lembrando onde os deixei ou os escondi. Não perco dinheiro, aliás, até os encontro vez em quando no fundo de alguma bolsa...mania de ter várias. Não perco brincos ou bijus, papéis e documentos, tampouco compromissos importantes ou oportunidades que me dão ou que as faço.  

Ah! Para não passar a imagem de muito certinha, eventualmente, perco o horário ao acordar, para estar ao trabalho a postos as 7 da manha. Quando adolescente jogava, volei e arrisquei algumas partidas de basquete...lembro com angustia do dia que ganhando de 14 x 0, disputando medalha, quando o set era apenas de 15 pontos, sem o tie break, e deixamos o outro time ganhar. Até hoje é difícil engolir...foi uma dificuldade matricular meu Xeberel naquela escola que havia conquistado a medalha no lugar da minha equipe.

Perdi alguns namorados...mas eu que acabava o namoro (sempre imaginava que eles que  me perdiam).

Também jogava cartas com meu pai, exímio jogador e perito em outras coisas em que eu era sua fã, e obviamente eu perdia, mas também tinha um aprendizado entanto. Jogava sabendo que ia perder mas me aperfeiçoava para ganhá-lo futuramente, o estudava e observava suas estratégias, e pude conquistar a vitória algumas raras vezes, o que me permitia comemorar amplamente durante meses a fio. 


Ah! Também mudei de time aos oito para nove anos, pois o time que ele amava era freguês do time que conquistou meu coração, porque sabia ganhar. 


Mas meu pai não me ensinou a perder gente. Não tive aula teórica a respeito. Ele não teve tempo de me ensinar as táticas de ataque ou de defesa.

Eu o perdi...e ontem mesmo, passados  quase 26 anos de tê-lo perdido, ouvi uma analogia a respeito da perda que resumidamente comparava a dor da perda a um buraco que fica no nosso peito e que nenhum caçambeiro consegue tapar.

Intrigante, no ano subseqüente a perda de meu pai, perdi avô e tio. Troquei de colégio,  mudei de casa, fiz novos amigos, ano mais tarde, me apaixonei, anos depois namorei, noivei, casei e fui mãe. Não perdi nada mais.  Eduquei meu filho para as perdas, como reagir sem pai ou mãe, como se virar, como ser independente, como lidar com as emoções, ensinei na pratica o que era perder. Me separei, e ele perdeu o convívio com o pai. Me mudei algumas vezes e ele perdeu o espaço definido, ate que reconduzi nossas vidas a não ter perdas, a equilibrar, afinal ele já tinha a teoria e já estava ficando expert na prática.

Nos últimos anos ele perdeu prima e tia querida, nos últimos meses ele perdeu um amigo, estava perdendo um amor. E eu, assistindo a tudo, aconselhando-o e confortando-o... não sabia que eu ia perder o chão, o perdi.

Hoje, nada do que ensinei ou teorizei ou experienciei me dá know how  sobre perdas.

A pior parte da perda, é saber que nada que faça, diga, sinta, reivindique, clame ou implore trará de volta. Perder você Rafa, foi anular aquilo de mais concreto que eu tinha, eu me perdi, porque você era parte de mim.

Perder você, filho,  me faz me sentir perdida  nesse vazio, no meu vazio.

Um comentário:

  1. Ah! amiga, como dói também meu coração ao imaginar essa dor...

    " Quando perdemos alguém tão precioso, ninguém sabe de verdade tudo que sentimos. No entanto devemos acreditar na vida eterna"
    deconheço o autor

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