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terça-feira, 7 de junho de 2011

NÃO MUDEI AS COISAS DE LUGAR

Sabe quando a gente faz uma arrumação diferente, daquelas que consegue abrir espaço nos armários, que o cheiro das roupas e objetos fica outro, que depois de muitos anos pegando ou guardando determinada coisa no mesmo lugar e você, após uma arrumação destas, troca de lugar e volta e meia procura o ambiente anterior e não acho o que quer? Você já fez isso alguma vez?  Eu faço quase sempre.

É comum em minhas arrumações me livrar de um monte de coisas que acabo doando, é muito comum trocar as roupas das partes do guarda-roupa, também vivo trocando a ordem dos cabides, ou a ordem dos sapatos na sapateira, ou das bolsas no armário. Quando estou inspirada, mexo até no porta-malas e rearrumo os lençóis e conjuntos de roupa de cama.

Coisa é quando cismo de arrumar as bijus. E troco os colares e pulseiras das gavetas comuns. E de repente, as seis e meia da manha, num horário que geralmente não costumo raciocinar com rapidez, na hora de sair para o trabalho, não acho o que procuro, não estava mais na gaveta que eu sempre pegava. Acabo usando outra coisa até que eu consiga decorar novamente onde eu havia colocado.

Não sou de trocar os moveis de lugar, mas troco todos os acessórios da casa. Troco os arranjos pelo menos uma vez por ano, ano e meio, troco as almofadas do sofá, troco os enfeites, gosto de tudo combinando. Chegava no fim do ano, a árvore de Natal (sim, eu armo árvore e amo o Natal e e Rafa também curtia muito) tinha que combinar com toda a decoração e escolhia a cor dos enfeites da árvore depois de uma enquete com Rafa, que definia a cor e me ajudava a escolher os enfeites nas lojas. Amávamos essa parceria.

Engraçado. Ele também não era de trocar as coisas de lugar, falo dos móveis.  E arrumar as gavetas e mantê-las arrumada, não era uma coisa natural. Ele bagunçava e eu ia barganhando a arrumação do quarto com as saídas ao Saco, a casa de Tico, viagem com Gui, churrasco dos amigos ou  alguma festa.

Nos primeiros dias de maio, cheguei em casa de Salvador, depois de dois dias de trabalho, e fiquei surpresa: Rafa tinha feito uma revolução no quarto. As gavetas estavam impecavelmente arrumadas, a cama em outra posição, algumas unidades de saco de uns 60 litros estavam abarrotados de fios, papéis inutilizados, destroços de brinquedos e embalagens de comida (cheetos, batatinhas, garrafa pet de refrigerante vazio, sacos vazios que envolviam sanduíches). Perguntei o que foi, e ele me respondeu: "nada mãe, tive vontade de arrumar, para não lhe dar trabalho depois" . Eu ri sem entender nada, entrei em meu quarto,  tomei banho, ele perguntou se eu queria comer, e depois eu fui ajudá-lo, peguei um jogo de lençol limpo, e a vassoura para varrer o quarto.  Ele não queria ajuda, mandava eu ir deitar porque estava cansada e tínhamos perdido um grande amigo, que me abalou profundamente, e ele sabia o quanto eu estava triste.  Ajudei no que ele permitiu depois fui para cama e o deixei arrumando as gavetas como ele queria.

No outro dia quando o acordei para ir ao colégio, no painel de fotos do quarto dele, que estava vazio, ou melhor com duas fotos (ele bebê e o pai em idade escolar), aparece uma foto em que estamos juntos, eu e ele, e sorri comentando sobre a foto. Em seguida perguntei onde ele conseguiu, pois eu não a tinha revelado ainda, ele disse que Licia, minha irmã, tinha dado a ele, o beijei e saímos. Deixei-o no colégio, e lá na porta a mesma despedida de sempre.

Ele deixou tudo tão organizado, as gavetas quase vazias sem papéis, ou fios de aparelhagem do som, sem bagunça, as coisas à mão, as nossas ferramentas (guardadas na gaveta do seu quarto) arrumadas, até a minha tesoura do escritório que  dava um trabalho para achar e ele sempre usava, deixou no lugar. 

Uns 20 dias depois, meu filho fez a viagem de volta a casa do meu Pai, o Todo Poderoso.  

Hoje me sinto como quando arrumava as minhas gavetas. Entro no quarto dele, e não o acho. Fico perdida, com vontade de entrar em todos os cômodos o procurando. A diferença é que com as coisas e objetos, ou eu os trocava novamente para o lugar anterior ou me acostumava com a nova organização. Com ele, meu Rafa, as vezes quero sumir daqui de casa, as vezes até do mundo. Tudo me faz lembrá-lo em todos os cômodos, mas não o acho, não o vejo, não o sinto mais. 

Não vou me acostumar com a nova ordem, afinal, eu não mudei as coisas de lugar, e acho que ele as mudou em seu quarto para diminuir  meu desconsolo, porque até lá, no quarto dele, eu não havia me acostumado com a mudança, também acho que não devemos nos acostumar com o que não é bom...isso verdadeiramente não é bom, mudaram minhas coisas de lugar, alteraram todo o propósito da minha vida, e eu não posso fazer nada para voltar ao que era antes, para tê-lo no mesmo lugar, para estar em seus braços...o meu lugar.

Como tem sido difícil entender que eu não tenho o controle sobre as coisas da minha vida e da de Rafa, nem ninguém tem. Nós pertencemos a Deus e a Ele pertence o querer e o realizar. Ele mudou as coisas de lugar, e as promessas Dele me garantem que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que O amam. Eu e Rafael Te amamos Senhor!



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