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quinta-feira, 16 de junho de 2011

TEMOS QUE TER UM PLANO D.

Eu desconheço ao longo dos meus 38 anos de vida, dos 17 profissionais e dos 10 de consultório psicológico alguém que tenha planejado como seria a sua vida após a morte de A ou de B, sem que esse A ou B tivesse num processo evolutivo de doença com sérios riscos de morte.  Desconheço, uma esposa, esposo, filho, avô, tio, pai ou mãe que do nada comece a planejar que se A ou B falecesse venderíamos a casa, trocaríamos de carro, daríamos os objetos pessoais, distribuiríamos alguns com parentes próximos, etc.  E depois planejasse o que faria com sua própria vida.  Tipo, se sairia do emprego, se trocaria de função se pararia de trabalhar, se mudaria de bairro ou cidade, se nao faria nada, apenas ficaria todo o resto de sua vida na cama, sei lá.  Acho que ninguém consegue agir assim e se considerar normal,acho que não.

Naturalmente tenho dificuldade de planejar coisas a longo prazo, mas mesmo as coisas corriqueiras do dia a dia que precisam ser planejadas necessitam de expressar um motivo para que eu as faça.  Exemplo, eu só faço lista de supermercado porque sem elas eu costumo gastar muito mais do que é necessário. Eu planejo o trabalho para não ficar sobrecarregada e para que a execução das tarefas e a qualidade do resultado não sejam comprometidas. Aprendi que economizamos muito quando planejamos, economizamos energia, tempo, dinheiro, etc. Mas também aprendi que muitas coisas que planejamos sai do nosso controle e para isso temos sempre um plano B, aquele que se adequa a nova realidade.

Planejei que não teria filhos, que estudaria, que ganharia a vida estudando e viajaria o mundo por isso. Engravidei, sem planejamento, aos 20 anos, fui mãe aos 21, estudei e não sai de Aracaju, mesmo quando tive convites para tanto.

Também planejei que não casaria, e se isso acontecesse de que seria uma só vez e que era para sempre. Bom, me casei, com Rafa já encomendado,  e o meu para sempre só durou 07 anos e 04 meses. E também investi na segunda tentativa do para sempre.

Mas imagina que meu planejamento parou por aí? De forma alguma. Passei num concurso com 21 anos e dizia que passaria uma chuva lá. Tenho 17 anos no mesmo lugar, dos quais 14 no mesmo setor. E fiz tantos outros planejamentos nesta área profissional, sendo que todos, ou quase todos, foram objetos de  adaptação aos planos B, C.D, E...Z.

Percebo que em todas as áreas de minha vida, alterar  o plano só exigia de mim outras habilidades e aptidões, revelando muitas surpresas, algumas decepções e frustrações, mas em todas as situações anteriores, eu conseguia andar, eu enxergava alguma coisa no final de tudo. Só que desta vez é diferente. Não enxergo a saída. Não sei como podemos ter planos, ou nos planejar quando perdemos alguém que amamos. 


Ouvi hoje um música que eu nao conhecia, cujo título é Jesus, Meu Deus Humano, e numa parte da letra da música o compositor fala que vai tentando achar o rumo por aqui.  Pesquisei a letra, parece que foi uma homenagem de um amigo para o outro. Amigos mais que irmãos, parceiros de estrada, de sonhos, de ideais e de fé, mas que com  a partida de um, a caminhada se tornou difícil para o outro.  Conforme o blog  http://blogpefabiodemelo.blogspot.com/2009/11/letra-jesus-meu-deus-humano.html a música foi uma homenagem do Pe. Fabio de Melo para o Pe. Leo.  O meu sentimento, a minha dor, hoje podem ser ninados por esta música:

Não, eu não vi a sua cura se cumprir
Eu não vi o seu milagre acontecer
Nada que eu pedi a Deus aconteceu
É... Vou tentando achar o rumo por aqui
Vou reaprendendo ser sem ter você
Descobrindo em mim o que você deixou
Grito seu nome
Desejoso de resposta
Quando vejo a mesa posta
E seu lugar sem ter ninguém
Mas nessa ausência
Sei que existe outra presença
Uma força que sustenta
E que me faz permanecer... de pé
É Jesus, meu Deus humano
Meu Deus humano
Que conhece a dor de ver partir a quem se ama
Que chorou de saudade
Que sofreu por seus amigos
E que esteve ao meu lado
Quando eu vi você partir
É Jesus, meu Deus humano
Meu Deus humano
Que conhece a dor de ver partir a quem se ama
Que chorou de saudade
Que sofreu por seus amigos
E que não me abandona
Quando eu não sei compreender
Por que você partiu
Por que você se foi
E porque o milagre não se deu como eu pedi
Não, eu não vou perder a fé nem desistir
Foi você que me ensinou antes de ir
Vou vivendo assim, conhecendo o coração
Que você fez pulsar em mim

Quando eu ouço essa música, fico me detendo ao plano B que hoje tenho que abraçar, pois planejei mal, não contava com o planejamento do Senhor. 

Planejei para esses próximos anos ver o resultado do vestibular de Rafael, um deles saiu hoje, na mesma faculdade que ele foi aprovado ano passado, planejei raspar seu cabelo em comemoração; planejei alegrar-me com seu primeiro carro sendo a primeira pessoa a andar com ele; planejei entrar com ele em uma das solenidades da sua formatura; planejei ser incentivadora dos concursos que prestaria e estar ao seu lado lendo o Diário Oficial da União com o seu nome na lista de aprovados; planejava receber seus amigos de infância em casa, após uma noite abençoada; planejei  vê-lo integrado a uma igreja e trabalhando para o Senhor; planejei levá-lo ao altar para constituir sua própria família; sonhei tomando meus netos no colo e ficando com eles quando eles precisassem viajar ou sair a noite para se divertir, planejei ainda curtir muito Rafael e o melhor, curtir com Rafael e aí sim planejei olhar para trás e ver que o resultado foi muito melhor do que o meu planejamento.

Mas nada disso aconteceu, e eu nao tenho um plano B. Aliás, nem quero um plano B.

Meu Pai, só o Senhor pode ser meu plano D (Deus). Eu sei que preciso de um plano, Deus. De um plano de Deus.

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